“A teologia, para mim, é uma grandeza cultural
na história da cultura do Ocidente. Creio que é uma
grandeza constitutiva da tradição, sobretudo,
filosófica: o termo ‘teologia’ nasceu da filosofia, é um
termo criado por Platão. [...] Quando a filosofia
ultrapassa o domínio daquilo que, de alguma maneira,
é diretamente acessível à experiência e controlado
por ela, entra neste domínio que Platão chama de
‘suprassensível’, inteligível, ou como quer que seja.
Este é, para mim, um domínio no qual o problema
teológico se apresenta inevitavelmente, porque se
apresenta o problema da ordem das realidades e toda
ordem supõe um princípio ordenador, tornando-se
então, de alguma maneira, uma teologia.”
VAZ, Henrique Claudio de Lima. Filosofia e forma da ação.
Entrevista a Cadernos de filosofia alemã, 2, p. 77-102, 1997.
Na passagem acima citada, o filósofo brasileiro H. C.
de Lima Vaz (1921-2002) apresenta uma
interpretação do pensamento filosófico como uma
teologia. Recorrendo à filosofia de Platão para explicar
essa sua interpretação, ele termina por nos oferecer
uma interpretação da própria teoria platônica das
ideias, que seria uma espécie de teologia, porque
“A teologia, para mim, é uma grandeza cultural na história da cultura do Ocidente. Creio que é uma grandeza constitutiva da tradição, sobretudo, filosófica: o termo ‘teologia’ nasceu da filosofia, é um termo criado por Platão. [...] Quando a filosofia ultrapassa o domínio daquilo que, de alguma maneira, é diretamente acessível à experiência e controlado por ela, entra neste domínio que Platão chama de ‘suprassensível’, inteligível, ou como quer que seja. Este é, para mim, um domínio no qual o problema teológico se apresenta inevitavelmente, porque se apresenta o problema da ordem das realidades e toda ordem supõe um princípio ordenador, tornando-se então, de alguma maneira, uma teologia.”
VAZ, Henrique Claudio de Lima. Filosofia e forma da ação.
Entrevista a Cadernos de filosofia alemã, 2, p. 77-102, 1997.
Na passagem acima citada, o filósofo brasileiro H. C. de Lima Vaz (1921-2002) apresenta uma interpretação do pensamento filosófico como uma teologia. Recorrendo à filosofia de Platão para explicar essa sua interpretação, ele termina por nos oferecer uma interpretação da própria teoria platônica das ideias, que seria uma espécie de teologia, porque
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa C
1. Tema central
A questão trata da interpretação da teoria das ideias de Platão como forma de “teologia” — isto é, como um conjunto de princípios inteligíveis que explicam e ordenam a realidade natural e ética. É preciso entender o que Platão entende por mundo sensível e mundo inteligível e por que isso pode ser lido como uma busca por princípios ordenadores.
2. Resumo teórico claro
Para Platão (obras relevantes: República, Fédon), existem dois níveis de realidade: o mundo sensível (mutável, percebido pelos sentidos) e o mundo inteligível (imutável, acessível pela razão). As Ideias ou Formas são os princípios eternos que tornam as coisas do mundo sensível reconhecíveis e ordenadas — p. ex., a Ideia do Bem ordena o conhecimento e a ação ética.
3. Fontes recomendadas
- Platão, República e Fédon (textos primários).
- Stanford Encyclopedia of Philosophy — verbete “Plato’s Theory of Forms” (consulta para aprofundar).
4. Justificativa da alternativa correta (C)
A alternativa C afirma que a teoria das ideias “apresenta os princípios inteligíveis ordenadores da realidade natural e ética”. Isso corresponde exatamente à função das Formas em Platão: são princípios explicativos e normativos (ordenadores) que fundamentam tanto a existência das coisas naturais quanto os valores éticos (a Ideia do Bem). Por isso a leitura de Lima Vaz — chamar isso de uma espécie de teologia — é adequada: trata-se de uma explicitação dos princípios últimos que estruturam a ordem do mundo.
5. Por que as outras alternativas estão erradas
A — “mostra como os deuses gregos não são corpóreos, mas espirituais”: Platão trata do divino em vários textos, mas a teoria das ideias não tem por objetivo principal provar a incorporeidade dos deuses; trata de Formas ontológicas, não de mitologia teológica direta.
B — “é a base da posterior teologia revelada dos pais da Igreja cristã”: embora o pensamento platônico (especialmente o neoplatonismo) tenha influenciado alguns Padres da Igreja, isto é um efeito histórico secundário — não é o conteúdo imediato da teoria das ideias nem a razão por que ela pode ser chamada “teologia” na acepção de princípios ordenadores.
D — “afirma que não existe realidade sensível, mas apenas a suprassensível”: incorreto; Platão não nega totalmente a realidade sensível, ele a considera menos real e derivada das Formas, não inexistente.
Dica de interpretação
Procure relacionar termos do enunciado (“teologia”, “suprassensível”, “princípio ordenador”) com conceitos platônicos: “princípio ordenador” → Ideia/Forma; “suprassensível” → mundo inteligível. Isso ajuda a eliminar alternativas que tratam de temas próximos, mas não centrais.
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