Leia o texto abaixo:

As imagens, a Internet, a televisão, os MPs, o telefone e tudo o mais que permite ao sujeito articular com os mundos mexeu, descaradamente, com o tempo pluralizando-o e transformando-o em bites. As viagens podem ser ao passado, ao futuro e, quando interessante, a um presente que pode ser lento ou perene, entre outras coisas. As reprises de seriados e novelas sobrepõem tempos acavalando o passado e o presente. Em tempos de rádio-novela ou mesmo nos primórdios da televisão, as tramas duravam até dois anos, como foi o caso da novela de rádio “O direito de nascer”. Hoje, em tempos pós-modernos, não conseguimos lembrar ao certo quais novelas ocorreram no ano em que estamos. Os seriados de televisão podem provocar vivências em ritmo lento ou podem em pouco tempo transitar por uma infinidade de informações ou, ainda, vender a ideia de uma vida em tempo real na TV. Os programas de auditório, principalmente em sábados e domingos, sobrepõem cenários, atores e enredos; os filmes para cinema são consumidos em casa pela via do DVD e feitos em série ou etapas que confundem a ordem das estórias. Todas essas novidades do mundo em que vivemos colocam o sujeito em um mix de tempo e espaço ao alcance das mãos.

Roberto dos Santos. Pós-modernidade, história e representação: cultura negra e identidade. Mouseion, v. 3, n. 5, p. 68-82, Jan.- Jul./2009. Disponível em http://www.unilasalle.edu.br/museu/mouseion/pos_modernidade_cultura_negra.pdf

Qual alternativa abaixo está em consonância com a ideia de tempo histórico apresentado pelo texto?

Alternativa correta: A

Tema central: temporalidade histórica e o impacto dos meios de comunicação na percepção do tempo. A questão exige compreender que o tempo histórico não é apenas uma sequência neutra de datas, mas uma experiência social e cultural mediada por práticas e tecnologias.

Resumo teórico: O tempo histórico envolve dimensões distintas — cronológica, social e cultural. Autores relevantes: Reinhart Koselleck (espaços de experiência e expectativas do futuro) e Fernand Braudel (longa duração) mostram que o tempo é construído e interpretado. Meios de comunicação e práticas sociais podem pluralizar e relativizar a percepção temporal, criando simultaneidades e ritmos diversos (Koselleck; Braudel).

Por que A é correta: A alternativa afirma que a análise histórica deve considerar que tempo e informações são relativizados pelos sujeitos. Isso capta exatamente a ideia do texto: os meios transformam vivências temporais, tornando o tempo plural e sujeito a interpretações. Logo, a historiografia precisa incorporar essa relatividade ao analisar fontes e narrativas.

Análise das alternativas incorretas:

B — Afirma que a História é estática. Errado: contradiz a noção de produção contínua de conhecimento histórico e a influência de novas fontes e métodos.

C — Diz que tempo histórico só se mede por datas e feitos heroicos. Errado: reduz o tempo a cronologia e a teleologia; ignora ritmos sociais e representações culturais.

D — Afirma que o passado determina sem influência do presente. Errado: o texto mostra que o presente (meios, repertórios) reconstrói e reinterpreta o passado; o conhecimento histórico é dialético entre passado e presente.

E — Propõe aceitar irrestritamente o que a mídia apresenta. Errado: o texto indica que meios moldam percepções; o historiador deve criticamente avaliar as fontes mediáticas, não tomá‑las como verdades automáticas.

Estratégia de prova: procure palavras-chave no enunciado que indiquem relatividade (pluralizar, misturar ritmos, mídias). Desconfie de alternativas absolutas (sempre, somente, sem questionamento) — elas costumam ser incorretas em questões de História.

Fontes sugeridas: Reinhart Koselleck, Futures Past; Fernand Braudel, La Méditerranée et le monde méditerranéen à l'époque de Philippe II; manuais de metodologia histórica sobre crítica das fontes.

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