Questão acb1f5fd-57
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Nem guerras, nem revoltas. Os incêndios eram o mais frequente tormento da vida urbana no Regnum Italicum. Entre 880 e 1080, as cidades estiveram constantemente entregues ao apetite das chamas. Acerta altura, a documentação parece vencer pela insistência do vocabulário, levando até o leitor mais crítico a cogitar que os medievais tinham razão ao tratar aqueles acontecimentos como castigos que antecediam o julgamento final. Como um quinto cavaleiro apocalíptico, o incêndio agia ao feitio da peste ou da fome: vagando mundo afora, retornava de tempos em tempos e expurgava justos e pecadores num tormento derradeiro, como insistiam os textos do século X. O impacto acarretado sobre as relações sociais era imediato e prolongava-se para além da destruição material. As medidas proclamadas pelas autoridades faziam mais do que reparar os danos e reconstruir a paisagem: elas convertiam a devastação em uma ocasião para alterar e expandir não só a topografia urbana, mas as práticas sociais até então vigentes.
RUST, L. D. Uma calamidade insaciável. Rev. Bras. Hist,
n. 72, maio-ago. 2016 (adaptado).
De acordo com o texto, a catástrofe descrita impactava as sociedades medievais por proporcionar a
Nem guerras, nem revoltas. Os incêndios eram o mais frequente tormento da vida urbana no Regnum Italicum. Entre 880 e 1080, as cidades estiveram constantemente entregues ao apetite das chamas. Acerta altura, a documentação parece vencer pela insistência do vocabulário, levando até o leitor mais crítico a cogitar que os medievais tinham razão ao tratar aqueles acontecimentos como castigos que antecediam o julgamento final. Como um quinto cavaleiro apocalíptico, o incêndio agia ao feitio da peste ou da fome: vagando mundo afora, retornava de tempos em tempos e expurgava justos e pecadores num tormento derradeiro, como insistiam os textos do século X. O impacto acarretado sobre as relações sociais era imediato e prolongava-se para além da destruição material. As medidas proclamadas pelas autoridades faziam mais do que reparar os danos e reconstruir a paisagem: elas convertiam a devastação em uma ocasião para alterar e expandir não só a topografia urbana, mas as práticas sociais até então vigentes.
RUST, L. D. Uma calamidade insaciável. Rev. Bras. Hist,
n. 72, maio-ago. 2016 (adaptado).
De acordo com o texto, a catástrofe descrita impactava as sociedades medievais por proporcionar a
A
correção dos métodos preventivos e das regras sanitárias.
B
revelação do descaso público e das degradações ambientais.
C
transformação do imaginário popular e das crenças religiosas.
D
remodelação dos sistemas políticos e das administrações locais.
E
reconfiguração dos espaços ocupados e das dinâmicas comunitárias.
Gabarito comentado
Eulália FerreiraEx-Coordenadora de História do Colégio Pedro II (RJ), Mestra em Relações Internacionais (PUC-Rio) e Profª com o título "Notório Saber" pelo Colégio Pedro II (RJ)
Os castelos e catedrais estavam localizados em áreas centrais e de localização privilegiada para a defesa da cidade. Entretanto, as cidades medievais também tinham muralhas construídas ao seu redor pelas mesmas questões de defesa. As construções eram feitas em madeira. O fogo era uma espécie de arma na Idade Média, mas também era utilizado para a elaboração das refeições e para a iluminação das casas.
A alusão documental ao julgamento final demonstrava a dimensão da destruição do fogo nestas cidades. O autor do texto , Leandro Rust, ressaltou a importância de a historiografia observar os incêndios que devastaram os espaços urbanos do Regnum Italicum entre 880 e 1080. O objetivo é não naturalizar o fogo sempre como um acidente. Leandro trouxe em seu artigo as referências de registros escritos inferindo na ação social e multidimensional dos incêndios.
A análise e a resposta da pergunta demandam conhecimentos gerais sobre a Idade Média europeia . No entanto, o texto colocado na entrada da questão fornece os subsídios necessários à resposta. A questão é , acima de tudo, de análise de texto.
Uma das alternativas aponta os efeitos do fogo nas cidades medievais.
A) INCORRETA – Esta afirmativa está incorreta pois não havia descrição acerca de métodos preventivos dos incêndios. Além disso, os incêndios relacionados no artigo não se referiram a utilização do fogo como regra sanitária para acabar com a peste.
B) INCORRETA- Esta afirmativa está incorreta. O artigo demonstrou que os incêndios vão para além das eclosões acidentais e fatalidades de degradação ambiental. Eles registram o rumo da governança e das disputas de poder no Reino Itálico neste período.
C) INCORRETA – Esta afirmativa está incorreta já que os incêndios corroboravam com as crenças religiosas e com o imaginário popular. Dessa forma, os incêndios reafirmavam a ideia da culpa e do julgamento final com a punição dos pecados dos habitantes daquele lugar.
D) INCORRETA – As contendas de disputa de poder aconteceram neste período para a manutenção do status quo. Houve um enfraquecimento do poder imperial, entretanto com a manutenção do poder feudal. Com a posterior retomada de este poder imperial, por Hugo de Provença em 926.
E) CORRETA – Esta afirmativa está correta. A cada incêndio que ocorria precisavam remodelar os espaços ocupados. A redistribuição dos indivíduos alterava a dinâmica da comunidade na qual estavam inseridos previamente. Por este motivo, o autor do artigo do suporte da questão acredita no caráter multidimensional dos incêndios para além de meros acidentes.
Gabarito do Professor: Letra E.