I.
“Em Canudos representa de elemento passivo o jagunço
que corrigindo a loucura mística de Antônio Conselheiro e
dando-lhe umas tinturas das questões políticas e sociais do
momento, criou, tornou plausível e deu objeto ao conteúdo
do delírio, tornando-o capaz de fazer vibrar a nota étnica
dos instintos guerreiros, atávicos, mal extintos ou apenas
sofreados no meio social híbrido dos nossos sertões, de que
o louco como os contagiados são fiéis e legítimas criações.
Ali se achavam de fato, admiravelmente realizadas, todas as
condições para uma constituição epidêmica de loucura."
(Nina Rodrigues, As coletividades anormais. 2006)
II.
Ergueu-se contra a República
O bandido mais cruel
Iludindo um grande povo
Com a doutrina infiel
Seu nome era Antônio
Vicente Mendes Maciel
[...]
Os homens mais perversos
De instinto desordeiro
Desertor, ladrão de cavalo
Criminoso e feiticeiro
Vieram engrossar as tropas
Do fanático Conselheiro
(João Melchíades Ferreira da Silva apud Mark Curran,
História do Brasil em cordel. 1998)
Acerca das leituras que os textos fazem de Canudos, é correto
afirmar que
“Em Canudos representa de elemento passivo o jagunço que corrigindo a loucura mística de Antônio Conselheiro e dando-lhe umas tinturas das questões políticas e sociais do momento, criou, tornou plausível e deu objeto ao conteúdo do delírio, tornando-o capaz de fazer vibrar a nota étnica dos instintos guerreiros, atávicos, mal extintos ou apenas sofreados no meio social híbrido dos nossos sertões, de que o louco como os contagiados são fiéis e legítimas criações. Ali se achavam de fato, admiravelmente realizadas, todas as condições para uma constituição epidêmica de loucura."
(Nina Rodrigues, As coletividades anormais. 2006)
II.
Ergueu-se contra a República
O bandido mais cruel
Iludindo um grande povo
Com a doutrina infiel
Seu nome era Antônio
Vicente Mendes Maciel
[...]
Os homens mais perversos
De instinto desordeiro
Desertor, ladrão de cavalo
Criminoso e feiticeiro
Vieram engrossar as tropas
Do fanático Conselheiro
(João Melchíades Ferreira da Silva apud Mark Curran, História do Brasil em cordel. 1998)
Acerca das leituras que os textos fazem de Canudos, é correto afirmar que
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: leitura historiográfica e discursiva sobre a Guerra de Canudos — como diferentes discursos (científico/antropológico e popular/cordel) interpretaram os sertanejos e Antônio Conselheiro.
Resumo teórico: No início do século XX, discursos médicos/antropológicos (ex.: Nina Rodrigues, Euclides da Cunha) tendiam a patologizar o sertanejo, vendo-o como “atavismo” ou “epidemia de loucura”. Por outro lado, produções populares (cordel) frequentemente criminalizavam o movimento, associando-o a banditismo e desordem. Entender o tom e o vocabulário do texto é chave para identificar a orientação ideológica de cada fonte (Nina Rodrigues, As coletividades anormais; Euclides da Cunha, Os Sertões).
Por que a alternativa B está correta: Texto I emprega termos médicos/antropológicos (“constituição epidêmica de loucura”, “nota étnica”, “instintos guerreiros atávicos”), ou seja, analisa Canudos pela lente da medicina social/antropologia que contrapõe “barbárie” à “civilização”. Texto II (cordel) descreve Antônio Conselheiro e seguidores como “bandido”, “criminoso”, “ladrão de cavalo”, termos típicos de criminalização que aproximam a prática do Arraial às imagens de cangaceirismo/ banditismo. Logo, B sintetiza corretamente essas leituras.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: I não aborda Canudos como reação ao avanço do capitalismo; trata-o como fenômeno “patológico”. II exagera ao afirmar que os rebeldes foram os “principais responsáveis” pela instabilidade da República — o cordel os criminaliza, mas não oferece essa análise política sistêmica.
C — Incorreta: I não reconhece legitimidade dos sertanejos; ao contrário, patologiza-os. II erra ao colocar Conselheiro como articulador ligado aos coronéis — o cordel o demoniza como “bandido” e “fanático”, não como aliado oligárquico.
D — Incorreta: I não condena por contrapor práticas religiosas aos “princípios cristãos” (é leitura antropológica/psiquiátrica); II também não acusa Conselheiro de propor igualdade social/econômica — o cordel o pinta como agitador e criminoso.
E — Incorreta: I não denuncia falta de compreensão científica do Estado; o texto adota justamente um olhar “científico” (médico/antropológico) que patologiza. II também não faz crítica ponderada aos moradores; os acusa de violência, mas em tom de criminalização, não de análise civilizatória.
Dica de prova: focalize palavras-chave (ex.: “epidêmica de loucura”, “bandido”, “ladrão de cavalo”, “fanático”) para identificar o viés do texto — médico/antropológico versus popular/criminalizador. Essa leitura do tom costuma ser a porta de entrada para eliminar alternativas.
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