A compreensão cristã do encontro dos
portugueses com os primeiros habitantes da
América teve forte conotação maniqueísta: de um
lado estava o bem, simbolizado pelos europeus na
sua suposta busca pelo paraíso; de outro, o mal,
representado pelos indígenas e suas práticas
diabólicas.
Analise as afirmações abaixo acerca dessa
compreensão.
I. Tal compreensão foi alimentada por
considerações imprecisas de alguns viajantes
que classificavam de “demoníacas” certas
práticas culturais dos povos americanos.
II. A leitura das práticas dos povos americanos
pelos europeus aliou a ideia da conquista de
novas terras com o desejo de levar a palavra
de Deus àquelas criaturas “demonizadas”.
III. O pensamento cristão português dissociava-se
das ideias e políticas expansionistas; desse
modo, a propagação da fé era desvinculada
da empresa marítima.
É correto o que se afirma em
Gabarito comentado
Resposta correta: D — I e II apenas
Tema central: trata-se da interpretação cristã europeia sobre os povos americanos no início da expansão ultramarina — visão maniqueísta que polarizava “bem” (os europeus cristãos) e “mal” (indígenas e suas práticas). Entender isso exige conhecimento sobre relatos de viajantes, discurso missionário e as justificativas ideológicas da conquista.
Resumo teórico: desde o século XVI, cronistas, missionários e autoridades combinaram observações empíricas (às vezes imprecisas) com pressupostos teológicos. Em muitos relatos, rituais indígenas foram descritos como “demoníacos” ou “idólatras” — discurso que legitimou tanto a conversão quanto a dominação. No caso português, o Padroado (aliança Estado‑Igreja) integrou missão e expansão: ordens religiosas (especialmente jesuítas) acompanharam a colonização.
Fontes exemplares: Cartas como a de Pero Vaz de Caminha (1510); o debate de Valladolid (1550–51) entre Las Casas e Sepúlveda; escritos de jesuítas como Manuel da Nóbrega e José de Anchieta; estudos contemporâneos sobre mentalidade colonial.
Por que D está correta: I — Verdadeiro: viajantes e cronistas frequentemente rotularam práticas indígenas (sacrifícios, rituais) com termos demoníacos — muitas vezes por desconhecimento ou leitura etnocêntrica. II — Verdadeiro: a ideia de dominação territorial e a missão de “levar a palavra de Deus” estavam articuladas; a conversão foi usada como argumento moral para a conquista. O sistema do Padroado exemplifica essa articulação entre coroa e Igreja.
Por que III é falsa: afirmar que o pensamento cristão português se dissociava das políticas expansionistas não corresponde aos fatos. Na prática, a propagação da fé foi parte integrante da empresa ultramarina: missionários atuaram concomitantemente à incorporação de territórios e povos.
Análise das alternativas incorretas: A (I, II e III) — incorreta porque III é falsa. B (II e III apenas) — incorreta porque III é falsa e I é verdadeira. C (I e III apenas) — incorreta porque III é falsa e II é verdadeira.
Dicas para provas: procure termos absolutos (ex.: “dissociava‑se”) que geralmente indicam afirmações problemáticas; relacione discurso religioso e interesses políticos/econômicos no contexto colonial; lembre nomes/instâncias (Padroado, jesuítas, Valladolid) para fundamentar respostas.
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