Dentre as propostas de reescrita dos diferentes trechos retirados do texto, assinale a única que mantém o sentido original
e que respeita as normas da variedade culta da língua portuguesa.
Leia o texto para responder a questão.
O leitor encontra, neste belo número da Revista Katálysis, um panorama rico, denso e qualificado do que vem ocorrendo no mundo do trabalho hoje, com seus traços de “continuidade” e “descontinuidade”, num período em que o capitalismo aprofundou ainda mais as penalizações que está impondo ao universo laborativo, onde o “novo” e o “velho” se (re)configuram a partir da nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT), que se reestruturou nas últimas décadas.
[...]
Se a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, legou-nos um enorme processo de “desantropomorfização do trabalho” (Lukács); se o século XX pode ser caracterizado pelo que Braverman definiu como sendo a “era da degradação do trabalho”, as últimas décadas do século passado e os inícios do atual vêm presenciando a generalização de “outras formas e modalidades de precarização”, [...] aquela responsável pela geração do cybertariado (Ursula Huws), uma nova força de trabalho global que mescla intensamente “informatização” com “informalização”.[...]
As consequências são fortes: nesta fase de desmanche, estamos presenciando o derretimento dos poucos laços de sociabilidade, [...] sem presenciarmos uma ampliação da vida dotada de sentido, nem “dentro” e nem “fora” do trabalho. A vida se consolida, cada vez mais, como sendo desprovida de sentido no trabalho e, por outro lado, estranhada e fetichizada* também “fora” do trabalho, exaurindo-se no mundo sublimado do consumo (virtual ou real), ou na labuta incansável pelas qualificações de todo tipo, que são incentivadas como antídoto [...] para não perder o emprego daqueles que o têm.
É por isso que estamos presenciando uma desconstrução sem precedentes do trabalho em toda a era moderna, ampliando os diversos modos de ser da precarização e do desemprego estrutural. Resta para a “classe-que-vive-do-trabalho” oscilar, ao modo dos pêndulos, entre a busca de qualquer “labor” e a vivência do desemprego.
Este número especial da Revista Katálysis, dedicado às novas configurações do trabalho na sociedade capitalista, é uma contribuição efetiva para a linhagem crítica, atualizada e original, tanto pelos temas selecionados, quanto pela qualidade e competência dos colaboradores presentes, ajudando a descortinar tantos elementos que configuram a “nova morfologia do trabalho”, seus dilemas e desafios.
Ricardo Antunes, Editorial da Revista Katálysis, n.2, 2009.
<https://tinyurl.com/y6nchqmr> Acesso em: 19.10.2019. Adaptado.
*fetichizar: ação de admirar exageradamente, irrestritamente, incondicionalmente uma pessoa ou coisa.
Leia o texto para responder a questão.
O leitor encontra, neste belo número da Revista Katálysis, um panorama rico, denso e qualificado do que vem ocorrendo no mundo do trabalho hoje, com seus traços de “continuidade” e “descontinuidade”, num período em que o capitalismo aprofundou ainda mais as penalizações que está impondo ao universo laborativo, onde o “novo” e o “velho” se (re)configuram a partir da nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT), que se reestruturou nas últimas décadas.
[...]
Se a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, legou-nos um enorme processo de “desantropomorfização do trabalho” (Lukács); se o século XX pode ser caracterizado pelo que Braverman definiu como sendo a “era da degradação do trabalho”, as últimas décadas do século passado e os inícios do atual vêm presenciando a generalização de “outras formas e modalidades de precarização”, [...] aquela responsável pela geração do cybertariado (Ursula Huws), uma nova força de trabalho global que mescla intensamente “informatização” com “informalização”.[...]
As consequências são fortes: nesta fase de desmanche, estamos presenciando o derretimento dos poucos laços de sociabilidade, [...] sem presenciarmos uma ampliação da vida dotada de sentido, nem “dentro” e nem “fora” do trabalho. A vida se consolida, cada vez mais, como sendo desprovida de sentido no trabalho e, por outro lado, estranhada e fetichizada* também “fora” do trabalho, exaurindo-se no mundo sublimado do consumo (virtual ou real), ou na labuta incansável pelas qualificações de todo tipo, que são incentivadas como antídoto [...] para não perder o emprego daqueles que o têm.
É por isso que estamos presenciando uma desconstrução sem precedentes do trabalho em toda a era moderna, ampliando os diversos modos de ser da precarização e do desemprego estrutural. Resta para a “classe-que-vive-do-trabalho” oscilar, ao modo dos pêndulos, entre a busca de qualquer “labor” e a vivência do desemprego.
Este número especial da Revista Katálysis, dedicado às novas configurações do trabalho na sociedade capitalista, é uma contribuição efetiva para a linhagem crítica, atualizada e original, tanto pelos temas selecionados, quanto pela qualidade e competência dos colaboradores presentes, ajudando a descortinar tantos elementos que configuram a “nova morfologia do trabalho”, seus dilemas e desafios.
Ricardo Antunes, Editorial da Revista Katálysis, n.2, 2009.
Texto original “É por isso que estamos presenciando uma desconstrução do trabalho sem precedentes...”
Texto reescrito É por isso que uma desconstrução inédita do
trabalho está sendo presenciada por nós...
Texto original “A vida se consolida, cada vez mais, como sendo desprovida de sentido no trabalho...”
Texto reescrito Consolidam a vida, ininterruptamente, tirando do
trabalho o sentido...
Texto original “...o capitalismo aprofundou ainda mais as penalizações que está impondo ao universo laborativo...”
Texto reescrito As penalizações impostas ao universo laborativo
aprofundaram ainda mais o capitalismo...
Texto original “Este número especial da Revista Katálysis... é uma contribuição efetiva para a linhagem crítica, atualizada e original, tanto pelos temas selecionados, quanto pela qualidade e competência dos colaboradores presentes...”
Texto reescrito Uma contribuição efetiva pela linguagem crítica
moderna e clássica foi feita pelo número especial
da Revista Katálysis, devido aos temas abordados e
à qualidade dos colaboradores...
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto com foco em reescritura e transformação entre voz ativa e voz passiva. A questão avalia a capacidade do candidato de identificar estratégias corretas de reescrita que mantenham o sentido do texto e a adequação à norma-padrão da Língua Portuguesa.
Comentando a alternativa correta:
Alternativa A altera a frase original da voz ativa (“estamos presenciando...”) para a voz passiva (“está sendo presenciada por nós...”): ambas comunicam que é o grupo do autor que presencia a desconstrução do trabalho. Na passagem para a voz passiva, o elemento “nós” vira agente da passiva, sem alteração no sujeito-ação, e o adjetivo “inédita” ainda mantém a ideia de “sem precedentes”. Assim, o sentido do original e a norma-padrão são rigorosamente preservados. Gramáticas como Bechara e Cunha & Cintra defendem que, na voz passiva, o complemento da ativa vira sujeito da passiva, o que está corretamente empregado aqui.
Análise das alternativas incorretas:
B: Muda completamente o sentido. Em vez de a vida se consolidar como sem sentido no trabalho, implica que “alguém” (não especificado) tira o sentido do trabalho da vida. Troca o foco e altera o sujeito, descumprindo o requisito de fidelidade semântica.
C: Inverte a relação de causa e consequência. No original, o capitalismo é agente das penalizações; na reescrita, as penalizações passam a agir sobre o capitalismo, invertendo o sentido.
D: Altera o recorte temporal (“meados do século XIX e início do século XXI”), que não equivale a “as últimas décadas do século passado e os inícios do atual”. Além disso, troca a estrutura de agente para paciente, modificando o foco textual.
E: Modifica o papel do sujeito (o número especial vira agente ativo e já não é mais “contribuição efetiva para a linhagem crítica”; há ainda perda do paralelismo estrutural e confusão entre linguagem crítica e “linhagem crítica”, distorcendo o sentido do texto).
Dicas de prova: Sempre que a questão pedir reescrita, verifique:
- Se os elementos essenciais do enunciado (quem faz, quem sofre, tempo, modo) permanecem.
- Se mudanças estruturais afetam o sentido original (atenção especial para voz ativa e passiva, concordância de sujeito-verbo, deslocamentos de adjuntos ou complementos).
- Cuidado com alterações “sutis” em agente da ação ou adjetivação, que podem gerar perda de fidelidade ao original.
Conclusão: A resposta correta é a A, pois respeita a voz passiva, a concordância e o sentido essencial do texto, alinhando-se à norma-padrão conforme exposto nas gramáticas de referência.
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