Questão d9a7bfc7-dd
Prova:FGV 2012
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

A partir do século X, mas principalmente do XI, é o grande período de urbanização – prefiro utilizar esse termo mais do que o de renascimento urbano, já que penso que, salvo exceção, não há continuidade entre a Idade Média e a Antiguidade.
LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. Conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Unesp, 1998, p. 16.

A respeito das cidades medievais, após o ano mil, é CORRETO afirmar:

A
Tornaram-se centros econômicos e financeiros e vinculados às rotas mercantis e à produção agrária das áreas rurais próximas.
B
Eram fundamentalmente sedes episcopais e centros administrativos do Sacro Império Romano Germânico.
C
Tornaram-se núcleos da produção industrial que começou a desenvolver-se sobretudo no norte da Itália, a partir do século XI.
D
Tornaram-se os principais entrepostos do comércio de escravos africanos desde o início das Cruzadas.
E
Apresentaram-se como legado das póleis gregas e das cidades romanas da Antiguidade.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: A

Tema central: urbanização medieval (séc. X–XII). A questão avalia a compreensão de como e por que as cidades reaparecem e crescem na Europa após o ano 1000 — sobretudo como centros econômicos ligados às rotas comerciais e ao espaço rural circundante.

Resumo teórico: a partir do século XI houve um renovado dinamismo comercial e demográfico: retorno de feiras, maior circulação de mercadorias, especialização artesanal e formação de mercados urbanos que dependiam do excedente agrário das regiões próximas. Surgem burgos, com privilégios e feudos urbanos, corporações de ofício e um comércio inter-regional (Itália, Flandres, Rota do Báltico). Essa interpretação é discutida por historiadores como Jacques Le Goff e dialoga com a tradição pirenneana (Henri Pirenne) sobre o papel do comércio na formação das cidades.

Por que A é a correta: descreve precisamente o papel predominante das cidades medievais após o ano 1000: centros de troca, finanças incipientes (cambistas, empréstimos comerciais), e nós nas rotas mercantis, articulando-se com a produção agrária das áreas rurais próximas. Essa caracterização casa com a evidência documental de feiras, cartas de franquia e o crescimento de mercados urbanos.

Análise das alternativas incorretas:

B — Incorreta: muitas cidades eram sedes episcopais, mas não fundamentalmente todas nem formavam um bloco administrativo do Sacro Império Romano-Germânico. Havia cidades livres, comunas italianas e centros comerciais independentes.

C — Incorreta: fala em "produção industrial" a partir do séc. XI, termo anacrônico. Havia ofícios e manufaturas urbanas (tecelagem, curtumes), especialmente no Norte da Itália, mas não indústria nos moldes modernos — melhor falar em manufatura ou proto-artesanato urbano.

D — Incorreta: o comércio de escravos existia, mas as cidades medievais não se tornaram, desde o início das Cruzadas, os principais entrepostos do comércio de escravos africanos. O tráfico atlântico e a escala comercial de escravização são fenômenos posteriores e distintos.

E — Incorreta: sugere continuidade direta com as póleis gregas e cidades romanas; Le Goff (citado no enunciado) enfatiza que o crescimento urbano medieval é um fenômeno de renovação, sem continuidade estrutural direta com a Antiguidade.

Dica de prova: desconfie de termos absolutos ("fundamentalmente", "desde o início") e de palavras anacrônicas ("industrial" no contexto medieval). Relacione sempre cidade ↔ comércio ↔ produção rural ao interpretar alternativas sobre urbanização medieval.

Fontes sugeridas: Jacques Le Goff, Por amor às cidades (1998); Henri Pirenne, Medieval Cities (1927).

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