Sobre esse texto, é correto afirmar que:
A felicidade, para você, pode ser uma vida casta; para outro, pode ser um casamento monogâmico; para outro ainda, pode ser uma orgia promíscua. Há os que querem simplicidade e os que preferem o luxo. Em matéria de felicidade, os governospodem oferecer as melhores condições possíveis para que cada indivíduo persiga seu projeto. Mas o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades que seus sujeitos procuram. Não é coisa simples. Nosso governo oferece uma isenção fiscal às igrejas, as quais, certamente, são cruciais na procura da felicidade de muitos. Mas as escolas de dança de salão ou os clubes sadomasoquistas também são significativos na busca da felicidade de vários cidadãos. Será que um governo deve favorecer a ideia de felicidade compartilhada pela maioria? Considere: os governos totalitários (laicos ou religiosos) sempre “sabem” qual é a felicidade “certa” para seus sujeitos. Juram que querem o bem dos cidadãos e garantem a felicidade como um direito social – claro, é a mesma felicidade para todos. É isso que você quer?
(Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 10.06.2010. Adaptado.)
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: o excerto defende a neutralidade do Estado perante diferentes concepções de felicidade e enfatiza a autonomia dos indivíduos para perseguirem seus projetos de vida.
Resumo teórico: na filosofia política liberal (p.ex., John Stuart Mill, On Liberty) e na teoria da neutralidade estatal (Rawls, Political Liberalism), o Estado deve criar condições para que as pessoas escolham suas próprias concepções do bem, sem impor um modelo único. No plano jurídico, isso converge com garantias constitucionais de liberdade (p.ex., CF/88, art. 5º sobre liberdade de crença e expressão).
Por que A está correta: o enunciado diz que “o melhor governo é o que não prefere nenhuma das diferentes felicidades” e que o papel do governo é oferecer condições para que cada indivíduo persiga seu projeto. Isso expressa claramente a election of individual autonomy como foco do autor — logo, A é a afirmação compatível com o texto.
Por que as demais alternativas estão erradas:
B — incorreta: afirma que o Estado deve orientar a felicidade por critérios objetivos. O texto critica exatamente essa postura (apontando totalitarismos que impõem uma felicidade “certa”).
C — incorreta: diz que critério moral/religioso é o mais adequado. O autor discute a isenção fiscal das igrejas mas contrapõe com outras formas de busca da felicidade, criticando privilégio religioso.
D — incorreta: sugere que bem-estar não deve ser restrito ao livre arbítrio. No texto, o autor defende o contrário — a liberdade individual para escolher a felicidade — e pede neutralidade estatal.
E — incorreta: afirma que busca da felicidade não deve se subordinar ao relativismo. O autor, porém, reconhece pluralidade de concepções e defende que o Estado não prefira uma sobre outra; logo ele admite a pluralidade (não rejeita o “relativismo” de escolhas).
Dica de prova: procure palavras-chave no enunciado — “não prefere”, “cada indivíduo persiga seu projeto”, “governos totalitários... sabem qual é a felicidade certa”. Elas indicam neutralidade e valorização da autonomia. Evite ser levado por alternativas que apresentem conclusões opostas ao tom crítico do texto.
Fontes sugeridas: J. S. Mill, On Liberty; J. Rawls, Political Liberalism; CF/1988, art. 5º (liberdades individuais).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!
Estatísticas
Aulas sobre o assunto
- •
