[...] Considerando-se que os povos das minas por não estarem suficientemente civilizados e estabelecidos em
forma de republicas regulares, facilmente rompem em alterações e desobediências e se lhe devem aplicar todos
os meios que os possa reduzir a melhor forma: me parecem engarregar-vos como por essa o faço procureis com
toda diligência possível para que as pessoas principais e ainda quaisquer outras tomem o estado de casados e se
estabeleçam com suas famílias reguladas na parte que elegeram para sua conveniência do sossego dela e
consequentemente ficarão mais obedientes às minhas realis ordens e os filhos que tiverem do matrimônio o façam
ainda mais obedientes [...]
(Carta de D. Lourenço de Almeida ao Rei. Vila Rica, 19 de abril de 1722, p. 111. Citada por LEWKOWICZ, Ida. Concubinato e
casamento nas Minas Setencentistas. In.: RESENDE, Maria Efigênia Lage, VILLALTA, Luiz Carlos (orgs). História de Minas Gerais:
As Minas Setecentistas (V.2). Belo Horizonte: Autentica, 2007. P. 532-533.)
O trecho acima demonstra a preocupação da administração colonial com os casamentos nas Minas Gerais.
Lewkowicz analisou os casamentos e a noção defendida pela Coroa de que os “mineiros aparentemente não
gostavam de casar”. Essa falta de gosto pelo casamento é percebida na grande quantidade das uniões ilegítimas
e no considerável número de famílias que vivia em domicílios chefiados por mulheres solteiras com seus filhos nas
Minas. Considerando-se o contexto colonial como um todo, é indicação da ilegitimidade das uniões em Minas:
[...] Considerando-se que os povos das minas por não estarem suficientemente civilizados e estabelecidos em forma de republicas regulares, facilmente rompem em alterações e desobediências e se lhe devem aplicar todos os meios que os possa reduzir a melhor forma: me parecem engarregar-vos como por essa o faço procureis com toda diligência possível para que as pessoas principais e ainda quaisquer outras tomem o estado de casados e se estabeleçam com suas famílias reguladas na parte que elegeram para sua conveniência do sossego dela e consequentemente ficarão mais obedientes às minhas realis ordens e os filhos que tiverem do matrimônio o façam ainda mais obedientes [...]
(Carta de D. Lourenço de Almeida ao Rei. Vila Rica, 19 de abril de 1722, p. 111. Citada por LEWKOWICZ, Ida. Concubinato e casamento nas Minas Setencentistas. In.: RESENDE, Maria Efigênia Lage, VILLALTA, Luiz Carlos (orgs). História de Minas Gerais: As Minas Setecentistas (V.2). Belo Horizonte: Autentica, 2007. P. 532-533.)
O trecho acima demonstra a preocupação da administração colonial com os casamentos nas Minas Gerais.
Lewkowicz analisou os casamentos e a noção defendida pela Coroa de que os “mineiros aparentemente não
gostavam de casar”. Essa falta de gosto pelo casamento é percebida na grande quantidade das uniões ilegítimas
e no considerável número de famílias que vivia em domicílios chefiados por mulheres solteiras com seus filhos nas
Minas. Considerando-se o contexto colonial como um todo, é indicação da ilegitimidade das uniões em Minas:
Gabarito comentado
Resposta correta: A
Tema central: desigualdade de gênero e regimes matrimoniais nas Minas setecentistas: por que havia tantas uniões ilegítimas e famílias chefiadas por mulheres?
Resumo teórico (claro e progressivo): as áreas de mineração do século XVIII atraíram grande número de homens livres e foragidos, criando forte desequilíbrio demográfico entre os sexos. Além disso, a hierarquia social colonial fazia diferença: homens de posição procuravam esposas de mesma condição social — escassas nas vilas mineradoras. Assim, muitos formavam uniões informais (concubinato) com mulheres mestiças ou escravizadas; isso gerou preocupação das autoridades e da Igreja com a ordem social, a legitimação de herdeiros e a obediência às ordens régias (Lewkowicz, 2007).
Por que a alternativa A é correta: o enunciado e a fonte de Lewkowicz mostram que a Coroa e os administradores queriam que as “pessoas principais” se casassem e estabelecessem famílias para aumentar a obediência e a ordem. O problema apontado não era excesso de mulheres, nem só instabilidade laboral, mas a escassez de mulheres brancas de condição equivalente aos homens livres e principais da colônia — o que explicava a alta incidência de uniões ilegítimas e concubinato.
Análise das alternativas incorretas:
B — A falta de oportunidades de trabalho que impedisse fixação não é o fator central em Minas; a economia aurífera reteve muitos homens na região, mas sem mulheres compatíveis socialmente. Logo, não explica a ilegitimidade dominante.
C — Contradiz a realidade demográfica: havia deficit de mulheres, não excesso. Portanto é claramente equivocada.
D — A dificuldade de enriquecer podia postergar casamentos em alguns casos, mas não explica por que surgiram tantos lares chefiados por mulheres e o predomínio do concubinato. A explicação mais direta e documentada é a barreira de status e a escassez de mulheres brancas apropriadas.
Dica de resolução de prova: identifique palavras-chaves do enunciado como “ilegitimidade”, “pessoas principais” e conecte-as ao contexto demográfico-social (desequilíbrio entre os sexos e hierarquia racial/social). Elimine alternativas que contrariem dados demográficos básicos ou que sejam generalizações vagas.
Fonte-chave: Lewkowicz, Ida. “Concubinato e casamento nas Minas Setecentistas”. In: Resende, M. E. L.; Villalta, L. C. (orgs.), História de Minas Gerais: As Minas Setecentistas (Vol. 2). Autêntica, 2007.
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