Questão b2bed14b-a6
Prova:FGV 2015, FGV 2015
Disciplina:História
Assunto:História Geral

“Em muitos reinos sudaneses, sobretudo entre os reis e as elites, o islamismo foi bem recebido e conseguiu vários adeptos, tendo chegado à região da savana africana, provavelmente, antes do século XI, trazido pela família árabe-berbere dos Kunta.

      (...) O islamismo possuía alguns preceitos atraentes e aceitáveis pelas concepções religiosas africanas, (...) associava as histórias sagradas às genealogias, acreditava na revelação divina, na existência de um criador e no destino. (...) O escritor árabe Ibn Batuta relatou, no século XIV, que o rei do Mali, numa manhã, comemorou a data islâmica do fim do Ramadã e, à tarde, presenciou um ritual da religião tradicional realizado por trovadores com máscaras de aves."

                   (Regiane Augusto de Mattos, História e cultura afro-brasileira. 2011)

Considerando o trecho e os conhecimentos sobre a história da África, é correto afirmar que

A
a penetração do islamismo nas regiões subsaarianas mostrou-se superficial porque atingiu poucos setores sociais, especialmente aqueles voltados aos negócios comerciais, além de sofrer forte concorrência do cristianismo.
B
a presença do islamismo no continente africano derivou da impossibilidade dos árabes em ocupar regiões na Península Ibérica, o que os levou à invasão de territórios subsaarianos, onde ocorreu violenta imposição religiosa.
C
o desprezo das sociedades africanas pela tradição árabe gerou transações comerciais marcadas pela desconfiança recíproca, desprezo mudado, posteriormente, com o abandono das religiões primitivas da África e com a hegemonia do islamismo.
D
o comércio transaariano foi uma das portas de entrada do islamismo na África, e essa religião, em algumas regiões do continente, ou incorporou-se às religiões tradicionais ou facilitou uma convivência relativamente harmônica.
E
as correntes islâmicas mais moderadas, caso dos sunitas, influenciaram as principais lideranças da África ocidental, possibilitando a formação de novas denominações religiosas, não islâmicas, desligadas das tradições tribais locais.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa D

Tema central: a expansão do islamismo na África subsaariana — vias principais, grupos sociais atingidos e formas de contato com religiões locais (sincretismo e convivência).

Resumo teórico: o islamismo entrou na África subsaariana sobretudo por meio do comércio transaariano e das redes de mercadores e clérigos (séculos VII–XIV). Elites políticas e comerciais adotaram práticas islâmicas para fortalecer laços econômicos e legitimidade, mas em muitos lugares houve sincretismo — coexistência ou incorporação de rituais locais (ex.: realeza do Mali descrevida por Ibn Batuta).

Fontes relevantes: relatos de viajantes (Ibn Batuta, séc. XIV), estudos de Nehemia Levtzion e John Hunwick sobre islamização africana e trabalhos sobre o comércio transaariano.

Justificativa da alternativa D: D sintetiza corretamente evidências históricas: o comércio transaariano foi porta de entrada e o islamismo, em muitos contextos, não suplantou imediatamente as religiões tradicionais, mas adaptou-se ou conviveu com elas — fenômeno ilustrado pelo exemplo do Mali e por práticas sincréticas entre elites e populações locais.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta: reduz a penetração ao comércio e afirma forte concorrência do cristianismo; na África ocidental o principal vetor foi o comércio e o cristianismo significativo estava restrito à Etiópia e zonas costeiras, não concorrendo diretamente.

B — Incorreta: mistura argumentos anacrônicos — a presença islâmica não se explica por “impossibilidade” árabe na Península Ibérica nem por invasão violenta em áreas subsaarianas; predominou difusão pacífica via comércio, casamentos e missionários.

C — Incorreta: supõe desprezo mútuo e abandono geral das religiões tradicionais; na prática houve adaptação mútua e contínua presença das crenças locais.

E — Incorreta: confunde influência sunita com criação de “novas denominações não islâmicas”; o islamismo sunita consolidou práticas islâmicas e instituições (madraṣas, tribunais), não originou religiões não islâmicas.

Dica de prova: busque palavras-chave que indiquem processos (comércio, sincretismo, elites) e desconfie de afirmações absolutas como “sempre”, “impossibilidade” ou “violenta imposição”.

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