Questão fd3e9c10-dc
Prova:UEMA 2015
Disciplina:Sociologia
Assunto:Cultura e sociedade

A incivilidade gourmet

(...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo espanhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...) A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no samba. Na relação entre pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata”. Continua a matéria, “para os leitores de Sergio Buarque de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as raízes da sociedade brasileira plantadas nos terraços da escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. (...) Sob a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da discriminação e da desigualdade.”

BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade gourmet. Carta Capital, Ano XXI, Nº 854.

A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que o brasileiro teria como característica a cordialidade, sendo, ao contrário, preconceituoso e agressivo. As frases expressivas da arrogância discriminativa presente no cotidiano da sociedade brasileira estão indicadas em

A
”Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade.” “Quem poderia resolver essa situação?”
B
“E você, quem é mesmo?” “Um momento enquanto verifico o seu processo.”
C
“A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o número do seu protocolo, agora é só esperar”.
D
”Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor será o próximo a ser atendido.”
E
”O senhor sabe com quem está falando?” “Coloque-se no seu lugar.”

Gabarito comentado

D
Diego Hernandez, Mentor QconcursosMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: E

Tema central: a questão investiga manifestações cotidianas de arrogância discriminativa — expressão do cordialismo que, segundo a tradição interpretativa (Sérgio Buarque de Holanda) e críticas contemporâneas (Manuel Castells), oculta relações de poder e exclusão social.

Resumo teórico: o conceito de cordialismo sinaliza uma aparência de afeto que mascara práticas de hierarquização social. Frases que reafirmam posição, desqualificam e determinam “o lugar” do outro são exemplos práticos dessa incivilidade (ver: S. Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; entrevista de M. Castells à imprensa brasileira).

Por que a alternativa E é a correta? Ambas as falas — “O senhor sabe com quem está falando?” e “Coloque-se no seu lugar.” — expressam diretamente a defesa de status, intimidação e tentativa de silenciar/posicionar o interlocutor. São enunciados típicos de incivilidade classista e hierárquica, enquadrando o outro socialmente e manifestando discriminação no trato.

Análise das alternativas incorretas:

A: “Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade.” de fato é ofensiva e classista, mas a segunda frase (“Quem poderia resolver essa situação?”) é neutra — a dupla não apresenta uniformidade de arrogância discriminativa.

B: “E você, quem é mesmo?” soa descartativa, porém “Um momento enquanto verifico o seu processo.” é procedimento burocrático, não expressão clara de hierarquia.

C: “A culpa é da Princesa Isabel.” é deslocada/irônica e a segunda é burocrática; não articulam diretamente arrogância cotidiana.

D: “Eu sou o doutor Fulano de Tal.” pode marcar status profissional, mas “O senhor será o próximo a ser atendido.” é cortês/organizacional — não há a mesma carga ofensiva explicita presente em E.

Estrategia para provas: busque pares em que ambas as frases compartilham a mesma carga semântica; desconfie de alternativas mistas (uma frase neutra + uma discriminatória). Pergunte: “ambas as falas reforçam hierarquia/discriminação?” Se sim, é provável a resposta correta.

Fontes indicadas: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; entrevista de Manuel Castells (Folha de S.Paulo / debates sobre cordialismo).

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