(...) a mudança do agir no campo da atividade ética levou à necessidade de racionalizar a ação até o máximo, para obter um sucesso terreno que era avaliado, antes de tudo, em termos éticos-religiosos. O mecanismo que daí nasceu e que estimulou não ao consumo, mas à poupança para poder reinvestir em novas atividades econômicas, teria dado lugar à acumulação primária, demonstrando assim a importância do Puritanismo como elemento propulsor do capitalismo.

                                                       (Norberto Bobbio et al. Dicionário de Política. Trad. Brasília, UnB, 1983) 


A alternativa, cuja afirmação relaciona-se corretamente com as ideias do texto, é:

Resposta correta: E

Tema central: a relação entre as doutrinas protestantes (especialmente o calvinismo/puritanismo) e o surgimento de um espírito favorável ao capitalismo — ideia formulada classically por Max Weber e citada no texto de apoio.

Resumo teórico: o calvinismo ensinava a doutrina da predestinação. Como não havia garantia de salvação por obras, a conduta ascética e o sucesso material passaram a ser vistos como possíveis sinais da eleição divina. Essa ética do trabalho ("calling") estimulou o trabalho disciplinado, a poupança e o reinvestimento em atividades produtivas — fatores que contribuíram para a acumulação de capital e o desenvolvimento do capitalismo moderno (ver Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo; Norberto Bobbio, Dicionário de Política).

Por que a alternativa E é correta: ela afirma que as doutrinas da Reforma, especialmente o calvinismo, ofereceram uma justificativa ética para o lucro da burguesia, algo que a Igreja Católica frequentemente desconsiderava ou via com suspeita. Isso corresponde ao argumento do texto e à interpretação weberiana: o protestantismo legitimou, indiretamente, a busca racional por lucro ao valorizá-la como expressão de uma vocação ética.

Análise das alternativas incorretas:

A: incorreta — exagera ao dizer que a doutrina prometia ajuda material direta aos predestinados; a teologia não garantia prosperidade como recompensa automática, apenas interpretava o sucesso como possível sinal da eleição.

B: incorreta — afirma que o calvinismo recomendava "boas obras" para alcançar o reino de Deus; na verdade, o calvinismo enfatiza a fé e a predestinação; boas obras são consequência/evidência, não meio de obtenção da salvação.

C: incorreta — afirma que a Reforma combateu o interesse econômico da burguesia; contradiz a tese central: a Reforma favoreceu uma ética que tornou a atividade econômica respeitável e eticamente justificável.

D: incorreta — confusa e invertida: a Reforma não foi “prejudicada” por mudanças comerciais; ao contrário, ela contribuiu para a transformação ética que beneficiou o desenvolvimento capitalista e a burguesia.

Dica de prova: ao ler alternativas, destaque termos-chave do enunciado (poupança, reinvestir, ética religiosa, calvinismo). Busque coerência com conceitos como predestinação, ascetismo secular e "vocação" (calling). Desconfie de opções que misturam causa/efeito ou atribuem à doutrina o que foi efeito social.

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