O trecho Não é uma existência, é
uma expiação, que compõe o último parágrafo do
texto, poderia ser substituído, sem perda de sentido,
pela seguinte alternativa:
Leia o texto a seguir para responder à questão.
Uma campanha alegre
O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os
costumes estão dissolvidos e os caracteres
corrompidos. A prática da vida tem por única direção
a conveniência. Não há princípio que não seja
desmentido, nem instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita. Não existe nenhuma
solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na
honestidade dos homens públicos. A classe média
abate-se progressivamente na imbecilidade e na
inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos
vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo
pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao
acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo!
Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio
invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida,
das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A
ruína econômica cresce, cresce, cresce... O comércio
definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A
renda diminui. O Estado é considerado na sua ação
fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
Neste salve-se quem puder, a burguesia proprietária
de casas explora aluguel. A agiotagem explora o juro.
(…) A intriga política alastra-se por sobre a
sonolência enfastiada do País. Apenas a devoção
perturba o silêncio da opinião, com padre-nossos
maquinais.
Não é uma existência, é uma expiação.
Disponível em: QUEIROZ, E. Obras de Eça de Queiroz. Vol.
III. Porto: Lello & Irmão, [s.d.], p. 959-960.
Não é uma existência, é uma expiação.
Gabarito comentado
Conteúdo central da questão: Trata-se de uma questão de interpretação de texto com foco em semântica, ou seja, é necessário compreender o significado do termo “expiação” dentro do contexto apresentado por Eça de Queiroz. Esse entendimento depende da capacidade de captar o sentido profundo do texto, relacionando-o a expressões equivalentes na norma-padrão.
Justificativa da alternativa correta (A): “Isso não é vida, é um cumprimento de pena.”
Pela análise semântica, o termo “expiação” significa sofrimento, punição ou penitência imposta. No contexto do texto, o autor afirma que viver nesse estado de decadência e tédio é equivalente a pagar um castigo — não se trata de uma existência plena, mas de um padecimento contínuo. A expressão “cumprimento de pena” traduz com precisão a ideia original, pois remete ao conceito jurídico e moral de pagar por um erro ou culpa.
Autores como Cunha & Cintra enfatizam que a equivalência semântica é essencial para evitar a perda de sentido em paráfrases. Além disso, o uso de expressões metafóricas, como observado no trecho, é comum na construção textual de Eça, reforçando a ideia de vida enquanto sofrimento.
Por que as demais alternativas estão incorretas?
- B) Expressa resignação (“Não é a vida que pedi a Deus, mas é a que tenho”), o que não equivale ao sentido de castigo ou sofrimento atrelado a “expiação”.
- C) A alternativa fala de capacidade ou comparação (“posso fazer melhor que isso”), fugindo completamente da ideia de sofrimento coletivo proposta pelo texto.
- D) Sugere que as dificuldades dependem da fraqueza pessoal (“pra quem é mole”), e não de um castigo coletivo, descaracterizando o sentido original.
- E) “É uma exceção” só indica algo fora do comum, sem qualquer carga de sofrimento ou penalidade, destoando do contexto.
Dica importante de prova: Em questões de paráfrase, busque termos estritamente equivalentes ao original. Fique atento ao campo semântico das palavras-chave e ao tom adotado pelo autor. As bancas costumam inserir opções próximas, porém insuficientes ou com desvios de sentido — leia atentamente cada alternativa, buscando o “espírito” da mensagem original.
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