Questõesde FUVEST sobre Português

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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A comparação entre os fragmentos, respectivamente, da Carta e de Vidas secas, permite afirmar que

      (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...)

 Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.


   (...)  Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
   (...)
         Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

 Graciliano Ramos, Vidas secas.
A
“será que há mesmo” e “acordaria feliz” sugerem dúvida.
B
“procurei adivinhar” e “precisava vigiar” significam necessidade.
C
“no fundo todos somos” e “andar pelas ribanceiras” indicam lugar.
D
“ padre Zé Leite pretende” e “Baleia queria dormir” indicam intencionalidade.
E
“todos nós desejamos” e “dormiam na esteira” indicam possibilidade.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A novela Sarapalha apresenta uma estória dentro de outra, por meio da qual a personagem masculina da narrativa principal (Primo Argemiro) alude a uma mulher da narrativa secundária (a moça levada pelo capeta). O mesmo procedimento ocorre em

 


 Guimarães Rosa, Sagarana.

A
Duelo, com Cassiano e Silivana.
B
Minha gente, com Ramiro e a filha de Emílio.
C
A volta do marido pródigo, com Lalino e Maria Rita.
D
O burrinho pedrês, com Raymundão e a namorada de Silvino.
E
A hora e vez de Augusto Matraga, com Ovídio e Dionóra.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

No texto de Sarapalha, constitui exemplo de personificação o seguinte trecho:

 


 Guimarães Rosa, Sagarana.

A
“No rio ninguém não anda” (L. 10).
B
“só a maleita é quem sobe e desce” (L. 10-11).
C
“O senhor já sabe as palavras todas de cabeça” (L. 17).
D
“e com a viola enfeitada de fitas” (L. 19).
E
“ajuntou suas roupinhas melhores numa trouxa” (L. 32).
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa

      (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...)

 Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.


   (...)  Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
   (...)
         Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

 Graciliano Ramos, Vidas secas.
A
o conformismo dos sertanejos.
B
os anseios comunitários de justiça social.
C
os desejos incompatíveis com os de Fabiano.
D
a crença em uma vida sobrenatural.
E
o desdém por um mundo melhor.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Variação Linguística

Constitui marca do registro informal da língua o trecho


 Aluísio Azevedo, O cortiço.


* ensarilhar-se: emaranhar-se.

** rezinga: resmungo.

A
“mas um só ruído compacto” (L. 2-3).
B
“ouviam-se gargalhadas” (L. 5).
C
“o prazer animal de existir” (L. 8-9).
D
“gritou ela para baixo” (L. 14).
E
“bata na porta” (L. 15).
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O trecho do romance Minha vida de menina que ilustra de modo mais preciso o que, para o crítico Alexandre Eulálio, representa “a coexistência íntima de dois mundos culturais divergentes” é:



Alexandre Eulálio, “Livro que nasceu clássico”.
In: Helena Morley, Minha vida de menina.
A
“Se há uma coisa que me faz muita tristeza é gostar muito de uma pessoa, pensando que ela é boa e depois ver que é ruim”.
B
“Eu tinha muita inveja de ver meus irmãos montarem no cavalo em pelo, mas agora estou curada e não montarei nunca mais na minha vida”.
C
“Já refleti muito desde ontem e vi que o único meio de ter vestido é vendendo o broche. Vou dormir ainda esta noite com isto na cabeça e vou conversar com Nossa Senhora tudo direitinho”.
D
“Se eu não ouvir missa no domingo, como quando estou na Boa Vista onde não há igreja e não posso ouvir no Bom Sucesso, fico o dia todo com um prego na consciência me aferroando”.
E
“Este ano saiu à rua a procissão de Cinzas que há muitos anos não havia. Dizem que não saía há muito tempo por falta de santos, porque muitos já estavam quebrados”.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Uma característica do Naturalismo presente no texto é:


 Aluísio Azevedo, O cortiço.


* ensarilhar-se: emaranhar-se.

** rezinga: resmungo.

A
forte apelo aos sentidos.
B
idealização do espaço.
C
exaltação da natureza.
D
realce de aspectos raciais.
E
ênfase nas individualidades.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com Alexandre Eulálio, a protagonista do romance Minha vida de menina



Alexandre Eulálio, “Livro que nasceu clássico”.
In: Helena Morley, Minha vida de menina.
A
vivencia um conflito – uma ideia fortalecida por “a bem dizer” (L. 5).
B
apresenta certo vínculo com o protestantismo – uma ideia sintetizada por “ecos de uma formação britânica” (L. 7-8).
C
formou-se num meio alheio ao trabalho escravo – um fato referido por “num ambiente de corte ibérico e católico” (L. 8-9)
D
rejeita as influências do meio em que vive – uma característica revelada por “precisão e finura notáveis” (L. 14).
E
tem a sua lucidez psicológica abalada pelas ambivalências de sua educação – um traço reiterado por “equilíbrio mesmo de suas contradições” (L. 17-18).
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Nos dois textos, obtém-se ênfase por meio do emprego de um mesmo recurso expressivo, como se pode verificar nos seguintes trechos:

   Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

 Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

 
    Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”.

 Helena Morley, Minha vida de menina.
A
“Este último capítulo é todo de negativas” / “Eu não penso assim”.
B
“Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento” / “Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos”
C
“Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto” / “Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim”.
D
“qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra” / “Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa”.
E
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria” / “Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz”.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

São características dos narradores Brás Cubas e Helena, respectivamente,

   Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

 Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

 
    Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”.

 Helena Morley, Minha vida de menina.
A
malícia e ingenuidade.
B
solidariedade e egoísmo.
C
apatia e determinação.
D
rebeldia e conformismo.
E
otimismo e pessimismo.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Examine o cartum.


Frank e Ernest – Bob Thaves. O Estado de S. Paulo. 22.08.2017.


O efeito de humor presente no cartum decorre, principalmente, da

A
semelhança entre a língua de origem e a local.
B
falha de comunicação causada pelo uso do aparelho eletrônico.
C
falta de habilidade da personagem em operar o localizador geográfico.
D
discrepância entre situar-se geograficamente e dominar o idioma local.
E
incerteza sobre o nome do ponto turístico onde as personagens se encontram.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De acordo com o texto, a compreensão do significado de uma obra de arte pressupõe


Arnold Hauser, Teorias da arte. Adaptado.

A
o reconhecimento de seu significado intrínseco.
B
a exclusividade do ponto de vista mais recente.
C
a consideração de seu caráter imutável.
D
o acúmulo de interpretações anteriores.
E
a explicação definitiva de seu sentido.
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FUVEST 2017 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No trecho “Numa palavra, qualquer gênero de arte que, de fato, nos afete, torna-se, deste modo, arte moderna” (L. 5-6), as expressões sublinhadas podem ser substituídas, sem prejuízo do sentido do texto, respectivamente, por


Arnold Hauser, Teorias da arte. Adaptado.

A
realmente; portanto.
B
invariavelmente; ainda.
C
com efeito; todavia.
D
com segurança; também.
E
possivelmente; até.
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O oxímoro é uma “figura em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir‐se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão” (HOUAISS, 2001). No poema “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”, o emprego dessa figura de linguagem ocorre em:

Carlos Drummond de Andrade.

Claro Enigma.


Ulisses


O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo ‐ 

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.


Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.


Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá‐la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.


Fernando Pessoa. Mensagem


*conversa íntima entre casais.

A
“Onde morri, existo” (L. 2).
B
“E das peles que visto / muitas há que não vi” (L. 3‐4).
C
“Desisto / de tudo quanto é misto / e que odiei ou senti” (L. 6‐8).
D
“à deusa que se ri / deste nosso oaristo” (L. 10‐11).
E
“mas não sou eu, nem isto” (L. 14).
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A passagem final do texto II – “Valha‐me Deus! é preciso explicar tudo.” – denota um elemento presente no estilo do romance, ou seja,

I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá‐lo. Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto* como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou‐me dançar uma polca, embriagar‐ me das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e ligeiro das conversas particulares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora depois, quando me retirei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos.  

*ágil

II.     Meu caro crítico,
        Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo‐se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha‐me Deus! é preciso explicar tudo. 

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A
o realismo, visto no rigor explicativo dos fatos.
B
a religiosidade, que se socorre do auxílio divino.
C
o humor, capaz de relativizar as ideias.
D
a metalinguagem, que imprime linearidade à narração.
E
a ironia, própria do discurso positivo.
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Coesão e coerência, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Entre os dois trechos do romance, nota‐se o movimento que vai da memória de vivências à revisão que o defunto autor faz de um mesmo episódio. A citação, pertencente a outro capítulo do mesmo livro, que melhor sintetiza essa duplicidade narrativa, é:

I. Cinquenta anos! Não era preciso confessá‐lo. Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto* como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou‐me dançar uma polca, embriagar‐ me das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e ligeiro das conversas particulares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora depois, quando me retirei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos.  

*ágil

II.     Meu caro crítico,
        Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo‐se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha‐me Deus! é preciso explicar tudo. 

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A
“A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo”.
B
“Obra de finado. Escrevi‐a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil perceber o que poderá sair desse conúbio”.
C
“Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito do livro és tu, leitor”.
D
“Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramática”.
E
“Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija‐flor; havia também a da lesma e do sapo”.
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:

– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida‐e‐volta resolvo a questão!...

– Exagero... – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.

– Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos, bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão mortas...


*peixe elétrico. 


Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,

A
antecipa o destino funesto do ex‐militar Cassiano Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
B
assemelha‐se ao caráter existencial da disputa entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela “Conversa de Bois”.
C
reúne as três figurações do protagonista da novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e Augusto Matraga.
D
representa o misticismo e a atmosfera de feitiçaria que envolve o preto velho João Mangalô e sua desavença com o narrador‐personagem José, em “São Marcos”.
E
constitui uma das cantigas de “O burrinho Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se sobressai à ignorância do burrinho.
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.

Carlos Drummond de Andrade.

Claro Enigma.


Ulisses


O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo ‐ 

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.


Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.


Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá‐la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.


Fernando Pessoa. Mensagem


*conversa íntima entre casais.

A
As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.
B
As referências a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a Deus no “Sonetilho” e em “Ulisses”, respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e “vida”, revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.
C
O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à primeira pessoa do plural, em “Ulisses”, denotam um mesmo espírito agregador e comunitário.
D
O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente, com seus títulos. No poema de Drummond, trata‐se de alguém referido como “falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.
E
Os versos “As coisas tangíveis / tornam‐se insensíveis / à palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”, de outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de contraste com os poemas citados.
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FUVEST 2018 - Português - Análise sintática, Sintaxe

No trecho “outras remexe o uru de palha matizada”, a palavra sublinhada expressa ideia de

O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?  
José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro.


A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão.
José de Alencar. Iracema.



Glossário:
“ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: tipo de palmeira espinhosa. 
A
concessão.
B
finalidade.
C
adição.
D
tempo.
E
consequência.
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FUVEST 2018 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Atente para as seguintes afirmações relativas ao desfecho do romance A Relíquia, de Eça de Queirós:

I. O autor revela, por meio de Teodorico, sua descrença num Jesus divinizado, imagem que é substituída pela ideia de Consciência.
II. Ao ser sincero com Crispim, Teodorico conquista a vida de burguês que sempre almejou.
III. Teodorico dá ouvidos à mensagem de Cristo, arrepende‐se de sua hipocrisia beata e abraça a fé católica.

Está correto o que se afirma apenas em

A
I.
B
II.
C
I e II.
D
II e III.
E
I e III.