A incivilidade gourmet
(...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo espanhol
Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo nas
escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...) A imagem
mítica do brasileiro simpático só existe no samba. Na relação
entre pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é
simpática, é uma sociedade que se mata”.
Continua a matéria, “para os leitores de Sergio Buarque de
Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as raízes da
sociedade brasileira plantadas nos terraços da escravidão, entre a
casa-grande e suas senzalas. (...) Sob a capa do afeto, o
cordialismo esconde as crueldades da discriminação e da
desigualdade.”
BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade gourmet. Carta Capital, Ano XXI,
Nº 854.
A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que o
brasileiro teria como característica a cordialidade, sendo, ao
contrário, preconceituoso e agressivo. As frases expressivas da
arrogância discriminativa presente no cotidiano da sociedade
brasileira estão indicadas em
Gabarito comentado
Alternativa correta: E
Tema central: a questão investiga manifestações cotidianas de arrogância discriminativa — expressão do cordialismo que, segundo a tradição interpretativa (Sérgio Buarque de Holanda) e críticas contemporâneas (Manuel Castells), oculta relações de poder e exclusão social.
Resumo teórico: o conceito de cordialismo sinaliza uma aparência de afeto que mascara práticas de hierarquização social. Frases que reafirmam posição, desqualificam e determinam “o lugar” do outro são exemplos práticos dessa incivilidade (ver: S. Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; entrevista de M. Castells à imprensa brasileira).
Por que a alternativa E é a correta? Ambas as falas — “O senhor sabe com quem está falando?” e “Coloque-se no seu lugar.” — expressam diretamente a defesa de status, intimidação e tentativa de silenciar/posicionar o interlocutor. São enunciados típicos de incivilidade classista e hierárquica, enquadrando o outro socialmente e manifestando discriminação no trato.
Análise das alternativas incorretas:
A: “Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade.” de fato é ofensiva e classista, mas a segunda frase (“Quem poderia resolver essa situação?”) é neutra — a dupla não apresenta uniformidade de arrogância discriminativa.
B: “E você, quem é mesmo?” soa descartativa, porém “Um momento enquanto verifico o seu processo.” é procedimento burocrático, não expressão clara de hierarquia.
C: “A culpa é da Princesa Isabel.” é deslocada/irônica e a segunda é burocrática; não articulam diretamente arrogância cotidiana.
D: “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” pode marcar status profissional, mas “O senhor será o próximo a ser atendido.” é cortês/organizacional — não há a mesma carga ofensiva explicita presente em E.
Estrategia para provas: busque pares em que ambas as frases compartilham a mesma carga semântica; desconfie de alternativas mistas (uma frase neutra + uma discriminatória). Pergunte: “ambas as falas reforçam hierarquia/discriminação?” Se sim, é provável a resposta correta.
Fontes indicadas: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; entrevista de Manuel Castells (Folha de S.Paulo / debates sobre cordialismo).
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