Leia o seguinte texto.
Durante anos [...], os quenianos foram educados em inglês, desde a creche até a universidade. Não
é complicado imaginar o quão difícil que deve ter sido para todas aquelas crianças. Sua educação em
inglês provocava uma fratura entre a língua que usavam em suas casas e a língua que usavam nas
escolas, com a qual conceitualizavam o mundo. Na atualidade, há toda uma geração de jovens
quenianos que vivem entre dois mundos. Têm um domínio perfeito do inglês, mas a cultura majoritária
do Quênia pós-colonial, na qual vivem e trabalham, não é de fala inglesa.
Ngügi wa Thiong'o. Desplazar el centro. La lucha por las libertades culturales. Barcelona: Rayo Verde, 2017. p. 164.
Assinale a alternativa que, segundo o texto, indica uma das principais consequências do colonialismo
europeu no continente africano.
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa E.
Tema central: a questão aborda as consequências culturais e linguísticas do colonialismo europeu na África, em especial o impacto da escolarização em línguas coloniais sobre as identidades e formas de pensar das populações colonizadas.
Resumo teórico (claro e progressivo): o colonialismo impôs línguas e modelos escolares europeus, criando uma fratura entre a língua usada em casa e a língua da escola. Isso favoreceu um currículo e uma visão de mundo eurocêntrica, afastando a educação das formas culturais locais (Ngũgĩ wa Thiong'o; ver também discussões sobre linguistic imperialism, Robert Phillipson, e relatórios da UNESCO sobre educação multilíngue).
Por que a alternativa E é a correta: o texto menciona explicitamente que a educação em inglês criou uma “fratura” entre a língua doméstica e a escolar, e que a cultura majoritária pós‑colonial não é de fala inglesa — isto é, evidencia a distância entre as formas culturais africanas e o caráter eurocêntrico da educação colonial. A alternativa E resume fielmente essa ideia.
Análise das alternativas incorretas:
A: incorreta — fala em “imposição do conhecimento de várias línguas” e em inserir africanos no mundo globalizado; o texto trata da imposição de uma língua colonial (inglês), não de várias línguas nem do objetivo referido.
B: incorreta — aponta precarização da educação e formação para o mercado; o foco do texto é cultural e linguístico (alienação/dupla pertença), não a qualidade técnica da formação profissional.
C: incorreta — afirma que os africanos negam conceituar o mundo pelas línguas nativas; o texto descreve uma imposição colonial que causa fratura, não uma ação voluntária de negação por parte dos africanos.
D: incorreta — trata de intercâmbio e dupla cidadania, tema não presente no texto e desconexo da discussão sobre linguagem e eurocentrismo educacional.
Dica de resolução: ao ler enunciados, destaque palavras-chave (ex.: “fratura”, “língua”, “eurocêntrico”) e compare diretamente com as alternativas — descarte opções que introduzem ideias não mencionadas pelo texto.
Referências úteis: Ngũgĩ wa Thiong'o, Decolonising the Mind; Robert Phillipson, Linguistic Imperialism; UNESCO, Education in a Multilingual World (2003).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





