Questõesde CEDERJ sobre Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

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Foram encontradas 47 questões
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CEDERJ 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No fragmento de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o uso da primeira pessoa do singular produz o efeito de


A
autenticidade para o relato de um narrador-personagem defunto.
B
ficcionalidade para a carta de despedida de um personagem-narrador suicida.
C
naturalismo para o testemunho de um narrador-personagem farsante.
D
surrealismo para a narração onírica de um personagem-narrador delirante.
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CEDERJ 2018 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em construções como “Em agosto, Machado foi eleito o autor do mês pela prestigiosa revista literária britânica” (linhas 39-41), o emprego de


A
forte adjetivação (“prestigiosa revista literária britânica”) permite enfatizar a objetividade da reportagem.
B
adjunto adverbial (“Em agosto”) no início da oração permite a derivação de sua função para a de sujeito gramatical.
C
voz passiva (“foi eleito(...)pela prestigiosa revista literária britânica”) permite maior destaque ao fato mencionado e menor a seu agente.
D
sujeito simples (“o autor do mês”) permite indicar o alvo da ação referida pelo verbo, completando-lhe o sentido.
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CEDERJ 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A pergunta-título “Boom machadiano?” refere-se à seguinte informação da reportagem:


A
“Críticos estrangeiros apontam Machado como autor livre de clichês latino-americanos e distante da exuberância tropical e da crítica social”. (subtítulo)
B
“‘Suas obras passaram a interessar a outras culturas, sucedendo-se as traduções em várias línguas’, escreveu o crítico literário Eugenio Gomes no jornal carioca Correio da Manhã em 8 de dezembro de 1951”. (linhas 2-5)
C
“Quase 70 anos mais tarde, esse ‘interesse excepcional’ citado por Gomes poderia ser incluído no famoso capítulo ‘Das negativas’, de Memórias póstumas, que lista o que não aconteceu”. (linhas 15-18)
D
“A editora (...) não divulgou a tiragem do livro, mas informou que os editores ‘estão muito contentes — mais do que contentes, na verdade — com a recepção do livro nos EUA’”. (linhas 26-31)
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CEDERJ 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em “Lembrou-se das suas cousas de tupi” (linha 26), o emprego da forma “cousas” indica, em relação ao personagem,


A
sua época.
B
sua origem estrangeira.
C
seu poliglotismo.
D
sua nacionalidade indígena.
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CEDERJ 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A expressão “bela, recatada e ‘do lar’” foi reutilizada em inúmeros textos na Internet, como no exemplo seguinte, no qual é associada à imagem da jogadora Marta, da seleção brasileira de futebol:



Nesse caso, o sentido da expressão


A
subverte o original, pois Marta é vista como exemplo de mulher que não se prende a estereótipos.
B
reforça o original, pois Marta é vista como exemplo de mulher que concilia profissão e afazeres domésticos.
C
redunda o original, pois Marta é vista como exemplo de mulher que preza as tradições, como a Marcela Temer, só que na área esportiva.
D
repete o original, pois Marta é vista como exemplo de mulher que consegue ser ao mesmo tempo vaidosa, disciplinada e “da concentração”.
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CEDERJ 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A repetição de sons consonantais em “Roda, pião!/ Racha, pião!” (versos 4 e 5 ) constitui um caso de

Texto 2


Campeonato de peão


Bota parafuso no bico do peão

Bota prego limado, bota tudo

pra rachar o pião competidor.

Roda, pião!

Racha, pião!

Se você não pode rachar este colégio

nem o mundo nem a vida,

racha pelo menos o pião!

(Mas eu não sei, nunca aprendi

rachar pião. Imobilizo-me.)

(Carlos Drummond de Andrade. Nova reunião: 23 livros de poesia. Vol. III. Rio de Janeiro, Bestbolso, 2009. p.267) 

A
aliteração.
B
anáfora.
C
onomatopéia.
D
assonância.
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CEDERJ 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Arthur Azevedo (jornalista, escritor e teatrólogo) tem em “Plebiscito” um exemplo do tom humorístico e crítico que costumava imprimir a seus textos.“Plebiscito” comprova sua preferência por temas relacionados


A
ao cotidiano: “A família está toda reunida na sala de jantar.” (linha 2)
B
à mulher: “Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga.” (linhas 6-7)
C
à infância: “Os pequenos são dois, um menino e uma menina.” (linhas 8-9)
D
à erudição: “— Papai, que é plebiscito?” (linha 15)
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CEDERJ 2016 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Conjunções: Relação de causa e consequência, Morfologia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No enunciado: “Na primeira reunião com a população surgiram curiosos mal-entendidos que revelam a dificuldade de tradução não de palavras, mas de pensamento”. (linhas 28-30), a conjunção sublinhada dá ideia de

                                                         Texto 1                   
                               Línguas que não sabemos que sabíamos
                                                    (fragmento)1
                                                                                 Mia Couto 
1 Foi mantido o texto original. Mia Couto é um renomado escritor moçambicano, com obra literária extensa e diversificada, incluindo poesia, contos, romance e crônicas.
A
conformidade.
B
conclusão.
C
condição.
D
retificação.
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CEDERJ 2016 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao falar da relação entre linguagem e mundo, o professor José Carlos Azeredo (2007) ressalta que a linguagem não é uma simples ferramenta ou instrumento, tampouco o espelho de um mundo de objetos e fenômenos, porque o que nossos textos significam resulta da filtragem e modelação de nossas experiências; em outras palavras, a transformação de nossas experiências de mundo em matéria textual envolve fatores socioculturais de propriedade coletiva.
Indique o fragmento de texto que melhor exemplifica o enunciado acima:

                                                         Texto 1                   
                               Línguas que não sabemos que sabíamos
                                                    (fragmento)1
                                                                                 Mia Couto 
1 Foi mantido o texto original. Mia Couto é um renomado escritor moçambicano, com obra literária extensa e diversificada, incluindo poesia, contos, romance e crônicas.
A
“No pódio estavam os cientistas que falavam em inglês, eu, que traduzia para o português, e um pescador que traduzia de português para a língua local, o chidindinhe”. (linhas 30-33)
B
“As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do meio ambiente”. (linhas 1-3)
C
“ Na primeira reunião com a população surgiram curiosos mal-entendidos que revelam a dificuldade de tradução não de palavras, mas de pensamento”. (linhas 28-30)
D
“A verdade é que, munidos de boa-fé, os cientistas traziam malas com projectores de slides e filmes”. (linhas 21-23)
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CEDERJ 2014 - Português - Interpretação de Textos, Vocativo e Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal, Diferença entre Adjunto Adnominal e Complemento Nominal, Adjunto Adverbial e Aposto, Preposições, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Tipologia Textual, Sintaxe, Morfologia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, observando a relação expressa pela preposição “de" e, a seguir, assinale a alternativa que contempla a numeração correta.

(1) As gravatas de Mário Quintana

(2) As gravatas de Pierre Cardin

(3) Os copos de vinho

(4) Os copos de vidro

(5) A casa de campo

(6) A chegada de Paris

( ) Procedência

( ) Tipo

( ) Posse

( ) Autoria

( ) Conteúdo

( ) Matéria

Texto 1

                  As gravatas de Mário Quintana (não basta saber uma língua para entendê-la)

      Como é que uma pessoa se comunica com a outra? Como fazemos para transmitir ideias?

      A resposta parece bastante óbvia: transmitimos ideias usando a língua. Assim, se vou passando na rua e vejo um avestruz (digamos que seja uma rua muito peculiar, onde o tráfego de avestruzes é intenso), digo ao meu amigo: Olha, lá vai um avestruz. Com isso, transmito determinada informação ao meu amigo; em outras palavras, passo para a mente de outra pessoa uma ideia que estava originalmente em minha mente.

      Para isso, evidentemente, é preciso que as duas pessoas em questão conheçam a mesma língua, que ambas chamem aquele animal desajeitado de avestruz; que ambas saibam utilizar os verbos olhar e ir, e assim por diante. Uma vez isso arranjado, as duas pessoas se entenderão. Para que as pessoas se entendam, é necessário – e suficiente – que falem a mesma língua.

      É isso mesmo? Veremos que não. Na verdade, para que se dê a compreensão, mesmo em nível bastante elementar, é necessário que as pessoas tenham muito mais em comum que simplesmente uma língua. Precisam ter em comum um grande número de informações, precisam pertencer a meios culturais semelhantes, precisam mesmo ter, até certo ponto, crenças comuns. Sem isso, a língua simplesmente deixa de funcionar enquanto instrumento de comunicação. Na verdade, a comunicação linguística é um processo bastante precário; depende de tantos fatores que falham com muita frequência, para desânimo de muitos que ficam gemendo Por que é que ele não me entendeu?

      O problema é que o que a língua exprime é apenas uma parte do que se quer transmitir. Geralmente, se pensa no processo de comunicação como uma rua de mão única: a informação passa do falante para o ouvinte (ou do autor para o leitor). Se fosse assim, a estrutura linguística teria de ser suficiente para veicular a mensagem, porque, afinal de contas, a única coisa que o emissor realmente produz é um conjunto de sons (ou de riscos no papel), organizados de acordo com as regras da língua. Mesmo isso, como vimos, depende de alguma coisa por parte do receptor, a saber, o conhecimento das palavras e das regras da língua; mas poderia ser só isso, e as coisas seriam muito mais simples – e, também, talvez os seres humanos se entendessem melhor. (...)

     O significado de uma frase não é simples função de seus elementos constitutivos, mas depende ainda da informação extralinguística. Ou ainda (e aqui me oponho às crenças de boa parte de meus colegas linguistas), uma frase fora de contexto não tem, a rigor, significado.

     Vamos ver o exemplo: seja o sintagma as gravatas de Mário Quintana. Que significa isso? E, em especial, que tipo de relação exprime a preposição de? Evidentemente, de exprime “posse", e o sintagma equivale a as gravatas pertencem a Mário Quintana. Pode parecer, então, que computamos o significado do sintagma simplesmente juntando o significado das palavras: as gravatas + de + Mário Quintana.

      Mas ainda aqui isso é só a primeira impressão. Digamos que o sintagma fosse as gravatas de Pierre Cardin; agora, para alguém que sabe quem é Pierre Cardin, a relação expressa pela preposição de já não precisa ser de posse. Na verdade, é mais provável que se entenda como “autoria", isto é, as gravatas criadas por Pierre Cardin.

      Ora, a preposição é a mesma nos dois casos. De onde vem essa diferença de significado? Simplesmente do que sabemos sobre Mário Quintana (um poeta) e sobre Pierre Cardin (um estilista de moda). Se dissermos os poemas de Mário Quintana, a preposição já não exprimirá posse, mas autoria – porque, já que Mário Quintana é um poeta, é plausível que se fale dos poemas de sua autoria; além do mais, em geral, não se pensa em poemas como tendo possuidor.

      Se a situação é essa, não faz sentido perguntar se o significado da preposição de é de posse ou autoria. Será posse ou autoria segundo o que soubermos dos diversos objetos ou pessoas mencionadas: se se trata de um objeto possuível, como uma gravata, ou não possuível, como um poema; e se se trata de um poeta ou de um costureiro.

                             (PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2000, páginas 57-60.)
A
2 – 5 – 1 – 3 – 4 – 6
B
5 – 3 – 2 – 1 – 4 – 6
C
6 – 5 – 1 – 2 – 3 – 4
D
6 – 5 – 2 – 1 – 4 – 3
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CEDERJ 2014 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No poema, a onomatopeia utilizada procurar imitar o som

Texto 2

                                    Canção de garoa

                                                                              Mário Quintana

                              Em cima do meu telhado
                              Pirulin lulin lulin,
                              Um anjo, todo molhado,
                              Soluça no seu flautim.

                              O relógio vai bater:
                              As molas rangem sem fim.
                              O retrato na parede
                              Fica olhando para mim.

                              E chove sem saber por quê...
                              E tudo foi sempre assim!
                              Parece que vou sofrer:
                              Pirulin lulin lulin...

    QUINTANA, Mário. Nariz de vidro. 4.ed. Editora Moderna, 1984. p. 23.
A
do coração sofrido.
B
dos pés do anjo.
C
do velho relógio.
D
da chuva incessante.
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CEDERJ 2014 - Português - Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A ideia central do texto está resumida no seguinte fragmento:

Texto 1

                  As gravatas de Mário Quintana (não basta saber uma língua para entendê-la)

      Como é que uma pessoa se comunica com a outra? Como fazemos para transmitir ideias?

      A resposta parece bastante óbvia: transmitimos ideias usando a língua. Assim, se vou passando na rua e vejo um avestruz (digamos que seja uma rua muito peculiar, onde o tráfego de avestruzes é intenso), digo ao meu amigo: Olha, lá vai um avestruz. Com isso, transmito determinada informação ao meu amigo; em outras palavras, passo para a mente de outra pessoa uma ideia que estava originalmente em minha mente.

      Para isso, evidentemente, é preciso que as duas pessoas em questão conheçam a mesma língua, que ambas chamem aquele animal desajeitado de avestruz; que ambas saibam utilizar os verbos olhar e ir, e assim por diante. Uma vez isso arranjado, as duas pessoas se entenderão. Para que as pessoas se entendam, é necessário – e suficiente – que falem a mesma língua.

      É isso mesmo? Veremos que não. Na verdade, para que se dê a compreensão, mesmo em nível bastante elementar, é necessário que as pessoas tenham muito mais em comum que simplesmente uma língua. Precisam ter em comum um grande número de informações, precisam pertencer a meios culturais semelhantes, precisam mesmo ter, até certo ponto, crenças comuns. Sem isso, a língua simplesmente deixa de funcionar enquanto instrumento de comunicação. Na verdade, a comunicação linguística é um processo bastante precário; depende de tantos fatores que falham com muita frequência, para desânimo de muitos que ficam gemendo Por que é que ele não me entendeu?

      O problema é que o que a língua exprime é apenas uma parte do que se quer transmitir. Geralmente, se pensa no processo de comunicação como uma rua de mão única: a informação passa do falante para o ouvinte (ou do autor para o leitor). Se fosse assim, a estrutura linguística teria de ser suficiente para veicular a mensagem, porque, afinal de contas, a única coisa que o emissor realmente produz é um conjunto de sons (ou de riscos no papel), organizados de acordo com as regras da língua. Mesmo isso, como vimos, depende de alguma coisa por parte do receptor, a saber, o conhecimento das palavras e das regras da língua; mas poderia ser só isso, e as coisas seriam muito mais simples – e, também, talvez os seres humanos se entendessem melhor. (...)

     O significado de uma frase não é simples função de seus elementos constitutivos, mas depende ainda da informação extralinguística. Ou ainda (e aqui me oponho às crenças de boa parte de meus colegas linguistas), uma frase fora de contexto não tem, a rigor, significado.

     Vamos ver o exemplo: seja o sintagma as gravatas de Mário Quintana. Que significa isso? E, em especial, que tipo de relação exprime a preposição de? Evidentemente, de exprime “posse", e o sintagma equivale a as gravatas pertencem a Mário Quintana. Pode parecer, então, que computamos o significado do sintagma simplesmente juntando o significado das palavras: as gravatas + de + Mário Quintana.

      Mas ainda aqui isso é só a primeira impressão. Digamos que o sintagma fosse as gravatas de Pierre Cardin; agora, para alguém que sabe quem é Pierre Cardin, a relação expressa pela preposição de já não precisa ser de posse. Na verdade, é mais provável que se entenda como “autoria", isto é, as gravatas criadas por Pierre Cardin.

      Ora, a preposição é a mesma nos dois casos. De onde vem essa diferença de significado? Simplesmente do que sabemos sobre Mário Quintana (um poeta) e sobre Pierre Cardin (um estilista de moda). Se dissermos os poemas de Mário Quintana, a preposição já não exprimirá posse, mas autoria – porque, já que Mário Quintana é um poeta, é plausível que se fale dos poemas de sua autoria; além do mais, em geral, não se pensa em poemas como tendo possuidor.

      Se a situação é essa, não faz sentido perguntar se o significado da preposição de é de posse ou autoria. Será posse ou autoria segundo o que soubermos dos diversos objetos ou pessoas mencionadas: se se trata de um objeto possuível, como uma gravata, ou não possuível, como um poema; e se se trata de um poeta ou de um costureiro.

                             (PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. São Paulo: Ática, 2000, páginas 57-60.)
A
“...é preciso que as duas pessoas em questão conheçam a mesma língua."
B
“...uma frase fora de contexto não tem, a rigor, significado."
C
“...a informação passa do falante para o ouvinte (ou do autor para o leitor)."
D
“...a preposição é a mesma nos dois casos."
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CEDERJ 2013 - Português - Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A afirmativa em que se associa adequadamente o estilo do escritor Graciliano Ramos à temática desenvolvida no trecho lido é:

                                                    Infância

     
Uma noite, depois do café, meu pai me mandou buscar um livro que deixara na cabeceira da cama. Novidade: meu velho nunca se dirigia a mim. E eu, engolido o café, beijava-lhe a mão, porque isto era praxe, mergulhava na rede e adormecia. Espantado, entrei no quarto, peguei com repugnância o antipático objeto e voltei à sala de jantar. Aí recebi ordem para me sentar e abrir o volume. Obedeci engulhando, com a vaga esperança de que uma visita me interrompesse. Ninguém nos visitou naquela noite extraordinária.

      Meu pai determinou que eu principiasse a leitura. Principiei. Mastigando as palavras, gaguejando, gemendo uma cantilena medonha, indiferente à pontuação, saltando linhas e repisando linhas, alcancei o fim da página, sem ouvir gritos. Parei surpreendido, virei a folha, continuei a arrastar-me na gemedeira, como um carro em estrada cheia de buracos.

      Com certeza o negociante recebera alguma dívida perdida: no meio do capítulo pôs-se a conversar comigo, perguntou-me se eu estava compreendendo o que lia. Explicou-me que se tratava de uma história, um romance, exigiu atenção e resumiu a parte já lida. Um casal com filhos andava numa floresta, em noite de inverno, perseguido por lobos, cachorros selvagens. Depois de muito correr, essas criaturas chegavam à cabana de um lenhador. Era ou não era? Traduziu-me em linguagem de cozinha diversas expressões literárias. Animei-me a parolar. Sim, realmente havia alguma coisa no livro, mas era difícil conhecer tudo.

      Alinhavei o resto do capítulo, diligenciando penetrar o sentido da prosa confusa, aventurando-me às vezes a inquirir. E uma luzinha quase imperceptível surgia longe, apagava-se, ressurgia, vacilante, nas trevas do meu espírito.

      Recolhi-me preocupado: os fugitivos, os lobos e o lenhador agitaram-me o sono. Dormi com eles, acordei com eles. As horas voaram. Alheio à escola, aos brinquedos de minhas irmãs, à tagarelice dos moleques, vivi com essas criaturas de sonho, incompletas e misteriosas.

      À noite meu pai me pediu novamente o volume, e a cena da véspera se reproduziu: leitura emperrada, mal-entendidos, explicações.

        Na terceira noite fui buscar o livro espontaneamente, mas o velho estava sombrio e silencioso. E no dia seguinte, quando me preparei para moer a narrativa, afastou-me com um gesto, carrancudo.

      Nunca experimentei decepção tão grande. Era como se tivesse descoberto uma coisa muito preciosa e de repente a maravilha se quebrasse. E o homem que a reduziu a cacos, depois de me haver ajudado a encontrá-la, não imaginou a minha desgraça. A princípio foi desespero, sensação de perda e ruína, em seguida uma longa covardia, a certeza de que as horas de encanto eram boas demais para mim e não podiam durar.


                                                 RAMOS, Graciliano. Infância. São Paulo: Record, 1995. p.187-191.

A
O narrador adota uma linguagem floreada, repleta de eufemismos que atenuam o sofrimento do menino diante da difícil relação com o pai e com a leitura.
B
O estilo circular da narrativa reitera, ao longo de todo o texto, o desespero do menino diante do ato de ler e a repugnância que sente em relação aos livros.
C
O narrador, por meio de linguagem seca e cortante, revela a decepção do menino com a atitude do pai, ilustrando as dificuldades de uma infância carente de afetos e oportunidades.
D
O estilo direto adotado pelo narrador se deve ao emprego da linguagem jornalística, que aproxima a narrativa da realidade, de modo seco e objetivo, ao retratar dificuldades próprias da relação entre pais e filhos.
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CEDERJ 2014 - Português - Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O adjetivo “convencionais” − em “Para falar com franqueza, o número de anos assim positivo e a data de São Pedro são convencionais” − sugere que:

                   

A
o número de anos e a data de São Pedro não constam do livro de assentamentos de batizados da freguesia.
B
a data de aniversário e os cinquenta anos do narrador foram informados pelo pároco da freguesia.
C
o pai e a mãe do narrador são os responsáveis pelas informações constantes no livro de assentamentos de batizados da freguesia.
D
a idade do narrador e a data de seu aniversário podem ser diferentes do que consta no livro de assentamentos de batizados da freguesia.
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CEDERJ 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O texto I foi extraído do segundo capítulo do romance Capitães da Areia e integra a parte de apresentação do ambiente e dos personagens envolvidos na história.

Assinale a afirmativa que analisa corretamente a visão do narrador sobre o personagem João Grande.

Imagem 002.jpg



A
João Grande é um menino agressivo e esperto, que vive pelas ruas da Bahia praticando pequenos furtos e atos de violência, depois de ter sido expulso de casa.
B
João Grande é um menino desprotegido, de grande força e disposição de ação, que se junta aos Capitães da Areia para viver em liberdade pelas ruas da Bahia.
C
João Grande é um menino de inteligência viva e boa capacidade de organização de assaltos, tendo sido, por isso, escolhido como um dos chefes do grupo.
D
João Grande é um rapaz violento mas medroso, que vive à sombra dos Capitães da Areia, escondido na noite do cais.
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CEDERJ 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No texto II, o tom irônico do narrador fica explícito na seguinte passagem:

Imagem 002.jpg

A
“um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa...”
B
“Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver.”
C
“...eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo.”
D
“...convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados...”
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CEDERJ 2012 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No poema de Oswald de Andrade, a função do título é

Imagem 001.jpg

A
estabelecer contraste com os versos formados de expressões soltas.
B
conferir coerência aos versos constituídos de sintagmas aparentemente soltos, enfeixando-os numa unidade textual.
C
acrescentar um sentido inesperado ao último verso, que se constitui como fecho de ouro do poema memorialístico.
D
relacionar os versos à infância do poeta, marcada por acontecimentos trágicos e grandiosos.