Questão c97e85ee-83
Prova:UFC 2018
Disciplina:História
Assunto:História da América Latina, Civilizações Pré-Colombianas: Maias, Aztecas e Incas

Em 1532, na cidade quéchua de Cajamarca, atual Peru, ocorreram os fatos descritos no fragmento de documento que segue:

"... como sabia o frade que seu Deus dos Cristãos havia criado o mundo? Frei Vicente respondeu que o dizia aquele livro, e deu-lhe seu Breviário. Atahualpa abriu-o, folheou-o e dizendolhe que a ele nada lhe dizia daquilo, atirou-o ao chão."

Fonte: GOMORA, F. L. História general de las índias y vida de Hernán Cortés. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1979. Tradução nossa. Por causa desse ato, o frade conclamou os soldados espanhóis à guerra. Eles invadiram o recinto, prenderam o Inca Atahualpa e a conquista espanhola dos Andes teve início.

A situação descrita no excerto do documento mostra

A
as diferentes percepções da realidade, culturalmente explicadas nos quadros das culturas quéchua-Inca e espanhola-cristã.
B
a aceitação do cristianismo por parte dos grupos indígenas andinos, representados aqui por Atahualpa.
C
a estratégia de negociação dos indígenas perante a religiosidade espanhola na época da conquista.
D
a apropriação indígena da cultura escrita durante o processo da conquista espanhola na região andina.J

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: trata-se de choque cultural entre a cosmovisão inca (quéchua) e a visão religiosa e política dos conquistadores espanhóis. A questão exige identificar, pela atitude de Atahualpa, a diferença de percepções sobre símbolos, autoridade e linguagem religiosa.

Resumo teórico rápido: o encontro entre europeus e povos andinos envolveu interpretações distintas da realidade: para os espanhóis, o livro (Breviário) e a pregação representavam autoridade religiosa e legitimidade; para muitos indígenas, esses objetos não tinham o mesmo significado simbólico nem a mesma função comunicativa. Esse fosso cultural foi explorado — e instrumentalizado — pelos conquistadores para justificar violência e tomada de poder (ver fontes primárias como Gómara e análises modernas: John Hemming, The Conquest of the Incas; Terence N. D'Altroy, The Incas).

Por que A é correta: o episódio descrito — Atahualpa atirando o breviário no chão — ilustra claramente percepções distintas da realidade. O gesto evidencia que o objeto religioso espanhol não comunicava autoridade ao Inca como ocorria entre os espanhóis; foi uma quebra de significados culturais que culminou em reação militar. Portanto, a alternativa A interpreta corretamente o núcleo do problema: diferença cultural e simbólica.

Análise das alternativas incorretas:

B (aceitação do cristianismo): incorreta — o gesto de Atahualpa é de rejeição, não de conversão ou aceitação religiosa. Não há evidência de adesão ao cristianismo nesse momento; pelo contrário, houve recusa simbólica.

C (estratégia de negociação indígena): incorreta — o ato descrito não configura negociação deliberada; trata-se de incompreensão e desdém perante o símbolo espanhol, que os soldados interpretaram como afronta e utilizaram como pretexto para prender o Inca.

D (apropriação indígena da cultura escrita): incorreta — lançar o breviário ao chão mostra ausência de reconhecimento do valor do livro; não há sinais de que os indígenas estivessem apropriando-se da escrita espanhola nesse episódio.

Dica de prova: nas questões históricas, busque o elemento central do ato (intenção e significado) em vez de inferir consequências sem suporte textual. Desconfie de alternativas que extrapolem (aceitação, negociação, apropriação) quando o documento mostra rejeição ou incompreensão.

Fontes: F. López de Gómara (crônica); John Hemming, The Conquest of the Incas; Terence N. D'Altroy, The Incas.

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