Estamos atravessando um período em que a economia dirigida vem sendo vitoriosamente adotada como a maneira mais prática e mais eficiente de serem atendidos os interesses econômicos, que não podem e não devem ficar sujeitos às vicissitudes e percalços de situações possivelmente graves, afetando de forma indesejável os verdadeiros e superiores interesses do país.

(Circular da FIESP, março de 1937.)

O texto mostra o empresariado paulista

desacreditando, naquela conjuntura, do automatismo do mercado, a fim de garantir o crescimento da economia e, conseqüentemente, de seus lucros.

aferrado, como sempre, aos princípios do mais puro libe- ralismo, na sua relação com o governo, de um lado, e os trabalhadores, de outro.

descompassado, naquela conjuntura, com a política econômica keynesiana, vigente na maioria dos países capitalistas.

afinado, como sempre, com a política econômica norte- americana, de acordo com o lema “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

apoiando, como sempre fizera antes e continuaria a fazer depois, a política econômica nacionalista de Getúlio Vargas.

Gabarito comentado

Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: A

Tema central: trata-se da relação entre o empresariado paulista (FIESP) e a economia de mercado durante a década de 1930. A passagem revela adesão à economia dirigida como forma de proteger interesses econômicos frente às incertezas do mercado.

Resumo teórico: a década de 1930 no Brasil marcou transição do predomínio do café para um processo de industrialização e maior intervenção estatal (v.g. programas e práticas do governo de Getúlio Vargas). O conceito de economia dirigida refere‑se ao papel ativo do Estado na regulação, planejamento e proteção de setores econômicos — contrário ao automatismo liberal do mercado. Fontes úteis: Boris Fausto, História do Brasil; Thomas Skidmore, Brazil: Five Centuries of Change.

Justificativa da alternativa A: o enunciado fala em “economia dirigida” sendo “vitoriosamente adotada” para atender interesses econômicos que não podem ficar sujeitos às “vicissitudes” do mercado. Isso indica claramente que o empresariado paulista estava descrente do automatismo do mercado e aceitava a intervenção estatal para garantir crescimento e lucros — exatamente o sentido da alternativa A.

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta: o texto não expressa defesa do liberalismo puro; ao contrário, apoia intervenção estatal.

C — incorreta: confunde contexto. A política keynesiana generalizada só se consolida após a II Guerra; o trecho não critica o keynesianismo nem faz comparação desse tipo.

D — incorreta: não há referência a alinhamento com a política econômica dos EUA. O foco é nacional: proteger interesses econômicos locais via intervenção.

E — incorreta: embora o empresariado tenha, em ocasiões, apoiado medidas de Vargas, a alternativa afirma que isso ocorreu “como sempre”, o que simplifica e erra historicamente. O que o trecho revela é adesão pragmática à economia dirigida para salvaguardar lucros — ponto melhor capturado por A.

Dica de interpretação: ao ver expressões como “economia dirigida” e “vicissitudes do mercado”, procure palavras-chave que indiquem preferência por intervenção estatal vs. confiança no mercado. Desconfie de alternativas com termos absolutos (“como sempre”) ou que tragam anacronismos (p.ex. keynesianismo generalizado em 1937).

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