Questão d165253c-04
Prova:FGV 2020
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

O mercador de Veneza é uma peça de teatro escrita por William Shakespeare entre 1596 e 1597. No excerto, o judeu Shylock refere-se a um empréstimo em dinheiro feito por ele ao cristão Antônio.

Shylock

Ainda um mau negócio para mim! Um falido, um pródigo, que mal se atreve a mostrar a cabeça no Rialto! Um mendigo que habitualmente vinha exibir-se na praça!... [...] Gostava de chamar-me de usurário. [...] Gostava de emprestar dinheiro por cortesia cristã.

(William Shakespeare. O mercador de Veneza, 2013.)

As palavras de Shylock sobre Antônio revelam

A
a separação entre desenvolvimento econômico e crenças religiosas de grupos empresariais.
B
a crise do comércio de especiarias no Mar Mediterrâneo com a condenação cristã do lucro monetário.
C
a guerra religiosa na cidade com a expropriação econômica dos estrangeiros em benefício dos dirigentes políticos.
D
a organização da economia urbana segundo preceitos bíblicos com a exigência legal do perdão de dívidas.
E
a ligação entre comportamentos religiosos e mecanismos de acumulação de capitais.

Gabarito comentado

V
Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Resposta correta: E

1) Tema central
Trata-se da relação entre religião e práticas econômicas no contexto urbano pré‑moderno: como crenças, normas religiosas e estigma social moldavam quem emprestava dinheiro e como o lucro era visto. A questão exige reconhecer esse vínculo histórico presente no diálogo de Shylock.

2) Resumo teórico
Na Idade Média e início da Idade Moderna, a doutrina cristã condenava a usura entre fiéis, o que restringiu o crédito formal entre cristãos. Isso criou espaços econômicos para grupos excluídos (como judeus) atuarem como credores, conectando práticas religiosas e mecanismos de acumulação de capital. Autores úteis: Max Weber (A ética protestante e o espírito do capitalismo) e estudos sobre usura e economia urbana medieval.

3) Fontes
Breve indicação: obras de história econômica urbana e religiosa; textos clássicos como Weber (1905) e manuais de história medieval sobre legislação eclesiástica contra a usura.

4) Justificativa da alternativa correta (E)
A alternativa E sintetiza precisamente a ideia do trecho: as atitudes religiosas (preconceito, proibições, identidade) estão ligadas a formas concretas de acumulação de capital (empréstimos, juros). Shylock expõe essa ligação: sua atividade de credor decorre do espaço social e religioso que lhe foi reservado, mostrando como crenças influenciam práticas econômicas.

5) Análise das alternativas incorretas
A — Incorreta: afirma separação entre religião e economia; o trecho indica justamente o contrário (conexão).
B — Incorreta: traz crise do comércio de especiarias e condenação do lucro; tema alheio ao excerto e anacrônico para o contexto apresentado.
C — Incorreta: refere-se a guerra religiosa e expropriação estatal; o texto fala de relações comerciais e sociais, não de políticas de expropriação por autoridades.
D — Incorreta: sugere organização econômica baseada em preceitos bíblicos que exigem perdão legal de dívidas; o excerto não descreve perdão legal nem organização segundo esse princípio — ao contrário, mostra cobrança e estigma.

6) Estratégia de prova
Procure palavras-chave (usurário, emprestar, cristão, mendigo) que indiquem conflito entre religião e economia. Elimine alternativas com termos anacrônicos ou que introduzam atores/políticas não mencionados no excerto (guerra, especiarias, leis de perdão).

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