“Não descreverei catástrofes pessoais de alguns dias infelizes, mas a destruição de toda a humanidade, pois é com horror que meu espírito segue o quadro das ruínas da nossa época. Há vinte e poucos anos que, entre Constantinopla e os Alpes Julianos, o sangue romano vem sendo diariamente vertido. A Cítia, Trácia, Macedônia, Tessália, Dardânia, Dácia, Épiro, Dalmácia, Panônia são devastadas pelos godos, sármatas, quedos, alanos (...); deportam e pilham tudo.

      Quantas senhoras, quantas virgens consagradas a Deus, quantos homens livres e nobres ficaram na mão dessas bestas! Os bispos são capturados, os padres assassinados, todo tipo de religioso perseguido; as igrejas são demolidas, os cavalos pastam junto aos antigos altares de Cristo (…)."

(São Jerônimo, Cartas apud Pedro Paulo Abreu Funari, Roma: vida pública e vida privada. 2000)

O excerto, de 396, remete a um contexto da história romana marcado pela

Resposta: Alternativa A

Tema central: trata-se da Baixa Antiguidade e da transição do mundo romano para os reinos sucessores — marcada por invasões de povos chamados “bárbaros”, desorganização administrativa e a consolidação do cristianismo como fator cultural e institucional.

Resumo teórico (essencial): a partir do séc. IV a frente ocidental do Império Romano sofre pressões militares (godos, alanos, vândalos, hunos etc.), crises fiscais e fragmentação do poder. Ao mesmo tempo, o cristianismo, agora religião oficial (Edito de Tessalônica, 380), incorpora instituições romanas e ocupa espaços públicos antes civis; a Igreja passa a exercer papéis sociais e administrativos onde o Estado enfraquece (fonte: São Jerônimo, cartas, 396; análise moderna: P. P. Abreu Funari, Roma: vida pública e vida privada, 2000; Peter Heather, The Fall of the Roman Empire).

Por que a alternativa A está correta: o excerto descreve invasões e pilhagens ("godos, sármatas, alanos..."), destruição de províncias e igrejas e perseguição por parte dos invasores — quadro típico da desorganização política e militar romana. Além disso, o narrador é um autor cristão que denuncia a profanação de altares, evidenciando a presença e importância do cristianismo na sociedade romana. Logo, "combinação da cultura romana com o cristianismo" + "desorganização do Estado" frente às invasões sintetiza corretamente o contexto.

Análise das alternativas incorretas:

B — incorreta: não há, no período imediato descrito, abandono súbito das relações mediterrâneas em favor do norte europeu; o comércio mediterrâneo declinou gradualmente, mas não houve reorientação radical imediata.

C — incorreta: não houve expulsão generalizada dos invasores nem restauração da República Romana; os povos “bárbaros” muitas vezes se assentaram como federados e criaram reinos sucedâneos.

D — incorreta: a Igreja, longe de sofrer crescente restrição estatal nas fronteiras, assumiu maior protagonismo em muitas regiões; o enunciado descreve destruição pelas invasões, não repressão romana aos cristãos.

E — incorreta: inexistiu uma retomada generalizada do paganismo seguida de perseguições aos cristãos nesse momento; ao contrário, o cristianismo era a religião predominante do Império desde o final do séc. IV.

Dica de interpretação para provas: ao ler fontes, foque em palavras-chave (nomes de povos, “igrejas”, “destruição”, “prédios públicos”) para identificar contexto (invasões vs. políticas internas). Desconfie de alternativas que apresentam processos imediatos e absolutos (ex.: “expulsão”, “retomada total”).

Fontes citadas: São Jerônimo (Carta, 396); Pedro Paulo Abreu Funari, Roma: vida pública e vida privada (2000); sínteses modernas sobre a queda do Império (ex.: Peter Heather).

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