Questão cf7d1568-a4
Prova:UNB 2011
Disciplina:História
Assunto:Período Colonial: produção de riqueza e escravismo, História do Brasil

Do ponto de vista histórico, o texto revela que os escravos africanos e seus descendentes no Brasil preservaram

      Um exemplo de embaixada alegórica é apresentado no vídeo Festa do Rosário dos Homens Pretos do Serro, que começa com a narração da seguinte história.
     “Dizem que Nossa Senhora tava no meio do mar. Aí vieram os caboclos e lhe chamaram, mas ela não veio não. Depois vieram os marujos brancos, mas ela só balanceou. Aí chegaram os catopês. Eles cantaram, tocaram só com caco de cuia e lata véia.Ela gostou deles, teve pena deles e saiu do mar.”
      Trata-se de um mito de reconciliação e integração, bem como de uma compensação simbólica para a experiência histórica de escravidão negra em Minas Gerais. Essa experiência é abertamente expressa em muitos textos musicais das congadas.

José Jorge de Carvalho. Um panorama da música afro-brasileira. In: Série Antropologia. Brasília: Editora da UnB, 2000.

A partir do texto acima, julgue os itens de 41 a 43 e assinale a opção correta no item 44, que é do tipo C.


A
sua cultura religiosa ancestral, mas, em um processo sincrético, mostraram-se receptivos ao cristianismo do dominador.
B
sua identidade cultural ou étnica, embora tivessem de recorrer a disfarces, como o das confrarias religiosas cristãs, das quais é exemplo a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
C
rituais ancestrais de forma pura, mas pagaram alto preço por isso, como demonstram as perseguições que sofreram.
D
seu panteão religioso e seu sistema eclesiástico, embora os tenham adaptado à lógica cristã, como evidenciado na associação entre Virgem Maria e Iemanjá.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: o enunciado trata da manutenção da religiosidade africana no Brasil e do processo de sincretismo com o cristianismo, visível em práticas como as congadas e as confrarias do Rosário.

Resumo teórico (claro e progressivo): o sincretismo religioso é o resultado de contato entre religiões diferentes, em que elementos são adaptados e reinterpretados. No Brasil colonial, populações africanas preservaram crenças e rituais, incorporando imagens, festas e instituições católicas para praticá‑los publicamente e ganhar proteção social — exemplo clássico são as irmandades de Nossa Senhora do Rosário. (Ver: José Jorge de Carvalho, Um panorama da música afro‑brasileira, 2000; Roger Bastide, estudos sobre religiosidade afro‑brasileira.)

Justificativa da alternativa A: o texto fala em “mito de reconciliação e integração” e em “compensação simbólica”. A cena da Virgem que prefere os “catopês” mostra que a imagem católica foi apropriada e reinterpretada — os fiéis negros preservaram referências ancestrais, mas integraram‑nos ao universo cristão dominante. Assim, há preservação cultural junto a receptividade e adaptação ao cristianismo do colonizador: exatamente o que afirma A.

Análise das alternativas incorretas:

B (errada) — exagera ao dizer que a identidade só se manteve por meio de “disfarces”. As confrarias foram espaços públicos legítimos de sociabilidade e religião, não apenas disfarces; o texto enfatiza integração/sincretismo, não mera ocultação.

C (errada) — afirma preservação “pura” de rituais. Contraria a própria ideia de compensação simbólica e sincretismo: a prática africana foi transformada e reinterpretada, não mantida intacta.

D (errada) — fala em preservação do “panteão” e “sistema eclesiástico”. Há adaptações (ex.: identificação de orixás com santos), mas não preservação do sistema eclesiástico africano nem equivalência estrutural entre as organizações religiosas.

Estratégia para concursos: procure no enunciado palavras como “sincrético”, “integração”, “compensação simbólica” e relacione com conceitos de resistência cultural e apropriação religiosa — isso aponta para alternativas que reconheçam adaptação, não pureza nem simples dissimulação.

Fonte-chave: José Jorge de Carvalho, Um panorama da música afro‑brasileira (2000); leituras complementares: Roger Bastide sobre sincretismo.

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