“Os portuguezes, aventureiros e conquistadores, embriagados pelos triumphos obtidos em terras de infiéis,espalharão-se nas differentes capitanias do Brasil, ao norte e ao sul, internarão-se pelos sertões em todos os rumos,e constituirão famílias, que ficarão sem vínculos, separadas por immensas distancias, segregadas da comunhão.Em logar de levarmos a civilização às solidões do Novo-Mundo, esquecemo-la; e adquirimos o egoísmo, aimprevidência, a insociabilidade do selvagem.”Relatório apresentado pelo Dr. Aristides de Souza Spinola, Presidente da Província, à Assembleia Legislativa Provincial de Goyaz, no dia 1º de junho de 1879.In: Memórias Goianas 12. Goiânia: Editora da UCG, 1999. p. 262.
O documento histórico citado faz parte do relatório anual que o presidente da província de Goiás apresentou aos deputados goianos. Nesse texto, a utilização, no 2º parágrafo, dos verbos na 1º pessoa do plural, demonstra que o presidente Aristides Spinola estava
Gabarito comentado
Resposta: Alternativa C
Tema central: interpretação de um documento político do século XIX e identificação da posição ideológica do autor. Trata-se de reconhecer que o uso da 1ª pessoa do plural indica identificação coletiva — o relator fala em nome de um projeto político: o da colonização e ocupação do território.
Resumo teórico rápido: no Brasil imperial e pós-colonial, relatórios provinciais eram instrumentos de avaliação e defesa de políticas públicas. Quando um dirigente usa “nós”, ele não descreve apenas fatos: posiciona-se, defendendo (ou criticando) práticas sociais. Para entender isso, é útil o quadro teórico sobre colonização interna e representação da “missão civilizatória” (ver Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Boris Fausto, História do Brasil).
Justificativa da alternativa correta (C): o texto condena a dispersão dos portugueses nas capitanias e nos sertões, mostrando preocupação com a ocupação e com os vínculos sociais — uma leitura típica de quem está vinculado ao projeto colonizador, isto é, preocupado com a ocupação efetiva do território por súditos/colonos. O “nós” é coletivo e identitário: o presidente se coloca do lado do projeto de ocupação portuguesa do Brasil, defendendo a necessidade de coerência e laços no processo colonizador (fonte primária: Relatório de Aristides de S. Spínola, 1879).
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta: trata de conquistas militares contra muçulmanos na África, assunto e espaço geográfico distintos do relatório provincial sobre o Brasil.
B — Incorreta: o texto não faz análise marxista/anticapitalista da exploração cultural indígena; critica comportamento dos portugueses e a perda de “civilização” por dispersão, sem foco na exploração capitalista.
D — Incorreta: embora haja referência a famílias “sem vínculos”, o sentido é social e territorial (isolamento e ruptura de laços com a comunidade/metrópole), não uma queixa sobre homens que vieram sem esposas.
Dica de resolução: sempre identifique o sujeito que fala (1ª pessoa do plural) e pergunte: em nome de quem esse “nós” atua? Contextualize historicamente o documento (autor, data, função) para inferir a ideologia por trás do texto.
Fontes sugeridas: Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil; Boris Fausto, História do Brasil; Relatório do Presidente da Província de Goyaz, Aristides de S. Spínola (1879).
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