Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este
nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (L.10‐11) pode ser
reescrito,sem prejuízo de sentido, da seguinte maneira: E não
se pense que este nome a alegrou,
E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et
Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a
mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, –
coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando
quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa
pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que
eu não me quero senão com dissimulados.
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da
comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia
chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este
nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário,
resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar
as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de
longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha
trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e
glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira
grandeza”.
Machado de Assis, Quincas Borba.
E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.
Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”.
Machado de Assis, Quincas Borba.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto e emprego de conjunção subordinativa concessiva. A questão exige que o candidato compreenda o valor semântico da expressão “posto que”, substituindo-a sem alterar o sentido original.
Entendendo o trecho: No contexto, "E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse", o autor destaca que, embora o apelido fosse um elogio (lisonjeasse), isso não trouxe alegria a Sofia. O núcleo é o contraste entre a lisonja e a ausência de alegria – relação clássica de concessão.
Regra gramatical: Segundo Evanildo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), conjunções concessivas introduzem orações que expressam uma concessão, uma limitação à oração principal, geralmente marcada por expressões como “embora”, “apesar de”, “posto que”. Todas equivalem a uma ideia de oposição suave ou de contraste.
Justificativa da alternativa correta:
A) “apesar de lisonjeá-la” – Substitui perfeitamente a expressão “posto que a lisonjeasse”, mantendo a ideia de concessão e contraste sem prejuízo do sentido. Assim, a frase continuaria: “E não se pense que este nome a alegrou, apesar de lisonjeá-la”. É a equivalência mais fiel ao sentido original, de acordo com a norma-padrão.
Por que as demais alternativas estão incorretas:
- B) antes a lisonjeou – Estabelece uma relação de tempo ou oposição excludente, mudando totalmente o sentido.
- C) porque a lisonjeava – Introduz valor causal, oposto à ideia de concessão. Não cabe, pois o motivo da alegria não é a lisonja, mas sim apesar dela.
- D) a fim de lisonjeá-la – Expressa finalidade, desviando totalmente o sentido original.
- E) tanto quanto a lisonjeava – Traz sentido comparativo, sem relação com concessão.
Dica de interpretação: Sempre que o texto apresentar conectivos como “posto que”, “embora”, “apesar de”, pense em contraste/concessão. Atente-se para trocas de conectivos em alternativas: é uma pegadinha comum em concursos!
Resumo:
A alternativa A é a correta porque mantém o sentido concessivo de “posto que”, conforme a norma-padrão e gramáticas de referência como Bechara e Cunha & Cintra.
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