“A má vontade com que os jesuítas viram
os índios, a demonização dos seus costumes, a
violência da catequese, a sujeição dos povos
encontrados no além-mar, tudo isso pertence à
história do modernismo colonial.”
VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados: moral,
sexualidade e inquisição no Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010. p. 45-51.
Atente para o que se diz a respeito da visão dos
jesuítas acerca da humanidade encontrada no
Brasil, com as grandes navegações:
I. Julgavam imperioso cobrir o corpo dos índios,
alegando várias razões: o escândalo que
dariam, por estarem nus, aos padres
vindouros; a ofensa a Deus, sobretudo ao
assistirem a ofícios divinos, com as vergonhas
a mostra; a excitação que as índias nuas
causariam nos cristãos.
II. Jesuítas e leigos ressaltaram a nudez dos
índios, embora alguns a vissem com
naturalidade, a exemplo de Pero Vaz de
Caminha que os julgou naturalmente
inocentes, sem nada a cobrir-lhes “as
vergonhas”.
III. Em sua maioria viram na nudez indígena uma
prova de escândalo, torpezas e ofensas a
Deus, embora não se possa esquecer que o
horror que manifestavam ante a nudez dos
índios, especialmente das partes genitais,
parece antecipar todo o rigor de uma época.
Está correto o que se afirma em
Gabarito comentado
Gabarito: C — I, II e III.
Tema central: a percepção europeia (em especial a dos jesuítas) sobre a nudez indígena no Brasil colonial e suas implicações religiosas e morais. É importante para concursos porque avalia leitura de fontes, contraste entre visões (missionária X descritiva) e compreensão do projeto civilizatório europeu.
Resumo teórico (claro e progressivo): - Os jesuítas, como parte da missão catequética, interpretaram costumes indígenas sob a lente cristã: a nudez era frequentemente vista como escândalo, impureza ou ofensa a Deus, razão para intervenções (cobrir corpos, exigir roupas). - Havia, porém, diversidade de vozes: cronistas como Pero Vaz de Caminha descrevem os indígenas como “inocentes” e sem vergonha corporal, uma visão mais etnográfica/descritiva que não coincide com o juízo moral jesuítico. - A bibliografia e as fontes primárias relevantes incluem a Carta de Pero Vaz de Caminha (1500), as Cartas e relatórios jesuíticos e estudos recentes como Vainfas, R. Trópico dos Pecados (2010).
Justificativa da alternativa correta (por que I, II e III são verdadeiras): I — Verdadeira: relatos jesuíticos defendem cobrir os índios por razões morais e pastorais (evitar escândalo, proteger ofício litúrgico, prevenir excitação sexual entre cristãos). Essa postura é típica da ação missionária (cf. textos de padres jesuítas). II — Verdadeira: tanto jesuítas quanto leigos comentaram a nudez; contudo, cronistas iniciais como Caminha registraram a nudez sem condenação moral, destacando inocência natural. Logo, coexistiram avaliações distintas. III — Verdadeira: a maior parte do discurso missionário associa a nudez a torpezas e ofensas a Deus; o repúdio às genitálias e o horror moralizados antecipam normas disciplinares mais rígidas no período colonial (tema explorado por Vainfas).
Análise das alternativas incorretas: - A (I e II apenas): elimina III, que é correta segundo a historiografia (os jesuítas majoritariamente viam a nudez como escândalo). - B (II apenas): subestima a centralidade da condenação jesuítica (I e III também procedem). - D (I e III apenas): desconsidera que havia observadores (como Caminha) que interpretaram a nudez como natural — item II é válido.
Dica de interpretação para provas: Procure palavras-chave (“jesuítas”, “nudez”, “escândalo”, “Caminha”) e contraste posições (missionária X descritiva). Em alternativas combinadas, verifique se há exclusões de enunciados comprovados pela fonte — exclusão indevida indica erro.
Fontes indicadas: Carta de Pero Vaz de Caminha (1500); VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados (2010); Cartas e relatórios jesuíticos (Coleção Cartas Jesuíticas).
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