Questão 02902f46-d5
Prova:CESMAC 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Um aspecto do Texto 1 que o torna, de certa maneira relevante, e que toca a sensibilidade do leitor, é que o autor:

TEXTO 1


Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam ‘carneado’ (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar talhos e salvar essa vida? (...)

Desde que, adulto, comecei a escrever romance, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos de nosso posto.

(Érico Veríssimo. Solo de clarineta. Tomo I. Globo: Porto Alegre. 1978). Fragmento.  

A
recorre a uma linguagem erudita, fazendo uso de um vocabulário distante das situações informais.
B
permeia ou intercala, entre elementos narrativos, fragmentos de natureza claramente descritiva.
C
vai de uma simples narrativa até uma séria reflexão, pela exploração simbólica de uma cena trivial.
D
concentra a narrativa em um único personagem, assegurando, assim, a concisão esperada para esse tipo de texto.
E
reúne diferentes dados em um cenário apenas e recorre, de forma categórica, à ativação da memória do leitor.

Gabarito comentado

E
Eduardo MendesMonitor do Qconcursos

Tema central da questão: O ponto-chave é a interpretação de textos, com foco na análise das intenções do autor, construção de sentidos e identificação do uso simbólico de elementos narrativos para desenvolver uma reflexão.

Análise da alternativa correta – Letra C:

O texto relata, inicialmente, uma experiência pessoal do autor (memória da adolescência em que ele segura uma lâmpada) e, a partir desse episódio, evolui para uma reflexão ampla e simbólica sobre o papel do escritor na sociedade: “fazer luz sobre a realidade... evitando que sobre ela caia a escuridão”. Essa passagem de uma narrativa concreta para uma reflexão séria só é possível graças à exploração simbólica da lâmpada, que representa o compromisso ético de iluminar verdades. Essa estratégia é destacada nas gramáticas de Bechara e Celso Cunha & Lindley Cintra: o uso de símbolos amplia o sentido do texto e conduz o leitor a interpretações mais profundas – habilidade avaliada frequentemente em concursos.

Análise das alternativas incorretas:

  • A) Incorreta. O texto evita linguagem erudita e é marcadamente acessível, provocando empatia por meio de situações simples.
  • B) Embora haja narratividade, o destaque não está em descrições, mas na transição da vivência individual para a reflexão simbólica.
  • D) O texto não é conciso no sentido de enxuto; ao contrário, é denso em ideias, ampliando a discussão sobre o papel social do escritor – indo além da mera ação de um personagem.
  • E) Não há foco em ativar a memória do leitor, mas sim a própria memória do autor, que a utiliza como ponto de partida para reflexões universais.

Estratégia para questões semelhantes: Observe se o texto se limita à narração ou se utiliza a narração como pretexto para refletir sobre temas mais amplos. Identifique símbolos (como a lâmpada) e questione se eles funcionam apenas na cena descrita ou se extrapolam o literal, conduzindo a uma moral ou tese – tal como preconiza a gramática normativa de Bechara.

Resumo da regra: Reconhecer quando o autor constrói sentido ao evoluir de experiências concretas para reflexões abstratas, aproveitando-se de símbolos e analogias, é fundamental para interpretar textos literários e filosóficos em vestibulares.

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