“As fugidias confissões que os inquisidores tentavam
arrancar dos acusados proporcionam ao pesquisador
atual as informações que ele busca — claro que com
um objetivo totalmente diferente. Mas, enquanto lia os
processos inquisitoriais, muitas vezes tive a impressão
de estar postado atrás dos juízes para espiar seus
passos, esperando, exatamente como eles, que os
supostos culpados se decidissem a falar das suas
crenças.”
Carlo Ginzburg. O fio e os rastros. São Paulo: Companhia das
Letras, 2007, p. 283-284. Adaptado.
O texto aponta semelhanças entre a expectativa do
inquisidor, que colhia os depoimentos daqueles que
eram julgados pelo Santo Ofício, e a expectativa do
pesquisador, que, séculos depois, analisa os processos
inquisitoriais. O “objetivo totalmente diferente” de cada
um deles pode ser assim caracterizado:
“As fugidias confissões que os inquisidores tentavam arrancar dos acusados proporcionam ao pesquisador atual as informações que ele busca — claro que com um objetivo totalmente diferente. Mas, enquanto lia os processos inquisitoriais, muitas vezes tive a impressão de estar postado atrás dos juízes para espiar seus passos, esperando, exatamente como eles, que os supostos culpados se decidissem a falar das suas crenças.”
Carlo Ginzburg. O fio e os rastros. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 283-284. Adaptado.
O texto aponta semelhanças entre a expectativa do inquisidor, que colhia os depoimentos daqueles que eram julgados pelo Santo Ofício, e a expectativa do pesquisador, que, séculos depois, analisa os processos inquisitoriais. O “objetivo totalmente diferente” de cada um deles pode ser assim caracterizado:
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C
Tema central: leitura crítica de fontes históricas — aqui, os processos inquisitoriais como documentos produzidos com fins próprios (jurídicos e religiosos) e reaproveitados pelo historiador para reconstruir o passado.
Resumo teórico: documentos judiciais da Inquisição foram produzidos para obter confissões e punir (ou “corrigir”) dissidências religiosas. O historiador moderno os usa como fontes — isto é, como rastos que precisam ser lidos criticamente, contextualizados e confrontados com outras evidências. Obras-chave: Carlo Ginzburg (micro-história; O fio e os rastros), Giovanni Levi e Marc Bloch (metodologia histórica).
Por que a alternativa C é correta: o enunciado contrapõe dois objetivos: - o inquisidor busca extrair do acusado uma confissão ou reconhecimento de culpa (função punitiva/disciplinar); - o pesquisador busca indícios nos mesmos depoimentos para compreender práticas, crenças e contextos daquela experiência histórica. Essa distinção — fim jurídico-religioso versus fim analítico-historiográfico — é exatamente o ponto que o texto de Ginzburg destaca.
Análise das alternativas incorretas:
A (errada): afirma que o pesquisador obtém a “verdade completa e absoluta”. Isso é uma falácia: fontes são parciais, tendenciosas e exigem crítica; o historiador constrói interpretações provisórias, não certezas absolutas.
B (errada): mistura ideias confusas — o inquisidor não “amplia a fé” ao perdoar erros (sua função era julgar/punir/exercer controle), e o pesquisador não identifica uma “fé superior” do réu; isso não corresponde nem ao propósito inquisitorial nem ao método histórico.
D (errada): descreve o inquisidor como tolerante e respeitoso, o que contraria o papel coercitivo do Santo Ofício; além disso, sugere que o pesquisador “penetra indevidamente”, enquanto a prática historiográfica é legítima e metodológica (leitura crítica de fontes públicas e judiciais).
Dica de prova: procure no enunciado palavras-chave que indiquem finalidade (ex.: “objetivo totalmente diferente”) e desconfie de alternativas que usem absolutos (verdade completa) ou que atribuam emoções/motivações anacrônicas aos atores.
Fontes recomendadas: Carlo Ginzburg, O fio e os rastros; Marc Bloch, Apologia da História; textos sobre micro-história e crítica de fontes.
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