Questão 0293882d-d5
Prova:CESMAC 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Para manter a estratégia escolhida para seu texto, o segundo parágrafo do fragmento em análise pode ser entendido como:

TEXTO 1


Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’ (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar talhos e salvar essa vida? (...)

Desde que, adulto, comecei a escrever romance, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos de nosso posto.

(Érico Veríssimo. Solo de clarineta. Tomo I. Globo: Porto Alegre. 1978). Fragmento.  

A
um aviso, um esclarecimento.
B
um apelo, uma convocação.
C
uma advertência, uma promessa.
D
uma intimidação, uma chantagem.
E
uma promessa, uma ameaça.

Gabarito comentado

M
Mentor QCTime de mentores Qconcursos

Gabarito comentado:

Tema da questão: Interpretação de texto com ênfase em funções da linguagem, especialmente a função apelativa (ou conativa). Essa função visa influenciar, persuadir ou convocar o leitor a adotar determinada atitude, sendo muito explorada em textos argumentativos e motivacionais.

Justificativa para a alternativa correta (B – um apelo, uma convocação):

No segundo parágrafo, Érico Veríssimo utiliza a metáfora da luz (“acender a sua lâmpada”, “risquemos fósforos repetidamente”) para ilustrar o papel de resistência e denúncia do escritor diante das injustiças do mundo. O tom adotado é claro: ele convoca outros escritores (e o leitor, de modo geral) a não se omitirem, mesmo nos momentos mais difíceis, e a “manter a luz acesa” como símbolo de engajamento social e moral.

Esse apelo é construído por expressões como “o menos que o escritor pode fazer […] é acender a sua lâmpada” e “se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela”, chamando o leitor para a ação independente das circunstâncias. Segundo Cunha & Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), a função apelativa se caracteriza justamente por este desejo de mover o interlocutor à ação.

Análise das alternativas incorretas:

A) um aviso, um esclarecimento: O texto não busca apenas informar ou explicar, mas sim mobilizar o leitor para uma atitude.

C) uma advertência, uma promessa: Não há tom de advertência (alerta contra consequências negativas) e nem promessa de resultado futuro.

D) uma intimidação, uma chantagem: O texto não contém qualquer tom de ameaça ou coação. O apelo é ético, não coercitivo.

E) uma promessa, uma ameaça: Não se faz promessa nem ameaça, mas sim uma chamada à responsabilidade.

Estratégias para provas: Fique atento ao tom predominante do texto e observe se há expressões que buscam incitar, aconselhar ou convocar o leitor — nesses casos, é provável que a função apelativa/conativa esteja sendo empregada.

Referências: Cunha & Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Bechara. Moderna Gramática Portuguesa.

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