“A experiência militar na divisão do Paraná
com Santa Catarina foi fundamental para a
cristalização da memória histórica do Contestado [...] não há duvida de que o Contestado foi bem
aproveitado pelo Exército.”
RODRIGUES, Rogério Rosa. Bendita Guerra.
Revista de História da Biblioteca Nacional.
Outubro de 2012. Ano 7, n 85, p. 33.
Atente para o que se diz a respeito do Contestado.
I. A memória, inicialmente fixada pelos
“historiadores de farda” do exército acerca do
Contestado, estabelecia que os rebeldes eram
fanáticos religiosos, ignorantes, bárbaros e
facínoras.
II. O exército foi beneficiado pelas lutas do
Contestado, na medida em que o evento
contribuiu para a modernização da
corporação, bem como influenciou a
implementação da lei do serviço militar
obrigatório no Brasil.
III. Os poderes constituídos na época não
compreendiam a lógica da organização
sertaneja nem reconheciam suas
reivindicações firmadas na crença
compartilhada nos monges e nos santos.
Estão corretas as afirmações contidas nos itens
Gabarito comentado
Gabarito: D — I, II e III
Tema central: memória e interpretações do conflito do Contestado (1912–1916) — como o Exército brasileiro construiu narrativas, beneficiou-se das operações e como o Estado lidou com formas religiosas e comunitárias de organização no sertão. Essencial para provas: relação Estado-força armada-sociedade e historiografia do início da República.
Resumo teórico: o Contestado é visto pela historiografia como um conflito messiânico, social e territorial. "Historiadores de farda" (oficiais-autores) inicialmente rotularam os sertanejos como fanáticos e criminosos; ao mesmo tempo, a repressão funcionou como oportunidade para modernizar táticas, logística e práticas administrativas do Exército, influenciando o debate sobre recrutamento e serviço militar. As autoridades civis, por sua vez, não reconheceram o sentido comunitário e religioso das reinvindicações, tratando o movimento como delinquência.
Justificativa da alternativa D:
I — Correto: a memória produzida por oficiais descreveu os rebeldes de forma pejorativa, para legitimar ações repressivas (ver Rodrigues, 2012).
II — Correto: o conflito serviu como "laboratório" institucional; o Exército aprimorou organização, comunicações e doutrinas e o episódio reforçou a agenda de profissionalização e obrigatoriedade do serviço militar, conforme estudos sobre modernização militar da República.
III — Correto: os poderes republicanos não compreenderam nem incorporaram as formas de liderança religiosa local (monges, santos) e deslegitimaram as reivindicações, tratando-as como superstição/fora da lei.
Análise das alternativas incorretas:
A (I e II): omite que o item III também é verdadeiro — logo insuficiente.
B (II e III): ignora que a imagem denegrida produzida pelos historiadores militares (I) é documentada — logo incompleta.
C (I e III): desconsidera que o Exército se beneficiou institucionalmente do conflito (II) — também errada.
Dica de interpretação: procure no enunciado pistas sobre memória (quem narra?), efeitos institucionais (quem ganha com o conflito?) e forma de organização local (religiosa vs. jurídica). Desconfie de alternativas que excluem um efeito evidente da ação estatal ou militar.
Fonte principal: RODRIGUES, Rogério Rosa. "Bendita Guerra." Revista de História da Biblioteca Nacional, out. 2012. Para aprofundar, consulte trabalhos de historiografia sobre Contestado e estudos sobre modernização do Exército brasileiro.
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