Questão b8629012-10
Prova:IF-MT 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Tipologia Textual, Tipos de Discurso: Direto, Indireto e Indireto Livre

As marcas narrativas presentes no texto são características da preponderância do discurso:

Texto IV: base para a questão.


                          Um homem de consciência


      Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.

      Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.

      Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o desaparecimento visível de sua Itaoca.

      — Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons - agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está acabando...

      João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.

      — É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

      Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...

      Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...

    João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as num burro, montou no seu cavalo magro e partiu.

     — Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?

     — Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.

— Mas, como? Agora que você está delegado?

— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus. E sumiu."

(Monteiro Lobato, CIDADES MORTAS. 12a Edição. São Paulo, Editora Brasiliense, 1965)

A
direto.
B
indireto.
C
indireto livre.
D
expositivo.
E
injuntivo.

Gabarito comentado

M
Matheus BarbosaMonitor do Qconcursos

Tema central da questão: Reconhecimento e interpretação dos tipos de discurso em textos narrativos, habilidade essencial para quem vai prestar vestibular ou concursos em geral.

Análise da alternativa correta (A – discurso direto):

No discurso direto, as falas das personagens aparecem exatamente como são ditas, destacadas por travessão ou aspas, sem interferência do narrador. No texto de Monteiro Lobato, temos exemplos evidentes deste recurso:

— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?

— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.

Note como o narrador se limita a indicar o que foi dito ou a inserir verbos dicendi (“respondeu”), mantendo as falas literais, sempre marcadas por travessão. A norma-padrão dispõe que tal estrutura é característica do discurso direto (cf. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa).

Análise das alternativas incorretas:

B) Indireto: No discurso indireto, o narrador reconta a fala das personagens, geralmente introduzida por “que”. Por exemplo: João explicou que ia embora. Não ocorre isso no texto.

C) Indireto livre: Aqui, os pensamentos ou falas aparecem no fluxo do texto, mesclando-se à voz do narrador e da personagem, sem marcas explícitas (como travessão ou aspas). Não há esse recurso naquele trecho.

D) Expositivo: O discurso expositivo visa explicar conceitos, ideias ou temas, comum em textos científicos ou jornalísticos, não em narrativas literárias com diálogos marcados.

E) Injuntivo: Este tipo é usado para instruir, orientar ou ordenar (por exemplo: “faça isto”). Não se aplica à estrutura nem ao objetivo do texto analisado.

Estratégias para identificar rapidamente:

  • Procure travessões, aspas ou dois-pontos seguidos de fala direta.
  • Observe a ausência de verbos introdutórios com “que”.
  • Lembre-se: se o pensamento da personagem aparece sem marca formal e mesclado à narração, pode ser discurso indireto livre, o que não ocorre aqui.

Resumo normativo: Segundo Celso Cunha & Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), o discurso direto evidencia-se pela reprodução literal da fala da personagem, usando sinais gráficos apropriados.

Portanto, a alternativa correta é A) direto. Identifique sempre a marcação gráfica e a literalidade das falas para não errar em provas!

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