Questão eceaa5a7-b9
Prova:UNIVESP 2014
Disciplina:História
Assunto:Período Colonial: produção de riqueza e escravismo, História do Brasil

Leia os textos abaixo para responder à questão.

Texto 1

“E se o castigo for frequente e excessivo, ou se irão embora, fugindo para o mato, ou se matarão por si, como costumam, tomando a respiração ou enforcando-se, ou procurarão tirar a vida aos que lhe dão tão má, recorrendo se for necessário a artes diabólicas, ou clamarão de tal sorte a Deus, que os ouvirá e fará aos senhores o que já fez aos egípcios, quando avexavam com extraordinário trabalho aos hebreus, mandando as pragas terríveis contra suas fazendas e filhos.”

(Padre Antonil, CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL,1710.)


Texto 2

“O escravo torna possível o jogo social, não porque garanta a totalidade do trabalho material (isso jamais será verdade), mas porque seu estatuto de anticidadão, de estrangeiro absoluto, permite que o estatuto do cidadão se desenvolva; porque o comércio de escravos e o comércio simplesmente, a economia monetária, permitem que um número bem excepcional de atenienses sejam cidadãos.”

(Pierre Vidal-Naquet, TRABALHO E ESCRAVIDÃO NA GRÉCIA

ANTIGA.)


Texto 3

“Algumas escravas procuram de propósito abortar, só para que não cheguem os filhos de suas entranhas a padecer o que elas padecem.”

(André João Antonil, CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL, 1711.)



Com base na questão do escravo na antiga Grécia e na colonização brasileira, analise as proposições abaixo.


I. No Texto 1, o autor procura mostrar diversas ações de rebeldias que os escravos poderiam ter caso fossem violentados, levando até a predestinar que poderia acabar em uma grande tragédia para os negros fugidos, da mesma forma que ocorreu com o povo egípcio na passagem mitológica.


II. O Texto 2 mostra a importância da escravidão para a consolidação do papel da cidadania na Grécia e como esse papel proporcionou o crescimento da economia ateniense.


III. No Texto 3, mostra-se o descaso que certas mulheres tinham com relação a sua prole, muito por conta das condições higiênicas em que eram feitos os partos nas senzalas, o que levava a preferir o aborto a uma morte prematura por doenças.


IV. Os três textos mostram posturas e condições escravistas, podendo-se concluir que tanto na Grécia quanto no Brasil colônia a condição de escravidão era a mesma em todos os aspectos.


É correto o que se afirma em

A
I e II, apenas.
B
II, apenas.
C
III, apenas.
D
I e IV, apenas.
E
III e IV, apenas.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: B — II, apenas.

Tema central: trata-se da escravidão em contextos distintos (Grécia antiga e Brasil colonial): como o trabalho escravo estruturava relações sociais, cidadania e as estratégias de sobrevivência e resistência dos escravizados.

Resumo teórico rápido e progressivo: - Na Grécia clássica: a escravidão era uma instituição urbana/doméstica e econômica que permitia o desenvolvimento político dos cidadãos (participação cívica), não sendo necessariamente racializada. (Vidal-Naquet) - No Brasil colonial: predominou a escravidão chattel, racializada e ligada à agroexportação (plantation), com reprodução forçada, violência extrema e estratégias de resistência cotidiana e extrema (fugas, abortos, suicídios). (André João Antonil; também ver Orlando Patterson, Slavery and Social Death)

Justificativa da alternativa correta (II): O Texto 2 (Vidal-Naquet) afirma que o estatuto do escravo como “anticidadão” possibilitava que a condição de cidadão se desenvolvesse para um número significativo de atenienses — isto é exatamente a ideia de que a escravidão sustentava a vida pública e a economia ateniense. Logo, a afirmação II resume corretamente o sentido do texto: a escravidão foi central para a consolidação do papel da cidadania e contribuiu para a economia ateniense.

Análise das alternativas incorretas: - I (errada): o Texto 1 (Antonil) relata possibilidades de reação dos escravos e adverte que maus-tratos podem provocar rebeliões ou clamor divino contra os senhores. A proposição erra ao dizer que o autor “predestina” uma grande tragédia para os negros fugidos comparável à dos egípcios; na verdade a ameaça referida é contra os senhores, não uma predestinação de tragédia para os fugitivos. É interpretação imprecisa do foco do texto. - III (errada): o Texto 3 registra que algumas escravas procuravam abortar para poupar filhos do sofrimento. A proposição interpreta isso como “descaso” materno por causa de condições higiênicas — leitura inadequada: trata-se de uma estratégia de proteção frente à brutalidade do sistema, não mera negligência. - IV (errada): generaliza que a escravidão era “a mesma em todos os aspectos” na Grécia e no Brasil colonial. Isso é falso: regimes, bases econômicas, racialização, formas jurídicas e modos de resistência diferiam profundamente entre os dois casos.

Dica de prova: desconfie de afirmações absolutas (como “a mesma em todos os aspectos”) e de leituras que atribuem intenções morais simplistas ao sujeito histórico; identifique o foco do enunciado (quem fala? a quem se dirige?) e compare contextos antes de aceitar generalizações.

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