Para doze anos compreendidos entre 1776 e 1807 — 1776, 1777, 1789, 1796 e 1800-1807 — temos dados suficientes para medir as exportações do algodão brasileiro para Portugal e suas reexportações. Durante esses anos, foram embarcadas para o reino 5 433 087 arrobas, mais de três quartos das quais (76,1%) foram enviados para mercados estrangeiros, principalmente a Inglaterra (55,4%) e a França (31,2%). Entre 1781 e 1792, a parte do Brasil no mercado inglês de algodão em rama aumentou de 5,8 para mais de 30%. Por volta de 1800, o algodão representava 28% do valor das reexportações portuguesas de produtos oriundos do Brasil.

(Dauril Alden. “O período final do Brasil colônia: 1750-1808”
In: Leslie Bethell (org.). História da América Latina:
a América Latina colonial, vol. II, 1999. Adaptado.)

O excerto faz uma descrição abrangente

da aplicação dos princípios do liberalismo econômico nas relações comerciais.

da adoção do trabalho assalariado para aumentar o consumo de produtos industrializados.

do domínio político das nações europeias industrializadas sobre o Império português.

dos efeitos da industrialização sobre uma produção econômica em regime colonial.

do início dos movimentos de independência política das colônias americanas.

Gabarito comentado

Eulália FerreiraEx-Coordenadora de História do Colégio Pedro II (RJ), Mestra em Relações Internacionais (PUC-Rio) e Profª com o título "Notório Saber" pelo Colégio Pedro II (RJ)

Dauril Alden em seu texto “O período final do Brasil colônia: 1750-1808" traz o debate sobre o colonial tardio, ou seja, a ideia de que a colônia portuguesa na América, após a profunda crise devido à queda de sua atividade aurífera, retornou às atividades agrícolas no modelo mercantilista colonialista, mantendo-se como produtor e exportador de matéria prima. Enquanto isso, a Europa estava em pleno processo de industrialização que consolidaria o modelo capitalista dos próximos anos.

Ao mencionar em seu texto que o Brasil no período entre 1776 e 1807 teve suas exportações de algodão aumentadas significativamente, sobretudo a reexportação desse produto de Portugal à Inglaterra no mesmo período, (período em que a indústria têxtil inglesa estava crescendo) , Alden quer justificar sua tese ao traçar a ligação entre a crise econômica do Brasil pós-queda da atividade aurífera, retorno das atividades agroexportadoras e o aumento da exportação dessas para o Reino Unido que aumentava sua demanda pela matéria prima algodão em virtude do crescimento da industrialização nesse mesmo momento.

Para responder essa questão, o aluno deve ter o conhecimento das relações mercantilistas entre metrópole e colônia, sobretudo Portugal e Brasil. Também é necessário saber identificar ,em meio a dados estatísticos , as mudanças das atividades econômicas entre Brasil, Portugal e Inglaterra no período final da colonização brasileira

. A descrição do excerto é apresentada em uma das alternativas:

A) ERRADA – embora o período citado seja do final do século XVIII e início do XIX, as relações entre Brasil e Portugal seguiam o modelo mercantilista, ou seja, Portugal, sem ter estimulado seu desenvolvimento industrial, mantinha relações de exploração direta com o Brasil a partir da extração e revenda de suas matérias primas pela Europa . Ao mesmo tempo , vendia ao Brasil, com exclusividade , manufaturados.

B) ERRADA – A mão de obra produtiva no Brasil colonial era predominantemente negra escravizada. Dela dependia a atividade econômica principal brasileira que era a monocultura agroexportadora. A mão de obra livre assalariada só passa a crescer após a primeira lei inglesa de proibição do tráfico de negros escravizados vindos da África para as Américas, em 1823, com claro intuito britânico de aumentar o potencial de consumo das sociedades que estavam em processo de emancipação política ao longo da América.

C) ERRADA – Portugal dependia economicamente da Inglaterra para sustentar-se por não ter desenvolvido sua indústria e, mantido as atividades econômicas baseadas na exploração mercantilista sobre suas colônias, trazendo grande atraso em seu desenvolvimento.

D) CORRETA – A Revolução Industrial europeia do século XVIII acelerou a produção das potências do continente que passaram a buscar mais matéria prima para suas indústrias, assim como ampliar seus mercados consumidores. Nesse contexto observamos o consequente aumento da exportação de algodão do Brasil a Portugal e sua reexportação à Inglaterra, maior produtora têxtil da época.

E) ERRADA – A relação do início dos movimentos de independência na América com a industrialização está no apoio da Inglaterra, por exemplo, aos processos de emancipação política de grande parte das colônias americanas. Porém, no caso brasileiro, o período em questão não se aplica na medida em que a sua independência ocorreu em 1822.

Gabarito do Professor: Letra D.