Questão eae0f37b-7f
Prova:IMT - SP 2020
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Problemas da língua culta, Coesão e coerência, Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal

Para ______, disse o patrão, o criado visava ____ tostões______ vários anos.
Completa-se corretamente a frase acima com as palavras da alternativa

Papéis Velhos 


Vou ocupar o tempo em reler uns papéis velhos que o meu criado José achou dentro de uma velha mala e me trouxe agora. A cara dele tinha a expressão de prazer que dá o serviço inesperado; aquele gosto de descobrir papéis que podem ser importantes fazia-o risonho, olhos escancarados, quase comovidos.

- Vossa Excelência talvez os procure há muito tempo.

Eram cartas, apontamentos, minutas, contas, um inferno de lembranças que era melhor não se terem achado. Que perdia eu sem elas? Já não curava delas; provavelmente não me fariam falta. Agora estou entre estes dois extremos, ou lê-las, primeiro, ou queimá-las já. Inclino-me ao segundo. Ante mim continuava o meu José com a mesma expressão de gosto que lhe deu o achado. Naturalmente agradecia à sua boa Fortuna que lhe deparou; contará que é mais um elo que nos prende. Talvez a ideia que o levou à mala fosse a esperança de algum valor extraviado, uma joia, por exemplo, ou ainda menos, uma camisa, um colete, e sendo assim o silêncio era mui possível. Achou papéis velhos, veio fielmente entregar-mos.

Não lhe quero mal por isso. Não lhe quis no dia em que descobri que ele me levava dos coletes, ao escová-los, dois ou três tostões por dia. Foi há dois meses, e possivelmente já o faria antes, desde que entrou cá em casa. Não me zanguei com ele; tratei de acautelar os níqueis, isso sim; mas, para que não se creia descoberto, lá deixei alguns, uma vez ou outra, que ele pontualmente diminui; não me vendo zangar é provável que me chame nomes feios, descuidado, tonto, papalvo que seja... Não lhe quero mal do furto nem dos nomes.

Ele serve bem e gosta de mim; podia levar mais e chamar-me pior.  

Resolvo mandar queimar os papéis, ainda que dê grande mágoa ao José que imaginou haver achado recordações grandes e saudades. Poderia dizer-lhe que a gente traz na cabeça outros papéis velhos que não ardem nunca nem se perdem por malas antigas; não me entenderia.


(Machado de Assis)


 

A
eu - os - havia
B
mim - os - haviam
C
eu - aos - havia
D
mim - aos - havia
E
mim - lhes - haviam

Gabarito comentado

Q
Qesia Nunes Monitor do Qconcursos

Tema central: Esta questão aborda regência verbal, uso correto de pronomes (“para mim”/“para eu”) e concordância do verbo haver no sentido de existir, exigindo atenção à norma-padrão da Língua Portuguesa para preencher corretamente as lacunas de uma frase extraída do texto.

Justificativa da alternativa correta (D):

1. “Para mim”: Após “para” (preposição), utiliza-se “mim” (pronome oblíquo) quando não há verbo no infinitivo a seguir. “Eu” seria empregado se, após a preposição, viesse um verbo (“para eu fazer”). Neste contexto, “para mim” indica destinatário, funcionando como objeto indireto.

2. “Aos”: O verbo “visar”, no sentido de “ter como objetivo”, exige a preposição “a”. O complemento é “aos tostões”, ou seja, “visava aos tostões”.

3. “Havia”: O verbo “haver”, com sentido de existência, é impessoal e deve ser usado sempre no singular: “havia vários anos”.

Alternativa correta: D) mim - aos - havia

Análise das alternativas incorretas:

A) “eu - os - havia”: “eu”, sujeito, só se usado antes de verbo no infinitivo; “os” erra a regência (falta o “a” exigido por “visar”).

B) “mim - os - haviam”: “os” erra a regência, e “haviam” está no plural, o que não se permite com verbo haver impessoal.

C) “eu - aos - havia”: “eu” usado incorretamente após preposição, pois não ocupa função de sujeito de verbo no infinitivo.

E) “mim - lhes - haviam”: “lhe(s)” equivale a “a eles”, inadequado aqui; “haviam” novamente viola regra do verbo haver impessoal.

Estratégia de resolução: Em questões assim, analise primeiro a presença de verbos no infinitivo (definindo “para mim” ou “para eu”), depois a regência verbal (“visar” exige “a”) e, por fim, confira se os verbos impessoais estão no singular (“havia” sempre singular quando equivale a “existia”).

Referências: Bechara, Moderna Gramática Portuguesa; Cunha & Cintra, Nova Gramática.

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