A um crítico
Meu caro crítico,
Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias.” Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo-se o meu estado atual; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.
O texto acima constitui um capítulo inteiro da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Considerando seu conteúdo e o todo do romance, é correto afirmar que o texto
Meu caro crítico,
Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias.” Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo-se o meu estado atual; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.
O texto acima constitui um capítulo inteiro da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Considerando seu conteúdo e o todo do romance, é correto afirmar que o texto
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de Texto, com foco em Funções da linguagem, notadamente a função metalinguística, e o recurso do narrador em dialogar com o leitor.
Justificativa para a alternativa correta (A):
A alternativa A é a correta porque mostra que o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas retoma e esclarece uma afirmação anterior sobre sua escrita. Esse procedimento é um exemplo genuíno da função metalinguística, quando, segundo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), o foco da linguagem é o próprio código, ou seja, ao falar sobre seu estilo, o texto reflete sobre a própria linguagem. Isso acontece quando o autor comenta, explica, ou analisa elementos do texto dentro do próprio texto, construindo não apenas narrativa, mas também reflexão sobre o ato de narrar.
No trecho analisado, o narrador explica ao leitor o sentido de uma frase sobre seu estilo, ou seja, discorre sobre o próprio processo de escrita. Observe: “chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho…”. É a linguagem falando de si mesma.
Análise das alternativas incorretas:
B) Falsa. A interação com o leitor (ou a crítica) não é excepcional na obra de Machado; pelo contrário, é frequente, marcada pelo tom confessional e irônico.
C) Incorreta. Os capítulos curtos formam uma característica marcante do romance, e não rompem qualquer padrão regular de Machado. Capítulos breves dinamizam a leitura, e não são raridade.
D) Errada. O texto não justifica tropeços, mas esclarece uma metáfora sobre envelhecimento do estilo, evidenciando controle estilístico e humor do autor.
E) Falsa. Não há linguagem puramente referencial, pois o propósito é explicar e refletir sobre uma expressão precedente, ou seja, há ênfase metalinguística e não apenas informativa.
Dica de prova: Sempre leia atentamente se o enunciado pede para analisar o efeito de sentido ou função da linguagem. Identificar termos como “explica”, “comenta”, “analisa” pode indicar função metalinguística. Atenção também a pegadinhas: Machado costuma dialogar com o leitor frequentemente!
Conceito-chave: Função metalinguística = quando o texto fala sobre o próprio texto ou sobre elementos da linguagem.
Referência: Cunha & Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo; Bechara, Moderna Gramática Portuguesa.
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