Questão b1b58fed-ce
Prova:IF Sul - MG 2018
Disciplina:História
Assunto:Medievalidade Europeia, História Geral

Observe o texto abaixo:


A vida de aprendiz era dura. [...] Dormiam num quarto sujo e gelado, levantavam-se antes do amanhecer, saíam para executar tarefas o dia inteiro, tentando furtar-se aos insultos do patrão (mestre) e nada recebiam para comer, a não ser sobras. Achavam a comida especificamente mortificante. Em vez de jantar à mesa do patrão, tinham de comer os restos de seu prato na cozinha. Pior ainda, o cozinheiro vendia, secretamente, as sobras, e dava aos rapazes comida de gato – velhos pedaços de carne podre que não conseguiam tragar e, então, passavam para os gatos, que os recusavam”.

DARNTON, R. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa”. Rio de Janeiro, 1986. p. 103-104.


Desde o final da Idade Média, o artesanato passou a conviver com outro modelo de produção, o sistema doméstico. Neste sistema surge a figura do intermediário entre o artesão e o mercado. Considerando a leitura do texto de Darnton e seus conhecimentos sobre o processo de transição do trabalho doméstico para a fábrica, é CORRETO afirmar que:

A
Antes do advento das fábricas e das máquinas os artesãos já possuíam intermediários que transportavam a matéria-prima e comercializavam os produtos manufaturados.
B
A atividade artesanal permitiu, ao longo de seu desenvolvimento, a construção de relações afetuosas e fraternas, inexistindo, assim, hierarquia nas relações de trabalho.
C
O ritmo do trabalho no artesanato era regular, os artesãos possuíam jornadas de trabalho uniformes e com descanso semanal assegurado pelos mestres.
D
A hierarquia do trabalho no artesanato era rigorosa e observa-se, com a transição para a manufatura, o declínio da produção familiar.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: D

Tema central: transição do sistema artesanal e doméstico para a manufatura/fábrica — mudanças nas relações de trabalho (hierarquia, jornadas, papel da família e surgimento de intermediários).

Resumo teórico (claro e progressivo): desde o final da Idade Média o ofício artesanal (organizado em corporações/mestres, companheiros e aprendizes) conviveu com o sistema doméstico ou putting‑out, em que mercadores‑intermediários forneciam matéria‑prima e recolhiam produtos feitos em casas. Com a manufatura (séculos XVII–XVIII) houve centralização da produção, maior disciplina no trabalho e declínio relativo da produção familiar, processo que culmina, na Revolução Industrial, com a fábrica e a proletarização (DARNTON; THOMPSON; BRAUDEL).

Justificativa da alternativa D: a prática artesanal era marcada por hierarquia rígida (mestre, oficiais/companheiros, aprendizes) e disciplina do ofício — o texto de Darnton ilustra o tratamento degradante a aprendizes. Com a transição para a manufatura houve concentração da produção em estabelecimentos e redução da centralidade da família como unidade produtiva: a manufatura impôs ritmos e controles coletivos, deslocando parte da produção doméstica para os ateliers e mais tarde para as fábricas (DARNTON; THOMPSON, The Making of the English Working Class, 1963). Portanto, D sintetiza corretamente esses vetores.

Análise das alternativas incorretas:

A (errada) — afirma que, antes das máquinas, artesãos já tinham intermediários. É imprecisa: intermediários tornaram‑se centrais no sistema doméstico/mercantil (putting‑out), mas o regime artesanal tradicional (corporações urbanas) nem sempre dependia de mercadores‑intermediários. A alternativa generaliza e confunde duas formas distintas.

B (errada) — romantiza relações de trabalho. As fontes mostram hierarquias e conflitos (sanções, disciplina, diferenças sociais entre mestre e aprendiz). Não havia laços “afetuosos e fraternos” que anulassem hierarquia.

C (errada) — diz que o ritmo era regular e havia jornada uniformizada com descanso semanal. Na prática, jornadas eram longas, irregulares conforme demanda e controladas pelos mestres; normas e descansos variavam e não garantiam uniformidade ou proteção comparável à legislação trabalhista moderna.

Estratégia de prova: identifique termos absolutos (sempre, inexistindo, uniforme) e compare com a tipologia histórica: corporações artesanais × sistema doméstico × manufatura/fábrica. Use o enunciado (sobre aprendizes) para relacionar hierarquia e disciplina.

Fontes recomendadas: Roger Darnton, O grande massacre de gatos (1986); E. P. Thompson, The Making of the English Working Class (1963); Fernand Braudel, A dinâmica do capitalismo.

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