“O pai era bom seringueiro. Trabalhava três estradas da ‘colocação’, alternadamente, na época do fabrico. Iniciava o corte às duas horas da madrugada e o fechava cerca de meio-dia. Na embocadura do varadouro, comia a minguada refeição que trouxera da barraca, uma farofa de banha misturada com uma fita de balata. Já quase noite voltava à barraca e ia direto ao defumador, para não correr o risco de ver, com qualquer demora, o látex transformado em sernambi. A borracha colhida, entretanto, nunca dava para pagar o débito do Barracão, para comprar nada além da banha, do tabaco, do feijão, do arroz, do querosene, do sabão, do açúcar e do sal.”
FERRANTE, Miguel J. O seringal. São Paulo: Clube do Livro, 1973, p.24-5 .
Ao ler e examinar o trecho da obra O seringal, de Miguel de Ferrante, pode-se assegurar que:
FERRANTE, Miguel J. O seringal. São Paulo: Clube do Livro, 1973, p.24-5 .
Ao ler e examinar o trecho da obra O seringal, de Miguel de Ferrante, pode-se assegurar que:
Gabarito comentado
Resposta correta: A
Tema central: o trecho descreve o cotidiano do seringueiro na região amazônica durante o ciclo da borracha e revela relações de trabalho típicas do sistema de aviamento (endividamento ao barracão). É preciso reconhecer elementos sociais e econômicos do seringal para escolher a alternativa correta.
Resumo teórico: o sistema de aviamento era baseado no crédito do seringueiro ao patrão do seringal (ou barracão): o trabalhador recebia adiantamentos em bens e alimentos e pagava com a borracha colhida. Caracteriza-se por dependência econômica, impossibilidade de saldar dívidas e condições precárias de vida. Fontes: obras sobre o ciclo da borracha e relatos de seringueiros; o próprio texto literário é exemplar desse quadro.
Justificativa da alternativa A: o trecho descreve rotina de corte, alimentação precária, ida ao defumador para conservar o látex e afirma que a borracha “nunca dava para pagar o débito do Barracão”. Esses detalhes apontam diretamente para o modus vivendi do seringueiro nos seringais acrianos e para o funcionamento do sistema de aviamento — logo, a alternativa A é a correta.
Análise das alternativas incorretas:
B — incorreta: mistura termos. A “colocação” é espaço de exploração do seringueiro, mas a alternativa afirma que a distribuição territorial era marcada pelo espaço da colocação composto pelo Barracão — isso confunde hierarquias e organização: o Barracão era centro do aviamento, não a unidade que distribuía todo o território.
C — incorreta: o trecho não narra conflitos da “pecuarização” do Acre. Trata-se de descrição laboral cotidiana, sem referência a conflito fundiário com pecuaristas.
D — incorreta: menciona Acordos de Washington e o “Bolivian Syndicate” com o Estado Independente do Acre — informação anacrônica/imprecisa para o contexto do texto; o trecho é social e laboral, não sobre tratados internacionais.
E — incorreta: refere-se a proposições do Conselho Nacional do Seringueiro (CNS) — órgão e propostas posteriores/organizacionais não explicitados no texto. O excerto é narrativa/descrição da vida do seringueiro, não exposição normativa do CNS.
Dica de prova: procure na passagem sinais concretos (palavras como “Barracão”, “débito”, “defumador”, “colocação”) que indicam relações de aviamento. Em questões literárias sobre história social, priorize a leitura de elementos materiais e econômicos descritos.
Fontes sugeridas para estudo: obras e estudos sobre o ciclo da borracha e o sistema de aviamento; o próprio texto de Miguel Ferrante (O seringal) é leitura útil para entender o cotidiano do seringueiro.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!





