Questão 03114d92-de
Prova:CESMAC 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Uma análise do vocabulário em uso no Texto 1 revela que foi frequente o recurso a analogias e comparações, como em: a “falência educacional brasileira” é como um “cupim que rói”; “o “semianalfabetismo” brasileiro é como uma planta “vicejante”; medidas improdutivas são como “tapas no vazio”; “autocomplacência, autodepreciação, ufanismo” é uma “mistura tóxica”; um “idioma que usa declinações” é um “vespeiro”. Na verdade, o recurso a essas analogias:

1) torna as ideias mais próximas das realidades concretas e, assim, mais facilmente perceptíveis.
2) aproxima o texto dos padrões próprios da oralidade menos formal.
3) deixa o texto mais interativo, mais interessante e mais capaz de provocar a adesão do leitor.
4) fere as especificidades de um comentário jornalístico, pois remete para a informalidade.
5) é estranho, pois as metáforas devem se restringir à poesia e a outras produções literárias.

Estão corretas:

    TEXTO 1


Português, a língua mais difícil do mundo? 

Conta outra! . Alguns mitos resistentes rondam como mosquitos chatos a língua portuguesa falada no Brasil. Diante deles, argumentações fundadas em fatos e um mínimo de racionalidade são tão inúteis quanto tapas desferidos às cegas no escuro do quarto em pernilongos zumbidores. Os tapas acertam o vazio, os zumbidos continuam lá.

A lenda de que se fala no estado do Maranhão o português mais “correto” do Brasil é uma dessas balelas aceitas por aí como verdades reveladas – e nem os tristíssimos índices educacionais maranhenses podem fazer nada contra isso. Tapas no vazio.

Outra bobagem de grande prestígio é aquela que sustenta ser o português “a língua mais difícil do mundo”. Baseada, talvez, na dor de cabeça real que acomete estrangeiros confrontados com a arquitetura barroca de nossos verbos, a afirmação é categórica o bastante para dispensar a necessidade de uma prova.

O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a desculpa universal: “Ah, também, como é difícil a porcaria dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses!” Não, claro que isso não quer dizer que o queixoso saiba falar holandês. É justamente na imensa parcela monoglota da população que a crença na dificuldade insuperável da língua portuguesa encontra solo mais fértil.

Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar judiciosamente latim, alemão, húngaro, russo e japonês. Ninguém precisa ter encarado um idioma em que se use declinação – vespeiro do qual a gramática portuguesa nos poupou – para sair deplorando em altos brados o desafio invencível da crase. Não há dúvida de que o mito das agruras superlativas do português diz muito sobre a falência educacional brasileira, cupim que rói as fundações de qualquer projeto de desenvolvimento social que vá além da promoção de um maior acesso da população a shopping centers.

Temo, porém, que suas raízes sejam mais profundas. Percebe-se aí uma mistura tóxica de autocomplacência, autodepreciação, ufanismo, fuga da realidade e desculpa esfarrapada que pode ser ainda mais difícil de derrotar do que nosso vicejante semianalfabetismo.

http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/cronica/portugues-a-lingua-mais-dificil-do-mundo-conta-outra/ 

A
1, 2, 3 apenas
B
1 e 2 apenas.
C
1, 3 e 4 apenas
D
3, 4 e 5 apenas.
E
1, 2, 3, 4 e 5.

Gabarito comentado

R
Rosalina Duarte Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto e figuras de linguagem (metáfora e comparação), aplicadas a um texto opinativo de caráter jornalístico.

Justificativa da alternativa correta:

O texto utiliza analogias (comparações e metáforas) para tornar conceitos abstratos (como “falência educacional” ou “semianalfabetismo”) mais palpáveis, associando-os a imagens concretas do cotidiano (“cupim que rói”, “planta vicejante”). Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, o emprego dessas figuras aproxima as ideias do universo do leitor, facilitando a compreensão e a retenção das mensagens.

Essas figuras também aproximam o texto da oralidade e o tornam mais atraente e interativo, convidando o leitor a pensar de forma crítica. Não há, portanto, quebra de padrão jornalístico por isso, visto que a função do texto opinativo é justamente influenciar, envolver e esclarecer o leitor, como destaca Evanildo Bechara em suas gramáticas.

Por isso, estão corretas as afirmações 1, 2 e 3, logo, a alternativa A (1, 2, 3 apenas) é a resposta certa.

Análise das alternativas incorretas:

Alternativa 4: Incorreta. O uso de figuras de linguagem não “fere” os padrões do comentário jornalístico. Pelo contrário, é usual e legítima essa estratégia para enriquecer o discurso e facilitar a comunicação, como apoiam autores como Fiorin e Bechara.

Alternativa 5: Incorreta. Metáforas não são exclusivas da poesia ou literatura. São recursos fundamentais em qualquer manifestação discursiva, inclusive no jornalismo, para explicar, ilustrar e persuadir (vide gramáticas e manuais de redação jornalística).

Estratégias para resolução:

Em questões de interpretação textual sobre figuras de linguagem, procure:

  • Reconhecer metáforas e comparações e analisar sua função no contexto.
  • Desconfiar de afirmações restritivas sobre o uso de recursos expressivos (por exemplo: “só cabe na poesia”).
  • Verificar se o recurso aproxima ideias abstratas do universo concreto do leitor.

Resumo da regra: As figuras de linguagem ampliam a expressividade nos mais variados gêneros, não sendo restritas à literatura, conforme apontam gramáticos renomados.

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