Para manter a estratégia escolhida para seu texto, o
segundo parágrafo do fragmento em análise pode ser
entendido como:
TEXTO 1
Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos,
quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada
elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um
médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que
soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’ (...)
Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava,
talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar
tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar
segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar
talhos e salvar essa vida? (...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romance, tem-me
animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor
pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a
nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a
realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a
escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos
tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do
horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos
o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos
fósforos repetidamente, como um sinal de que não
desertamos de nosso posto.
(Érico Veríssimo. Solo de clarineta. Tomo I. Globo: Porto Alegre.
1978). Fragmento.
TEXTO 1
Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’ (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar talhos e salvar essa vida? (...)
Desde que, adulto, comecei a escrever romance, tem-me
animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor
pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a
nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a
realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a
escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos
tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do
horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos
o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos
fósforos repetidamente, como um sinal de que não
desertamos de nosso posto.
(Érico Veríssimo. Solo de clarineta. Tomo I. Globo: Porto Alegre. 1978). Fragmento.
Gabarito comentado
Gabarito comentado:
Tema da questão: Interpretação de texto com ênfase em funções da linguagem, especialmente a função apelativa (ou conativa). Essa função visa influenciar, persuadir ou convocar o leitor a adotar determinada atitude, sendo muito explorada em textos argumentativos e motivacionais.
Justificativa para a alternativa correta (B – um apelo, uma convocação):
No segundo parágrafo, Érico Veríssimo utiliza a metáfora da luz (“acender a sua lâmpada”, “risquemos fósforos repetidamente”) para ilustrar o papel de resistência e denúncia do escritor diante das injustiças do mundo. O tom adotado é claro: ele convoca outros escritores (e o leitor, de modo geral) a não se omitirem, mesmo nos momentos mais difíceis, e a “manter a luz acesa” como símbolo de engajamento social e moral.
Esse apelo é construído por expressões como “o menos que o escritor pode fazer […] é acender a sua lâmpada” e “se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela”, chamando o leitor para a ação independente das circunstâncias. Segundo Cunha & Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), a função apelativa se caracteriza justamente por este desejo de mover o interlocutor à ação.
Análise das alternativas incorretas:
A) um aviso, um esclarecimento: O texto não busca apenas informar ou explicar, mas sim mobilizar o leitor para uma atitude.
C) uma advertência, uma promessa: Não há tom de advertência (alerta contra consequências negativas) e nem promessa de resultado futuro.
D) uma intimidação, uma chantagem: O texto não contém qualquer tom de ameaça ou coação. O apelo é ético, não coercitivo.
E) uma promessa, uma ameaça: Não se faz promessa nem ameaça, mas sim uma chamada à responsabilidade.
Estratégias para provas: Fique atento ao tom predominante do texto e observe se há expressões que buscam incitar, aconselhar ou convocar o leitor — nesses casos, é provável que a função apelativa/conativa esteja sendo empregada.
Referências: Cunha & Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Bechara. Moderna Gramática Portuguesa.
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