A obsessão do Estado por controlar todos os comportamentos
dos cidadãos tem como resultado um enfraquecimento
da responsabilidade moral e cívica dos mesmos. A lei
deveria ser o último recurso, depois da educação, da ética,
da negociação e do compromisso entre os indivíduos. É agora
o primeiro recurso. Imagino potenciais crimes que os filhos
dos nossos filhos terão receio de cometer:
• Crime de imposição de gênero: os pais deverão abster-se
de identificar o gênero dos filhos tomando como referência
o sexo biológico dos mesmos.
• Crime de apropriação cultural: serão severamente
punidos os cidadãos que, alegando interesse cultural ou razões
artísticas, se apropriem de práticas e temáticas de um
grupo étnico a que não pertencem.
• Crime de envelhecimento público: com os avanços
da medicina, será intolerável que um cidadão recuse tratamentos/cirurgias
para ocultar/reverter o seu processo de envelhecimento,
exibindo em público as marcas da decadência
física ou neurológica.
• Crime de interesse sentimental não solicitado: será
punido qualquer adulto que manifeste interesse sentimental
não solicitado por outro adulto — através de sorriso, elogio,
convite para jantar etc. O interesse sentimental de um adulto
por outro será mediado por um advogado que apresentará
ao advogado da parte desejada as intenções do seu cliente.
(João Pereira Coutinho. “Cinco potenciais crimes que gerações futuras terão
receio de cometer”. www1.folha.com.br, 21.11.2017. Adaptado.)
O perfil antiutópico sugerido pelo autor para o mundo futuro
reúne tendências de