Leia o seguinte texto a respeito das disputas fronteiriças entre as coroas ibéricas no sul do continente
americano, ao longo do século XVIII, e o protagonismo indígena no contexto de tais disputas.
Durante um período de conflito agudo nas reduções, em meados do século XVIII, os Guarani
escreveram intensamente, os documentos produzidos por eles permitem repensar as relações
estabelecidas com o território missioneiro e, especialmente, suas formas de ação política. Esse
conjunto de documentos indica uma discussão pouco referida pela historiografia dedicada ao tema,
ou seja, a existência da defesa por escrito de um direito a resistir a uma ordem real injusta dos Guarani
em redução [...]. A disputa pelas fronteiras na América do Sul, resultado da rivalidade entre as duas
monarquias ibéricas, esteve caracterizada por uma ativa participação dos agentes locais. Diante das
implicações dessa permuta, a elite indígena procurou estabelecer negociações que lhe garantissem o
controle das terras orientais.
NEUMANN, Eduardo Santos; BOIDIN, Capucine. A escrita política e o pensamento dos Guarani em tempos de
autogoverno {c.1753). Revista Brasileira de Hlstória, v. 37, n. 75, 2017, p. 98.
Em relação a essas disputas, é correto afirmar que
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: disputa ibérica pelas fronteiras sul-americanas no século XVIII e o papel político dos Guarani nas reduções (ex.: Guerra Guaranítica, 1754–1756; Tratado de Madrid, 1750). É preciso entender que os indígenas não foram atores passivos: produziram escritos e negociaram direitos territoriais.
Resumo teórico: As reduções jesuíticas criaram espaços de organização coletiva guarani. Com a assinatura do Tratado de Madrid (1750) e a transferência de territórios, as comunidades reagiram. Fontes recentes (Neumann & Boidin, 2017) mostram cartas e petições guaranis que funcionaram como instrumentos de resistência e de mediação frente às coroas e aos jesuítas.
Justificativa da alternativa A: A alternativa afirma que a escrita foi instrumento de resistência e negociação — está alinhada com evidências documentais. Os Guarani produziram relatos, petições e cartas para reclamar direitos, questionar ordens e negociar terras, convertendo a escrita em arma política e meio de interlocução com europeus.
Análise das incorretas:
B — Falsa: contradiz as fontes; a participação indígena foi ativa e decisiva nas negociações e conflitos fronteiriços.
C — Falsa: a historiografia tradicional frequentemente ignorou ou subestimou a agência letrada indígena; só trabalhos recentes recuperaram esse protagonismo.
D — Falsa: os conflitos não resultaram em submissão completa; houve resistência, fugas, negociações e até ações armadas (Guerra Guaranítica) que evidenciam autonomia e contestação.
E — Falsa/ambígua: exagera ao afirmar um "costume" de resistir a ordens reais escritas. O correto é que os Guarani usaram a escrita para reivindicar o direito de resistir quando julgavam as ordens injustas.
Dica de interpretação: Procure evidências históricas concretas (tratados, guerras, documentos indígenas) e desconfie de alternativas absolutistas (sempre/todas/complete/submissão).
Fontes sugeridas: Tratado de Madrid (1750); estudos sobre a Guerra Guaranítica (1754–56); NEUMANN & BOIDIN, 2017 (Revista Brasileira de História).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





