Observe o texto abaixo:
“A vida de aprendiz era dura. [...] Dormiam num quarto sujo e gelado, levantavam-se antes do amanhecer,
saíam para executar tarefas o dia inteiro, tentando furtar-se aos insultos do patrão (mestre) e nada recebiam
para comer, a não ser sobras. Achavam a comida especificamente mortificante. Em vez de jantar à mesa do
patrão, tinham de comer os restos de seu prato na cozinha. Pior ainda, o cozinheiro vendia, secretamente, as
sobras, e dava aos rapazes comida de gato – velhos pedaços de carne podre que não conseguiam tragar e,
então, passavam para os gatos, que os recusavam”.
DARNTON, R. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa”. Rio de Janeiro, 1986. p. 103-104.
Desde o final da Idade Média, o artesanato passou a conviver com outro modelo de produção, o sistema
doméstico. Neste sistema surge a figura do intermediário entre o artesão e o mercado. Considerando a
leitura do texto de Darnton e seus conhecimentos sobre o processo de transição do trabalho doméstico
para a fábrica, é CORRETO afirmar que:
Observe o texto abaixo:
“A vida de aprendiz era dura. [...] Dormiam num quarto sujo e gelado, levantavam-se antes do amanhecer, saíam para executar tarefas o dia inteiro, tentando furtar-se aos insultos do patrão (mestre) e nada recebiam para comer, a não ser sobras. Achavam a comida especificamente mortificante. Em vez de jantar à mesa do patrão, tinham de comer os restos de seu prato na cozinha. Pior ainda, o cozinheiro vendia, secretamente, as sobras, e dava aos rapazes comida de gato – velhos pedaços de carne podre que não conseguiam tragar e, então, passavam para os gatos, que os recusavam”.
DARNTON, R. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa”. Rio de Janeiro, 1986. p. 103-104.
Desde o final da Idade Média, o artesanato passou a conviver com outro modelo de produção, o sistema doméstico. Neste sistema surge a figura do intermediário entre o artesão e o mercado. Considerando a leitura do texto de Darnton e seus conhecimentos sobre o processo de transição do trabalho doméstico para a fábrica, é CORRETO afirmar que:
Gabarito comentado
Alternativa correta: D
Tema central: transição do sistema artesanal e doméstico para a manufatura/fábrica — mudanças nas relações de trabalho (hierarquia, jornadas, papel da família e surgimento de intermediários).
Resumo teórico (claro e progressivo): desde o final da Idade Média o ofício artesanal (organizado em corporações/mestres, companheiros e aprendizes) conviveu com o sistema doméstico ou putting‑out, em que mercadores‑intermediários forneciam matéria‑prima e recolhiam produtos feitos em casas. Com a manufatura (séculos XVII–XVIII) houve centralização da produção, maior disciplina no trabalho e declínio relativo da produção familiar, processo que culmina, na Revolução Industrial, com a fábrica e a proletarização (DARNTON; THOMPSON; BRAUDEL).
Justificativa da alternativa D: a prática artesanal era marcada por hierarquia rígida (mestre, oficiais/companheiros, aprendizes) e disciplina do ofício — o texto de Darnton ilustra o tratamento degradante a aprendizes. Com a transição para a manufatura houve concentração da produção em estabelecimentos e redução da centralidade da família como unidade produtiva: a manufatura impôs ritmos e controles coletivos, deslocando parte da produção doméstica para os ateliers e mais tarde para as fábricas (DARNTON; THOMPSON, The Making of the English Working Class, 1963). Portanto, D sintetiza corretamente esses vetores.
Análise das alternativas incorretas:
A (errada) — afirma que, antes das máquinas, artesãos já tinham intermediários. É imprecisa: intermediários tornaram‑se centrais no sistema doméstico/mercantil (putting‑out), mas o regime artesanal tradicional (corporações urbanas) nem sempre dependia de mercadores‑intermediários. A alternativa generaliza e confunde duas formas distintas.
B (errada) — romantiza relações de trabalho. As fontes mostram hierarquias e conflitos (sanções, disciplina, diferenças sociais entre mestre e aprendiz). Não havia laços “afetuosos e fraternos” que anulassem hierarquia.
C (errada) — diz que o ritmo era regular e havia jornada uniformizada com descanso semanal. Na prática, jornadas eram longas, irregulares conforme demanda e controladas pelos mestres; normas e descansos variavam e não garantiam uniformidade ou proteção comparável à legislação trabalhista moderna.
Estratégia de prova: identifique termos absolutos (sempre, inexistindo, uniforme) e compare com a tipologia histórica: corporações artesanais × sistema doméstico × manufatura/fábrica. Use o enunciado (sobre aprendizes) para relacionar hierarquia e disciplina.
Fontes recomendadas: Roger Darnton, O grande massacre de gatos (1986); E. P. Thompson, The Making of the English Working Class (1963); Fernand Braudel, A dinâmica do capitalismo.
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