As sociedades humanas podem ser compreendidas com base no exame de suas representações coletivas, suas categorias de classificação que podem ser percebidas nas maneiras de se comportar dos seus membros, nos hábitos mais comuns do seu cotidiano, nas suas expressões e valorações presentes na linguagem. No Brasil, vários pensadores sociais tentaram interpretar a sociedade brasileira. Sobre os Intérpretes do Brasil, entre eles Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto Da Matta, Gilberto Freire e Raymundo Faoro, é INCORRETO afirmar.

Para Euclides da Cunha, é possível entender o Brasil a partir das categorias de litoral e de sertão. As organizações sociais do tipo que se encontrava no litoral limitavam-se a copiar as formas europeias, destinando o País à submissão permanente. Por outro lado, Euclides afirma que uma nação efetivamente brasileira e capaz de realizar um projeto nacional autônomo teria que originar-se na população sertaneja. Em seu trabalho, o autor destaca o sertanejo como o personagem histórico capaz de impulsionar a formação da nação autônoma.

Para Sérgio Buarque de Holanda, o Brasil pode ser compreendido a partir do estudo das suas raízes socioculturais. Ele constrói um panorama histórico de nossa estrutura política, econômica e social influenciada pelo modelo português. O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda é um território de desterro do europeu que aqui se constitui enquanto homem cordial e organiza-se pelo personalismo, patriarcalismo e autoritarismo, porém que precisa se tornar uma democracia.

Para Roberto Da Matta, os vários paradoxos e tensões que constituem nossa maneira de ser são um caminho possível para entender o Brasil. Tais paradoxos e tensões podem ser vistos no fato do brasileiro acreditar ser importante respeitar a lei, por outro lado, esse mesmo brasileiro acha lícito recorrer ao famoso “jeitinho”.

Para Gilberto Freire, o Brasil pode ser compreendido a partir de uma interpretação histórica da realidade econômica e, em especial, do seu subdesenvolvimento, entendidos como fruto de relações internacionais.

Para Raymundo Faoro, o Brasil pode ser compreendido a partir da formação do patronato político e do patrimonialismo do Estado brasileiro, levando-se em consideração as características da colonização portuguesa.

Gabarito comentado

Sofia LopezMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: D

Tema central: trata-se dos principais intérpretes da sociedade brasileira — suas obras-guia e categorias explicativas (sertão/litoral; homem cordial; jeitinho; mestiçagem; patrimonialismo). Para responder, identifique o conceito-chave associado a cada autor e sua obra.

Por que a alternativa D é a INCORRETA? A afirmação atribui a Gilberto Freyre (observação: grafia correta Freyre) uma explicação do subdesenvolvimento pautada em relações internacionais/dependência. Na verdade, a obra central de Freyre — Casa-Grande & Senzala (1933) — enfatiza a formação social e cultural brasileira (plantation, patriarcado, mestiçagem, relações senhoriais), não uma teoria do subdesenvolvimento vinculada à dependência externa. A explicação de subdesenvolvimento por relações internacionais é mais próxima de autores como Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil) e da teoria da dependência (ex.: Cardoso & Faletto).

Análise das demais alternativas (corretas):

A — Correta. Euclides da Cunha (Os Sertões) contrapõe litoral e sertão e valoriza o sertanejo como ator histórico essencial na formação nacional.

B — Correta. Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil) analisa a herança portuguesa, o “homem cordial” e o personalismo/patriarcalismo que marcam a sociabilidade política brasileira.

C — Correta. Roberto DaMatta discute paradoxos culturais (respeito à lei vs. “jeitinho”) em estudos como Carnavais, Malandros e Heróis, mostrando tensões entre norma e prática social.

E — Correta. Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder, analisa o patrimonialismo e o patronato político como traços centrais do Estado brasileiro.

Dica de prova: ao identificar autoras/os, associe rapidamente palavra-chave + obra. Se a alternativa atribui a um autor uma leitura que contraria sua obra-síntese (ex.: Freyre = dependência), é sinal de erro.

Principais referências: Euclides da Cunha, Os Sertões; Gilberto Freyre, Casa‑Grande & Senzala; Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Roberto DaMatta, obras sobre cultura e jeitinho; Raymundo Faoro, Os Donos do Poder; Celso Furtado e Cardoso & Faletto (teoria da dependência).

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