Navegamos pelo espaço de quatro dias, até que, a dez de novembro,
encontramos a barra de um grande rio chamado de Guanabara, pelos nativos (devido
à sua semelhança com um lago) e de Rio de Janeiro pelos primeiros descobridores do
local. [...] o Senhor de Villegagnon, para se garantir contra possíveis ataques
selvagens, que se ofendem com extrema facilidade, e também contra os portugueses,
se estes alguma vez quisessem aparecer por ali, fortificou o lugar da melhor maneira
que pôde. Os víveres eram-nos fornecidos pelos selvagens e constituídos dos alimentos
do país, a saber, peixes e veação diversa, constante de carne de animais selvagens
(pois eles, diferentemente de nós, não criam gado), além de farinha feita de raízes [...]
Pão e vinho não havia. Em troca destes víveres, recebiam de nós alguns objetos de
pequeno valor, como facas, podões e anzóis.
THEVET, André. As singularidades da França Antártica.
Belo Horizonte/São Paulo, Itatia/Edusp. 1978, p. 93-94.
O frei franciscano André Thevet esteve em terras brasileiras entre 1555 e 1556,
junto com outros franceses comandados por Nicolas de Villegagnon. A leitura do
trecho do relato dessa expedição permite
Navegamos pelo espaço de quatro dias, até que, a dez de novembro, encontramos a barra de um grande rio chamado de Guanabara, pelos nativos (devido à sua semelhança com um lago) e de Rio de Janeiro pelos primeiros descobridores do local. [...] o Senhor de Villegagnon, para se garantir contra possíveis ataques selvagens, que se ofendem com extrema facilidade, e também contra os portugueses, se estes alguma vez quisessem aparecer por ali, fortificou o lugar da melhor maneira que pôde. Os víveres eram-nos fornecidos pelos selvagens e constituídos dos alimentos do país, a saber, peixes e veação diversa, constante de carne de animais selvagens (pois eles, diferentemente de nós, não criam gado), além de farinha feita de raízes [...] Pão e vinho não havia. Em troca destes víveres, recebiam de nós alguns objetos de pequeno valor, como facas, podões e anzóis.
THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Belo Horizonte/São Paulo, Itatia/Edusp. 1978, p. 93-94.
O frei franciscano André Thevet esteve em terras brasileiras entre 1555 e 1556, junto com outros franceses comandados por Nicolas de Villegagnon. A leitura do trecho do relato dessa expedição permite
Gabarito comentado
Resposta correta: C
Tema central: interpretação de fonte documental sobre o contato entre europeus e indígenas no século XVI — foco nas diferenças culturais percebidas pelos viajantes.
Resumo teórico: relatos de viajantes (como André Thevet) são fontes primárias que descrevem hábitos alimentares, trocas materiais e percepções mútuas. Esses textos revelam contrastres culturais (alimentação, técnicas de subsistência, valores atribuídos a objetos) e a visão europeia sobre povos indígenas. (Fonte: André Thevet, As singularidades da França Antártica; ver também manuais de História do Brasil — Boris Fausto.)
Justificativa da alternativa C: o trecho detalha diferenças concretas — dieta baseada em peixes e raízes, ausência de criação de gado, troca de víveres por objetos europeus, o nome dado ao local — evidenciando diferenças culturais entre indígenas e europeus. A inferência pedida vem diretamente das descrições do relato, portanto C é a opção correta.
Análise das alternativas incorretas:
- A — incorreta: o documento mostra presença francesa no litoral e não uma aceitação francesa da partilha ibérica (Tratado de Tordesillas). Pelo contrário, sua presença contestava a divisão ibérica.
- B — incorreta: embora mencione portugueses e temer ataques, o trecho não fornece comparação sistemática entre práticas coloniais portuguesas e francesas nem tratamento diferenciado aos indígenas suficiente para justificar essa opção.
- D — incorreta: não há referência à escravidão africana; descreve trocas com indígenas e subsistência local, não a lógica produtiva colonial baseada em trabalho escravo.
- E — incorreta: o texto não aborda diferenças religiosas entre protestantes franceses e católicos ibéricos; não há discussão teológica ou conflito religioso explícito no trecho apresentado.
Dica de prova: identifique o foco da pergunta — se o enunciado pede aquilo que o texto "permite perceber", restrinja a inferência ao que está explícito. Palavras-chave como víveres, troca e não criam gado indicam diferença cultural, não um argumento sobre política imperial ou religião.
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