Relatório de um magistrado sobre o alegado suicídio de Richard Hun, na prisão da Torre de Londres, em 1515:
Todos nós os do inquérito encontramos o corpo do dito Hun suspenso dum gancho de ferro por uma faixa de seda, de expressão calma, cabelo bem penteado, e o boné enfiado na cabeça, com os olhos e a boca simplesmente cerrados, sem qualquer pasmo, esgar ou contração... Pelo que nos pareceu absolutamente a todos nós que o pescoço de Hun já estaria partido e grande quantidade de sangue vertido antes de ele ser enforcado. Pelo que todos nós achamos por Deus e em nossas consciências que Richard Hun fora assassinado.
O documento revela a
Todos nós os do inquérito encontramos o corpo do dito Hun suspenso dum gancho de ferro por uma faixa de seda, de expressão calma, cabelo bem penteado, e o boné enfiado na cabeça, com os olhos e a boca simplesmente cerrados, sem qualquer pasmo, esgar ou contração... Pelo que nos pareceu absolutamente a todos nós que o pescoço de Hun já estaria partido e grande quantidade de sangue vertido antes de ele ser enforcado. Pelo que todos nós achamos por Deus e em nossas consciências que Richard Hun fora assassinado.
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Gabarito comentado
Resposta correta: B — emergência e difusão do raciocínio dedutivo no Renascimento
1. Tema central: o enunciado testa a mudança de mentalidade no período renascentista: a valorização da observação e do raciocínio lógico aplicado a fatos concretos (investigação), em oposição a explicações meramente religiosas ou tradicionais. É importante reconhecer sinais de método investigativo em fontes históricas.
2. Resumo teórico: no Renascimento houve um fortalecimento do espírito crítico e racional — aproximação das práticas jurídicas, científicas e administrativas a procedimentos baseados em evidência e lógica. Aqui, o inquérito descreve observações precisas (posição do corpo, sinais de hemorragia, ausência de convulsões) e usa essas observações para inferir uma conclusão: assassinato, não suicídio. Essa aplicação ordenada de premissas a uma conclusão é marca do raciocínio lógico/dedutivo valorizado no ambiente renascentista (ver Burckhardt; Peter Burke).
Justificativa da alternativa B: o relatório mostra procedimento analítico: coleta de dados sensoriais e formulação de uma conclusão razoada — procedimento que reflete a difusão de práticas racionais e forenses no início da Idade Moderna. A atitude de não aceitar a versão oficial sem exame é típica do novo espírito crítico renascentista.
Análise das alternativas incorretas:
A — Independência do poder judiciário: o documento é um inquérito local; não há indicação de autonomia institucional do Judiciário como sistema separado do poder político.
C — Retomada do tratamento prisional romano: o texto descreve um inquérito sobre um caso concreto, não políticas penais nem projeto de recuperação prisional inspirado em Roma.
D — Consolidação do pensamento realista aristotélico-escolástico: ao contrário, o Renascimento tensionou a escolástica; o foco aqui é empirismo e investigação prática, não defesa do paradigma escolástico.
E — Permanência da visão de mundo medieval: a resposta do inquérito é empírica/racional e não baseada em explicações sobrenaturais ou em autoridade religiosa — indica mudança, não permanência.
Estratégia de prova: busque no enunciado palavras que indiquem método (observação, inquérito, conclusão fundada). Cruce essas pistas com as alternativas: descarte as que tratam de instituições amplas (independência judicial, políticas prisionais) quando o documento evidencia prática racional/forense.
Fontes sugeridas: Jacob Burckhardt, The Civilization of the Renaissance in Italy; Peter Burke, The Italian Renaissance: Culture and Society. Para contexto sobre práticas forenses e investigação: estudos de história jurídica e penal da Europa moderna.
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