Ao caracterizar a escravidão na África e a venda de escravos por africanos para europeus nos séculos XVI a XIX, o texto
Os africanos não escravizavam africanos, nem se reco-nheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos deuses. (...) Quando um chefe (...) en-tregava a um navio europeu um grupo de cativos, não estava vendendo africanos nem negros, mas (...) uma gente que, por ser considerada por ele inimiga e bárbara, podia ser escra-vizada. (...) O comércio transatlântico (...) fazia parte de um processo de integração econômica do Atlântico, que envolvia a produção e a comercialização, em grande escala, de açúcar, algodão, tabaco, café e outros bens tropicais, um processo no qual a Europa entrava com o capital, as Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é, com a mão de obra cativa.(Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos, 2008. Adaptado.)
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C
Tema central: o texto diferencia formas de escravidão na África e mostra como a atuação europeia e a demanda atlântica transformaram práticas locais. É importante para provas entender a distinção entre escravidão como instituição social pré-existente e o comércio em larga escala impulsionado por interesses europeus.
Resumo teórico e contextualização: A África era politicamente e culturalmente heterogênea: identidades locais (aldeia, reino, língua) predominavam sobre uma identidade “africana” unitária. A escravidão existia em diversas formas (prisioneiros de guerra, servidão por dívida, punições), sem que fosse necessariamente definida por raça. Com o comércio transatlântico e a economia de plantation, a escala, o caráter comercial e a desumanização aumentaram, transformando práticas locais em uma fonte massiva de mão de obra cativa (ver Curtin; Thornton; Elikia M'Bokolo; Alberto da Costa e Silva).
Justificativa da alternativa C: O item C afirma que o texto diferencia a escravidão africana da existente na Europa/colônias, a partir da heterogeneidade africana — exatamente o ponto central do trecho: líderes vendiam inimigos identificados por vínculo local, não “africanos” como categoria racial, e o comércio transatlântico introduziu nova lógica econômica. Logo, C corresponde fielmente ao argumento do texto.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. Contradiz o texto; este nega que a distinção escravo/livre fosse definida por características raciais na África tradicional.
B — Incorreta. Embora critique a interferência europeia, o texto não afirma que os líderes africanos rejeitavam o comércio; muitos participaram, entregando cativos por interesses políticos ou econômicos.
D — Incorreta. O texto aponta integração econômica atlântica (Europa capital, Américas terra, África trabalho), mas não afirma que a presença europeia promoveu “maior integração e colaboração interna” entre povos africanos — ao contrário, intensificou conflitos e redes de captura.
E — Incorreta. Atribuir a responsabilidade apenas aos africanos é uma simplificação equivocada; o comércio foi fomentado por demanda europeia e por estruturas econômicas atlânticas que transformaram e escalaram a escravização (leitura crítica necessária).
Dica de prova: Procure no texto palavras-chave que indicam abrangência (ex.: “não se reco-nheciam como africanos”) e evite alternativas com generalizações absolutas ou que omitam o papel europeu/institucional na criação do sistema escravista em larga escala.
Fontes sugeridas: Alberto da Costa e Silva (obra citada), Philip Curtin, John Thornton, Elikia M'Bokolo.
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