Uma análise do vocabulário em uso no Texto 1 revela
que foi frequente o recurso a analogias e
comparações, como em: a “falência educacional
brasileira” é como um “cupim que rói”; “o
“semianalfabetismo” brasileiro é como uma planta
“vicejante”; medidas improdutivas são como “tapas no
vazio”; “autocomplacência, autodepreciação, ufanismo”
é uma “mistura tóxica”; um “idioma que usa
declinações” é um “vespeiro”. Na verdade, o recurso a
essas analogias:
1) torna as ideias mais próximas das realidades
concretas e, assim, mais facilmente perceptíveis.
2) aproxima o texto dos padrões próprios da
oralidade menos formal.
3) deixa o texto mais interativo, mais interessante e
mais capaz de provocar a adesão do leitor.
4) fere as especificidades de um comentário
jornalístico, pois remete para a informalidade.
5) é estranho, pois as metáforas devem se restringir
à poesia e a outras produções literárias.
Estão corretas:
1) torna as ideias mais próximas das realidades concretas e, assim, mais facilmente perceptíveis.
2) aproxima o texto dos padrões próprios da oralidade menos formal.
3) deixa o texto mais interativo, mais interessante e mais capaz de provocar a adesão do leitor.
4) fere as especificidades de um comentário jornalístico, pois remete para a informalidade.
5) é estranho, pois as metáforas devem se restringir à poesia e a outras produções literárias.
Estão corretas:
TEXTO 1
Português, a língua mais difícil do
mundo?
Conta outra! .
Alguns mitos resistentes rondam como mosquitos chatos a
língua portuguesa falada no Brasil. Diante deles,
argumentações fundadas em fatos e um mínimo de
racionalidade são tão inúteis quanto tapas desferidos às
cegas no escuro do quarto em pernilongos zumbidores. Os
tapas acertam o vazio, os zumbidos continuam lá.
A lenda de que se fala no estado do Maranhão o português
mais “correto” do Brasil é uma dessas balelas aceitas por aí
como verdades reveladas – e nem os tristíssimos índices
educacionais maranhenses podem fazer nada contra isso.
Tapas no vazio.
Outra bobagem de grande prestígio é aquela que sustenta
ser o português “a língua mais difícil do mundo”. Baseada,
talvez, na dor de cabeça real que acomete estrangeiros
confrontados com a arquitetura barroca de nossos verbos, a
afirmação é categórica o bastante para dispensar a
necessidade de uma prova.
O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a
desculpa universal: “Ah, também, como é difícil a porcaria
dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos
holandeses!” Não, claro que isso não quer dizer que o
queixoso saiba falar holandês. É justamente na imensa
parcela monoglota da população que a crença na
dificuldade insuperável da língua portuguesa encontra solo
mais fértil.
Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar
judiciosamente latim, alemão, húngaro, russo e japonês.
Ninguém precisa ter encarado um idioma em que se use
declinação – vespeiro do qual a gramática portuguesa nos
poupou – para sair deplorando em altos brados o desafio
invencível da crase. Não há dúvida de que o mito das
agruras superlativas do português diz muito sobre a falência
educacional brasileira, cupim que rói as fundações de
qualquer projeto de desenvolvimento social que vá além da
promoção de um maior acesso da população a shopping
centers.
Temo, porém, que suas raízes sejam mais profundas.
Percebe-se aí uma mistura tóxica de autocomplacência,
autodepreciação, ufanismo, fuga da realidade e desculpa
esfarrapada que pode ser ainda mais difícil de derrotar do
que nosso vicejante semianalfabetismo.
http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/cronica/portugues-a-lingua-mais-dificil-do-mundo-conta-outra/
Conta outra! . Alguns mitos resistentes rondam como mosquitos chatos a língua portuguesa falada no Brasil. Diante deles, argumentações fundadas em fatos e um mínimo de racionalidade são tão inúteis quanto tapas desferidos às cegas no escuro do quarto em pernilongos zumbidores. Os tapas acertam o vazio, os zumbidos continuam lá.
A lenda de que se fala no estado do Maranhão o português mais “correto” do Brasil é uma dessas balelas aceitas por aí como verdades reveladas – e nem os tristíssimos índices educacionais maranhenses podem fazer nada contra isso. Tapas no vazio.
Outra bobagem de grande prestígio é aquela que sustenta ser o português “a língua mais difícil do mundo”. Baseada, talvez, na dor de cabeça real que acomete estrangeiros confrontados com a arquitetura barroca de nossos verbos, a afirmação é categórica o bastante para dispensar a necessidade de uma prova.
O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a desculpa universal: “Ah, também, como é difícil a porcaria dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses!” Não, claro que isso não quer dizer que o queixoso saiba falar holandês. É justamente na imensa parcela monoglota da população que a crença na dificuldade insuperável da língua portuguesa encontra solo mais fértil.
Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar judiciosamente latim, alemão, húngaro, russo e japonês. Ninguém precisa ter encarado um idioma em que se use declinação – vespeiro do qual a gramática portuguesa nos poupou – para sair deplorando em altos brados o desafio invencível da crase. Não há dúvida de que o mito das agruras superlativas do português diz muito sobre a falência educacional brasileira, cupim que rói as fundações de qualquer projeto de desenvolvimento social que vá além da promoção de um maior acesso da população a shopping centers.
Temo, porém, que suas raízes sejam mais profundas. Percebe-se aí uma mistura tóxica de autocomplacência, autodepreciação, ufanismo, fuga da realidade e desculpa esfarrapada que pode ser ainda mais difícil de derrotar do que nosso vicejante semianalfabetismo.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto e figuras de linguagem (metáfora e comparação), aplicadas a um texto opinativo de caráter jornalístico.
Justificativa da alternativa correta:
O texto utiliza analogias (comparações e metáforas) para tornar conceitos abstratos (como “falência educacional” ou “semianalfabetismo”) mais palpáveis, associando-os a imagens concretas do cotidiano (“cupim que rói”, “planta vicejante”). Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra, o emprego dessas figuras aproxima as ideias do universo do leitor, facilitando a compreensão e a retenção das mensagens.
Essas figuras também aproximam o texto da oralidade e o tornam mais atraente e interativo, convidando o leitor a pensar de forma crítica. Não há, portanto, quebra de padrão jornalístico por isso, visto que a função do texto opinativo é justamente influenciar, envolver e esclarecer o leitor, como destaca Evanildo Bechara em suas gramáticas.
Por isso, estão corretas as afirmações 1, 2 e 3, logo, a alternativa A (1, 2, 3 apenas) é a resposta certa.
Análise das alternativas incorretas:
Alternativa 4: Incorreta. O uso de figuras de linguagem não “fere” os padrões do comentário jornalístico. Pelo contrário, é usual e legítima essa estratégia para enriquecer o discurso e facilitar a comunicação, como apoiam autores como Fiorin e Bechara.
Alternativa 5: Incorreta. Metáforas não são exclusivas da poesia ou literatura. São recursos fundamentais em qualquer manifestação discursiva, inclusive no jornalismo, para explicar, ilustrar e persuadir (vide gramáticas e manuais de redação jornalística).
Estratégias para resolução:
Em questões de interpretação textual sobre figuras de linguagem, procure:
- Reconhecer metáforas e comparações e analisar sua função no contexto.
- Desconfiar de afirmações restritivas sobre o uso de recursos expressivos (por exemplo: “só cabe na poesia”).
- Verificar se o recurso aproxima ideias abstratas do universo concreto do leitor.
Resumo da regra: As figuras de linguagem ampliam a expressividade nos mais variados gêneros, não sendo restritas à literatura, conforme apontam gramáticos renomados.
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