Sobre os dois textos, é correto afirmar:
Coisas que este livro fará por você: facilitar-lhe-á fazer amigos rápida e facilmente; aumentará sua popularidade; ajuda-lo-á a conquistar pessoas para seu modo de pensar; aumentará sua influência, seu prestígio, sua habilidade em obter a realização das coisas; facilitar-lhe-á conseguir novos clientes, novos fregueses; aumentará suas rendas; torna-lo-á um melhor vendedor, um melhor diretor; ajudá-lo-á a resolver reclamações, evitar discussões e manter seus contatos humanos agradáveis e suaves; tornalo-á um melhor orador, um conversador mais atraente; tornará os princípios de psicologia fáceis para que você os aplique nos seus contatos diários. (Dale Carnegie. Como fazer amigos e influenciar pessoas, 1936.)
Se alguma coisa há que esta vida tem para nós, e, salvo a mesma vida, tenhamos que agradecer aos Deuses, é o dom de nos desconhecermos: de nos desconhecermos a nós mesmos e de nos desconhecermos uns aos outros. A alma humana é um abismo obscuro e viscoso, um poço que não se usa na superfície do mundo. Ninguém se amaria a si mesmo se deveras se conhecesse, e assim, não havendo a vaidade, que é o sangue da vida espiritual, morreríamos na alma de anemia. Ninguém conhece outro, e ainda bem que o não conhece, e, se o conhecesse, conheceria nele, ainda que mãe, mulher ou filho, o íntimo, metafísico inimigo.
(Fernando Pessoa. Livro do desassossego, 1931.)
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa A
Tema central: análise comparativa de dois textos sobre relações humanas — um prescritivo e instrumental (Dale Carnegie) e outro reflexivo e desconfiado sobre o autoconhecimento (Fernando Pessoa). Para responder, identifique propósito, tom e efeitos buscados em cada texto.
Resumo teórico progressivo: Visão instrumental = enfoque nas relações como meios para fins (popularidade, influência, ganhos): linguagem prescritiva, orientada a técnicas. Ceticismo/existencialismo = reflexão sobre limites do conhecimento de si/outros e sobre as consequências morais/afetivas desse desconhecimento. Gênero “autoajuda” tende a instruir práticas úteis; já reflexão literária explora dilemas humanos sem intenção prática imediata (ver: Dale Carnegie, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas; Fernando Pessoa, Livro do Desassossego).
Justificativa da alternativa A (correta): O texto de Carnegie oferece uma lista de resultados práticos — “facilitar-lhe-á fazer amigos”, “aumentará sua popularidade”, “ajudá‑lo-á a conquistar pessoas” — claramente instrumentalizando relações humanas como técnicas para atingir fins pessoais e profissionais. Isso caracteriza nitidamente uma visão instrumental das relações.
Análise das alternativas incorretas:
B — Incorreta. Não há ceticismo comum: Carnegie promove aplicação prática da psicologia; Pessoa expressa ceticismo sobre o autoconhecimento. Logo, não ambos transmitiriam ceticismo sobre a importância da psicologia.
C — Incorreta. Carnegie é precursor reconhecível do estilo autoajuda; Pessoa, porém, escreve uma prosa literária introspectiva e não prescritiva. Dizer que ambos são precursores do mesmo estilo confunde gênero e intenção.
D — Incorreta. O trecho pessoano não é edificante; é pessimista sobre o conhecimento de si/ do outro, descrevendo a alma como “abismo obscuro” e vendo a vaidade como “sangue” necessário. Não há celebração das relações.
E — Incorreta. Embora Carnegie trate de habilidades sociais (próximas à ideia moderna de inteligência emocional), Pessoa não valoriza esse tipo de ajuste emocional — ele aponta para incompreensão e hostilidade íntima. Além disso, “inteligência emocional” é um conceito posterior (ver Goleman, 1995) e não é o ponto comum dos dois textos.
Estratégia prática para questões assim: 1) Identifique propósito (prescrever x descrever/refletir). 2) Procure palavras‑chave (promessas, verbos no imperativo/instrutivos vs metáforas, tons melancólicos). 3) Cuidado com enunciados que generalizam sem considerar tom/intenções — é pegadinha comum.
Fontes citadas: Dale Carnegie, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (1936); Fernando Pessoa, Livro do Desassossego (1931); para conceito moderno de inteligência emocional: Daniel Goleman, Emotional Intelligence (1995).
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