Questão d8999da1-05
Prova:PUC-MINAS 2021
Disciplina:Português
Assunto:Análise sintática, Sintaxe, Pontuação, Uso da Vírgula

Atente para o excerto dado:

A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda.

Nesse trecho destacado, vemos o emprego da vírgula – importante sinal de pontuação – com as funções indicadas a seguir, EXCETO:

Texto 2 / Parte 2
A importância do ato de ler2
Paulo Freire

Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa.

Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 

Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. [...] 

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... 

Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e estudantes. 

A
evidenciar termo ou expressão intercalado(a) ou topicalizado(a).
B
explicitar uma enumeração de elementos de mesma natureza.
C
indicar uma alternância ou introduzir uma oração adversativa.
D
separar adjunto adnominal sob forma de oração adjetiva restritiva.

Gabarito comentado

C
Carlos MendonçaMonitor do Qconcursos

Tema central: Pontuação – Uso da vírgula

A questão avalia o correto entendimento das funções da vírgula no texto de Paulo Freire, exigindo a identificação da alternativa que não corresponde a um uso encontrado no trecho apresentado.

Justificativa da alternativa correta – D

A opção D) separar adjunto adnominal sob forma de oração adjetiva restritiva está correta como resposta, pois, segundo a norma-padrão, orações subordinadas adjetivas restritivas não devem ser separadas da oração principal por vírgula. Sua função é restringir o sentido do nome antecedente, diferentemente das explicativas, que são isoladas por vírgulas (Exemplo: “Os alunos, que estudaram, passaram.” – explicativa; “Os alunos que estudaram passaram.” – restritiva, sem vírgula).

No trecho analisado, não há nenhuma vírgula cumprindo esse papel, o que fundamenta a escolha da alternativa D.

Análise das alternativas incorretas

A) Evidenciar termo ou expressão intercalado(a) ou topicalizado(a): Presente em “pelo contrário”, expressão que aparece intercalada e isolada por vírgulas

B) Explicitar uma enumeração de elementos de mesma natureza: Exemplo claro: “A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal” — lista em enumeração, com uso correto da vírgula.

C) Indicar uma alternância ou introduzir uma oração adversativa: Há o emprego de vírgula antes da conjunção “mas” — “...não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda”. Isso segue o padrão para orações adversativas.

Resumo: A vírgula no trecho destina-se a separar elementos de enumeração, isolar expressões intercaladas e introduzir orações adversativas, nunca para separar oração adjetiva restritiva.

Dica de prova: Fique atento! A vírgula NUNCA separa oração adjetiva restritiva. Isso costuma ser ponto de pegadinha em concursos!

Referências: Bechara (2009), Nova Gramática do Português Contemporâneo (Cunha & Cintra).

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