Questão ca9cb0a8-a4
Prova:UNB 2011
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

Sabendo-se que a congada e a cavalhada são manifestações tradicionais brasileiras cujo conteúdo dramático remonta às cruzadas cristãs da Idade Média, é correto afirmar que os músicos das companhias de congo, para o acompanhamento de seus cantos, optam pelo estilo gregoriano e por escalas modais, de forma a reproduzirem o ambiente do período medieval.

      Um exemplo de embaixada alegórica é apresentado no vídeo Festa do Rosário dos Homens Pretos do Serro, que começa com a narração da seguinte história.
     “Dizem que Nossa Senhora tava no meio do mar. Aí vieram os caboclos e lhe chamaram, mas ela não veio não. Depois vieram os marujos brancos, mas ela só balanceou. Aí chegaram os catopês. Eles cantaram, tocaram só com caco de cuia e lata véia.Ela gostou deles, teve pena deles e saiu do mar.”
      Trata-se de um mito de reconciliação e integração, bem como de uma compensação simbólica para a experiência histórica de escravidão negra em Minas Gerais. Essa experiência é abertamente expressa em muitos textos musicais das congadas.

José Jorge de Carvalho. Um panorama da música afro-brasileira. In: Série Antropologia. Brasília: Editora da UnB, 2000.

A partir do texto acima, julgue os itens de 41 a 43 e assinale a opção correta no item 44, que é do tipo C.


C
Certo
E
Errado

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: E — Errado

Tema central: relações entre a origem dramática (congadas/cavalhadas) e as características musicais dessas festas. A questão tenta ligar a proveniência medieval do enredo à ideia de que a música das congadas reproduz o canto gregoriano e escalas modais — ligação que precisa ser avaliada com base em musicologia e história cultural.

Resumo teórico essencial: o canto gregoriano é um repertório litúrgico medieval, monódico, em latim, sem acompanhamento percussivo, baseado em modos e função religiosa. Já as congadas são manifestações sincréticas afro‑ibéricas da diáspora africana no Brasil: dramaturgia por vezes remonta a modelos europeus, mas a prática musical é majoritariamente vernacular e afro‑brasileira — marcada por ritmos percussivos, canto responsorial (call-and-response), instrumentos populares (atabaques, cabaças, pandeiros, etc.) e melodias adaptadas ao contexto local, não uma recriação do gregoriano.

Justificativa do erro (por que a afirmativa é falsa): embora elementos dramáticos das congadas/cavalhadas remetam a modelos medievais ou ibéricos, isso não implica que os músicos adotem o estilo gregoriano. As congadas expressam memória de escravidão e estratégias de resistência/sincretismo (como aponta José Jorge de Carvalho), com repertórios em português e línguas africanas, ritmo marcado e acompanhamento instrumental. O canto gregoriano é litúrgico e sem percussão; portanto a afirmação de que as companhias de congo optam por gregoriano e escalas modais para “reproduzirem o ambiente medieval” não se sustenta documentalmente nem etnomusicologicamente.

Estratégia para identificar a pegadinha: separe a origem temática (dramaturgia, enredo) das características técnicas da música. A presença de um enredo de origem medieval não impõe que a prática musical em manifestações populares históricas seja litúrgica medieval. Pergunte-se: há evidência de uso de latim, monodia litúrgica e ausência de percussão? Se não houver, desconfie da alternativa.

Fonte principal citada: José Jorge de Carvalho, Um panorama da música afro‑brasileira (Série Antropologia, UnB, 2000).

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