Questão faad85cd-6b
Prova:ENEM 2020
Disciplina:História
Assunto:República Oligárquica - 1889 a 1930, História do Brasil

No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfacelar do barro, havia um longo gemido. Era o gemido soturno e lamentoso do Passado, do Atraso, do Opróbrio. A cidade colonial, imunda, retrógrada, emperrada nas velhas tradições, estava soluçando no soluçar daqueles apodrecidos materiais que desabavam. Mas o hino claro das picaretas abafava esse projeto impotente. Com que alegria cantavam elas — as picaretas regeneradoras! E como as almas dos que ali estavam compreendiam o que elas diziam, no clamor incessante e rítmico, celebrando a vitória da higiene, do bom gosto e da arte.


BILAC, O. Crônica (1904). Apud SEVCENKO, N. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1995.


De acordo com o texto, a “picareta regeneradora” do alvorecer do século XX significava a

A
erradicação dos símbolos monárquicos.
B
restauração das edificações seculares.
C
interrupção da especulação imobiliária.
D
reconstrução das moradias populares.
E
reestruturação do espaço urbano.

Gabarito comentado

Eulália FerreiraEx-Coordenadora de História do Colégio Pedro II (RJ), Mestra em Relações Internacionais (PUC-Rio) e Profª com o título "Notório Saber" pelo Colégio Pedro II (RJ)
O trecho transcrito é de uma crônica de Olavo Bilac , citada em obra do historiador Nicolau Sevcenko. Refere-se à reforma de 1904, levada a cabo no Rio de Janeiro, sob a batuta do prefeito Pereira Passos.
Pereira Passos era engenheiro e havia estudado em Paris, tendo sido aluno de Haussman, o engenheiro alemão que havia feito a reforma de Paris por encomenda do Imperador Napoleão III , no final do século XIX. A proposta da reforma no Rio era de trazer a “ modernidade e o progresso “ para a capital que ainda tinha “ranços" do período colonial e monárquico. E, o modelo era a Paris reformada. 
No entanto, o projeto visava atender as necessidades das camadas sociais mais privilegiadas. Muitas vezes a parte da “cidade colonial, imunda, retrógrada, emperrada nas velhas tradições" era onde se localizavam as casas e cortiços habitadas por uma vasta população urbana de baixa renda, composta de libertos,  mestiços, biscateiros, trabalhadores do comércio entre outros. Derrubar a parte “ velha" podia também significar a derrubada da moradia destes tipos sociais, que ficavam ao desamparo. 
Entre as alternativas apresentadas, uma indica a interpretação que pode ser dada ao termo “ picareta regeneradora" usado por Bilac 
A) INCORRETA- Muitos símbolos monárquicos não foram retirados mas ganharam nova interpretação. 
B) INCORRETA- A reforma “modernizadora" desqualificou e desconsiderou edifícios seculares, muitos dos quais foram derrubados , em nome do “ progresso".
C) INCORRETA- A especulação imobiliária não era preocupação da reforma de 1904. 
D) INCORRETA- Uma coisa que não aconteceu na reforma de 1904 foi a melhoria das moradias populares. Na verdade muitas  foram demolidas na região central do Rio de Janeiro para dar lugar à avenidas e praças.
E) CORRETA- A “ picareta regeneradora" é um símbolo da reforma urbana do prefeito Pereira Passos, feita no Rio de Janeiro, com o objetivo de modernizar a cidade.

Gabarito do Professor: Letra E.

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