Questão a3e5b079-12
Prova:USP 2011
Disciplina:História
Assunto:História Geral, Expansão Comercial a Marítima: a busca de novos mundos

Deve-se notar que a ênfase dada à faceta cruzadística da expansão portuguesa não implica, de modo algum, que os interesses comerciais estivessem dela ausentes – como tampouco o haviam estado das cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e financiadas pela burguesia das repúblicas marítimas da Itália. Tão mesclados andavam os desejos de dilatar o território cristão com as aspirações por lucro mercantil que, na sua oração de obediência ao pontífice romano, D. João II não hesitava em mencionar entre os serviços prestados por Portugal à cristandade o trato do ouro da Mina, “comércio tão santo, tão seguro e tão ativo” que o nome do Salvador, “nunca antes nem de ouvir dizer conhecido”, ressoava agora nas plagas africanas…
Luiz Felipe Thomaz, “D. Manuel, a Índia e o Brasil”. Revista de História (USP), 161, 2º Semestre de 2009, p.16-17. Adaptado.

Com base na afirmação do autor, pode-se dizer que a expansão portuguesa dos séculos XV e XVI foi um empreendimento

A
puramente religioso, bem diferente das cruzadas dos séculos anteriores, já que essas eram, na realidade, grandes empresas comerciais financiadas pela burguesia italiana.
B
ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era comum, à época, a concepção de que a expansão da cristandade servia à expansão econômica e vice- versa.
C
por meio do qual os desejos por expansão territorial portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista de novos mercados para a economia europeia mostrar- se-iam incompatíveis.
D
militar, assim como as cruzadas dos séculos anteriores, e no qual objetivos econômicos e religiosos surgiriam como complemento apenas ocasional.
E
que visava, exclusivamente, lucrar com o comércio intercontinental, a despeito de, oficialmente, autoridades políticas e religiosas afirmarem que seu único objetivo era a expansão da fé cristã.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Resposta correta: B

Tema central: a questão avalia a motivação da expansão marítima portuguesa (séc. XV–XVI) — se foi religiosa, comercial ou uma combinação de ambas. Entender o contexto político, econômico e religioso da época é essencial para escolher a alternativa adequada.

Resumo teórico: a expansão portuguesa foi um empreendimento multifacetado. Havia motivação religiosa (cristianização, apoio papal, mentalidade cruzadista) e econômica (busca de rotas, controle de comércio de especiarias, ouro e escravos). Autores como Charles R. Boxer (The Portuguese Seaborne Empire) e Diffie & Winius (Foundations of the Portuguese Empire) destacam essa interação entre fé, interesses dinásticos e comércio. O texto-base reforça essa mescla ao citar D. João II que apresenta o comércio do ouro como serviço à cristandade — exemplo claro da sobreposição de objetivos.

Por que a alternativa B está correta: o enunciado afirma explicitamente que os desejos religiosos e as aspirações mercantis andavam “tão mesclados”, ilustrado pela declaração régia que trata o comércio do ouro como serviço cristão. Logo, a expansão foi ao mesmo tempo religiosa e comercial — formulação que a alternativa B expressa corretamente.

Análise das incorretas:

A: incorreta — apresenta caráter puramente religioso e contrapõe equivocadamente as cruzadas anteriores como “apenas” comerciais. A historiografia mostra que ambas as dimensões coexistiram nas duas situações.

C: incorreta — afirma incompatibilidade entre objetivos; na prática, eram compatíveis e articulavam-se, como mostra o próprio trecho citado.

D: incorreta — reduz o empreendimento a um caráter militar com interesses econômicos apenas ocasionais; o comércio teve papel central e contínuo.

E: incorreta — sustenta exclusividade econômica e nega a real justificação religiosa oficial e prática; exagera a separação entre discurso oficial e prática.

Estratégias para resolver questões assim:

- Procure palavras-chave no enunciado (aqui: “mesclados”, “comércio tão santo…”).
- Desconfie de alternativas absolutas (“puramente”, “exclusivamente”, “apenas”); raramente são corretas em temas históricos complexos.
- Relacione enunciado com conhecimentos historiográficos básicos (autores e obras sobre o tema ajudam a confirmar a leitura).

Fontes sugeridas: Charles R. Boxer, The Portuguese Seaborne Empire; Diffie & Winius, Foundations of the Portuguese Empire; texto citado: Luiz Felipe Thomaz (Revista de História, USP).

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