Questão f4918cef-d9
Prova:FAMERP 2019
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Tipos de Discurso: Direto, Indireto e Indireto Livre

No primeiro parágrafo, o trecho “Livre em todas as minhas ações, não quero sujeitar-me à lei absurda que a sociedade me impõe” é parte da fala do personagem Luís Soares. O mesmo trecho, em discurso indireto, seria:

Leia o início do conto “Luís Soares”, de Machado de Assis, para responder à questão. 

    Trocar o dia pela noite, dizia Luís Soares, é restaurar o império da natureza corrigindo a obra da sociedade. O calor do sol está dizendo aos homens que vão descansar e dormir, ao passo que a frescura relativa da noite é a verdadeira estação em que se deve viver. Livre em todas as minhas ações, não quero sujeitar-me à lei absurda que a sociedade me impõe: velarei de noite, dormirei de dia.
    Contrariamente a vários ministérios, Soares cumpria este programa com um escrúpulo digno de uma grande consciência. A aurora para ele era o crepúsculo, o crepúsculo era a aurora. Dormia 12 horas consecutivas durante o dia, quer dizer das seis da manhã às seis da tarde. Almoçava às sete e jantava às duas da madrugada. Não ceava. A sua ceia limitava-se a uma xícara de chocolate que o criado lhe dava às cinco horas da manhã quando ele entrava para casa. Soares engolia o chocolate, fumava dois charutos, fazia alguns trocadilhos com o criado, lia uma página de algum romance, e deitava-se.
    Não lia jornais. Achava que um jornal era a cousa mais inútil deste mundo, depois da Câmara dos Deputados, das obras dos poetas e das missas. Não quer isto dizer que Soares fosse ateu em religião, política e poesia. Não. Soares era apenas indiferente. Olhava para todas as grandes cousas com a mesma cara com que via uma mulher feia. Podia vir a ser um grande perverso; até então era apenas uma grande inutilidade.

(Contos fluminenses, 2006.)

A
Luís Soares dizia que, livre em todas as suas ações, não quer sujeitar-se à lei absurda que a sociedade lhe impõe.
B
Luís Soares dizia, livre em todas as suas ações, que não quer sujeitar-se à lei absurda que a sociedade o impõe.
C
Luís Soares dizia que, livre em todas as suas ações, não queria sujeitar-se à lei absurda que a sociedade o impunha.
D
Luís Soares dizia, livre em todas as suas ações, que não quis sujeitar-se à lei absurda que a sociedade o impôs.
E
Luís Soares dizia que, livre em todas as suas ações, não queria sujeitar-se à lei absurda que a sociedade lhe impunha.

Gabarito comentado

A
Andreia FerrazMentora Qconcursos

Tema central: Transformação do Discurso Direto em Discurso Indireto

Esta questão avalia a capacidade de converter a fala direta do personagem para o discurso indireto, exigindo domínio das regras gramaticais de mudança de pronomes, tempos verbais e regência, conforme a norma-padrão.

Justificativa da Alternativa Correta (E):

A alternativa E está correta porque apresenta todas as adaptações necessárias exigidas pela passagem do discurso direto ao indireto:

  • Mudança de pronomes: “minhas ações” → “suas ações”;
  • Tempo verbal: “não quero” → “não queria” (presente → pretérito imperfeito), conforme recomendado por Cunha & Cintra;
  • Regência pronominal: “me impõe” → “lhe impunha”. O verbo “impor” exige objeto indireto. “Lhe” está correto para referir-se a “ele”, como defendido por Bechara.
A alternativa espelha, assim, a forma correta de transpor o sentido e a estrutura da fala para o relato indireto, mantendo fidelidade informativa e gramatical.

Análise das alternativas incorretas:

  • A: Erra ao manter “quer” (presente) em vez de “queria” (pretérito imperfeito).
  • B: Utiliza “quer” (presente) e “que a sociedade o impõe” – o correto seria “lhe impunha”. “O” é objeto direto, inadequado para este caso.
  • C: Apesar do tempo verbal correto (“queria”), usa “o impunha” em vez de “lhe impunha” (erro de regência pronominal).
  • D: Uso errado do tempo (“quis”) e regência (“o impôs”). Perde a ideia habitual do discurso indireto, que pede pretérito imperfeito, não perfeito.

Estratégia para provas: Sempre adeque pronomes e tempos verbais e atente-se à regência dos verbos ao converter discurso direto em indireto. Use a conjunção “que” e lembre-se de que o objeto indireto de “impor” é representado por “lhe”.

Referências: Bechara: Moderna Gramática Portuguesa; Cunha & Cintra: Nova Gramática do Português Contemporâneo.

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