“Caso tomemos o exemplo do Rio de Janeiro (...), iremos
perceber de imediato que se trata de uma região caracterizada
por forte concentração de riqueza em poucas mãos. Os
círculos dos mais ricos – 14% das pessoas – chegaram a ter
três quartos da riqueza inventariada. (...) Entre fins do século
XVIII e a primeira metade do século XIX, eles chegaram a dominar
95% dos valores transacionados nos empréstimos (...).
Era dentro dessa elite que se situava o pequeno grupo
formado pelos negociantes de grande envergadura, cujas fortunas
foram constituídas por meio do comércio transoceânico
e no comércio colonial de longa distância. (...)
Uma vez acumuladas tais fortunas, verifica-se que parte
desses homens de negócios (ou seus filhos) abandonava o
comércio, convertendo-se em rentistas (pessoas que vivem de
rendas, como, por exemplo, do aluguel de imóveis urbanos) ou
em grandes senhores de terras e de escravos. Curiosamente,
ao fazerem isso, estavam perdendo dinheiro, já que os ganhos
do tráfico atlântico de escravos (19% por viagem) eram superiores
aos lucros da plantation (de 5% a 10% ao ano).
O que havia por trás de um movimento de reconversão
em si mesmo inusitado?"
(João Fragoso et al., A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). 1998)
Esse “movimento de reconversão" pode ser explicado
Era dentro dessa elite que se situava o pequeno grupo formado pelos negociantes de grande envergadura, cujas fortunas foram constituídas por meio do comércio transoceânico e no comércio colonial de longa distância. (...)
Uma vez acumuladas tais fortunas, verifica-se que parte desses homens de negócios (ou seus filhos) abandonava o comércio, convertendo-se em rentistas (pessoas que vivem de rendas, como, por exemplo, do aluguel de imóveis urbanos) ou em grandes senhores de terras e de escravos. Curiosamente, ao fazerem isso, estavam perdendo dinheiro, já que os ganhos do tráfico atlântico de escravos (19% por viagem) eram superiores aos lucros da plantation (de 5% a 10% ao ano).
O que havia por trás de um movimento de reconversão em si mesmo inusitado?"
(João Fragoso et al., A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX). 1998) Esse “movimento de reconversão" pode ser explicado
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: trata-se da reconversão de comerciantes ricos em rentistas e grandes proprietários rurais na sociedade colonial brasileira — um fenômeno menos explicado por lógica estritamente econômica e mais por fatores sociais e políticos: prestígio, distinção social e segurança patrimonial.
Resumo teórico e evidências: como destaca Fragoso et al. (A economia colonial brasileira, 1998), apesar de o tráfico atlântico oferecer lucros elevados (citado no texto: ~19% por viagem) em relação aos rendimentos da plantation (5–10% ao ano), parte da elite optou por abandonar o comércio ativo. Essa escolha expressa um ideal aristocratizante: possuir terras e viver de rendas conferia status social, poder político local e maior visibilidade na hierarquia colonial. Proprietários rurais também buscavam proteção jurídica e reprodução intergeracional do patrimônio — fatores de segurança e prestígio que compensavam (socialmente) a perda de lucro.
Por que a alternativa C é correta: ela combina duas explicações centrais: 1) o ideal aristocratizante (distinção social e aversão ao trabalho comercial) e 2) a busca de garantias patrimoniais (proteção do capital por meio da propriedade territorial e renda). Essas motivações sociais e políticas explicam por que empresários trocavam atividades mais lucrativas por posições de prestígio e segurança.
Análise das alternativas incorretas:
A — fala em impostos extorsivos e em oferta de títulos de nobreza restrita; não há evidência de que tributos tornassem o comércio inviável nem de um sistema formal de títulos que condicionasse riqueza à propriedade rural nesse sentido.
B — invoca forte industrialização/manufatura colonial e queda do ouro como causas; a economia colonial não teve industrialização suficiente para atrair grande parte do capital mercante nesse período.
D — atribui ao ordenamento das Ordenações Filipinas e a restrições ao tráfico desde 1810 a mudança; as Ordenações não explicam esse movimento social e as restrições ao tráfico só se acentuam mais tardiamente por pressões internacionais, não sendo a causa principal descrita.
E — afirma proibição de comerciantes em câmaras municipais e condenação eclesiástica decisiva; comerciantes frequentemente participavam da vida municipal e, embora a Igreja criticasse práticas usurárias, isso não justifica a conversão generalizada em proprietários rurais.
Dica de prova: ao resolver, procure contrapor explicação econômica imediata (lucro) e explicação sociocultural (status, segurança jurídica). Note números do enunciado (lucros) e veja se a alternativa contempla motivos sociais — muitas vezes é aí que está a resposta.
Fontes: João Fragoso et al., A economia colonial brasileira (séculos XVI–XIX), 1998; leituras complementares: estudos sobre elites coloniais e formação social (Caio Prado Jr., em contexto interpretativo).
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