“Marginalizado legalmente, o escravo nem sempre o é
materialmente, na medida em que pode desempenhar certas
funções na dinâmica econômica urbana. Estas funções o
colocam numa posição de certa independência material,
imposta pelas próprias modalidades de seu exercício.”
MATTOSO, Kátia de Queirós. A cidade de Salvador e seu mercado no
século XIX. São Paulo: Hucitec, 1978.
Das várias modalidades de escravo existentes no Brasil do
século XIX, aquela que se ajusta à analise da historiadora é:
Gabarito comentado
Gabarito correto: D — o escravo de ganho
1. Tema central
A questão trata das modalidades de escravidão urbana no Brasil do século XIX e da capacidade de alguns escravos de obterem autonomia econômica dentro das relações escravistas. É tema importante em concursos porque exige distinguir funções, graus de dependência e mecanismos de produção de renda entre escravos.
2. Resumo teórico
No contexto urbano, havia diferentes situações: o escravo podia ser alugado pelo dono (aluguel), trabalhar na casa do senhor (doméstico) ou exercer ofícios no mercado, buscando clientes e guardando parte do ganho (escravo de ganho). Esses últimos, ao receberem rendas próprias ou pecúlio, ganhavam relativa independência material, podendo poupar e, em alguns casos, comprar a alforria. (Mattoso, K. Q. Mattoso, A cidade de Salvador e seu mercado, 1978)
3. Justificativa da alternativa D
A frase do texto — “...desempenhar certas funções na dinâmica econômica urbana... posição de certa independência material...” — descreve exatamente o escravo de ganho. Esse escravo trabalhava por conta própria em oficinas, feiras ou como artesão/comerciante, mantendo parte dos lucros (pecúlio) e acumulando recursos, o que lhe conferia autonomia relativa e possibilidade de buscar manumissão.
4. Por que as outras alternativas estão erradas
A — Escravo da lavoura: importante na economia exportadora, mas caracterizado por trabalho rural e forte dependência do senhor e do sistema produtivo; não se ajusta ao contexto urbano e à “independência material”.
B — Escravo de aluguel: sua renda beneficiava principalmente o dono (aluguel); embora pudesse render lucro ao proprietário, não significava que o escravo tivesse autonomia ou fosse necessariamente “bem tratado”.
C — Escravo doméstico: mais próximo do senhor e com possibilidade de influência social, mas dependente do lar e sem acesso regular ao mercado para acumulação de renda própria significativa.
E — Escravo público: categoria rara/peculiar (pertencente ao domínio público), sem configuração que assegurasse liberdade de escolha de função ou autonomia econômica como a descrita.
5. Estratégia de interpretação
Procure palavras-chave no enunciado: “dinâmica econômica urbana” + “independência material” indicam atividade remunerada no mercado urbano (escravo de ganho). Compare funções (rural vs. urbano; alugado vs. autônomo) antes de escolher.
Fontes: Kátia de Queirós Mattoso, A cidade de Salvador e seu mercado no século XIX (1978). Para contexto legal e manumissão: Leis do período (Ventre Livre 1871; Lei Áurea 1888).
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